(Ponto de Vista de Serena)Meu rosto estava encharcado, mas as lágrimas não paravam. Matt estava sentado à minha frente, olhando fixamente para o vazio, como se sua mente estivesse em um lugar distante.— Ela não queria um funeral. — Disse ele em voz baixa. — Foi escolha dela. Só uma cremação... Algo simples. — Engoliu em seco, ainda evitando meu olhar. — Disse que era melhor assim… Menos complicações.Era difícil imaginar não ter um adeus formal, algo para honrar a Sra. DuPont.— Você tem certeza disso, Matt?— Sim. Ela me fez prometer. — Respondeu ele, soltando um suspiro fraco. — Além disso... Todos os parentes e amigos dela ainda estão na França. Não faria sentido trazê-los para cá, e... Ela não queria que fizessem a viagem.— E... O que vamos fazer a seguir? — Perguntei.— Não tenho certeza. Provavelmente só vou até o crematório, assinar os papéis e... Esperar.Eu não queria pressioná-lo, mas parecia errado deixar tudo acabar assim.— Matt... — Falei devagar. — Você tem certeza de
(Ponto de Vista de Bill)Naquela noite, o sono simplesmente não vinha. Serena estava com um cara que parecia ter saído direto de um ringue de boxe - ou, quem sabe, de um anúncio de revista. Ombros largos, cintura estreita, braços que pareciam moldados para esmagar aço. E ainda por cima, mais jovem - pelo menos uns cinco anos, talvez até dez.Me virei, socando o travesseiro, tentando me ajeitar… Mas não ajudou. Minha mente insistia em voltar para a forma como ela o olhava… Ela parecia relaxada e à vontade.Eu tentava me convencer de que ele podia ser só um amigo. Talvez eu estivesse exagerando... Vendo coisa onde não havia.Mas havia algo na maneira como ele olhava para ela que fazia o sangue ferver nas minhas veias.Enterrei o rosto no travesseiro, como se isso bastasse para calar os pensamentos que me perseguiam. Mas eu sabia - o sono não viria. Eu ficaria ali, desperto, até o amanhecer.Esse, afinal, era o preço que eu tinha que pagar por todas as decisões idiotas que tomei ao longo
(Ponto de Vista de Serena)Sempre imaginei que uma arma fosse mais leve, mas aquela tinha um peso inesperado, sendo firme e sólida em minhas mãos. Logo, lancei um olhar para Matt, que estava próximo, atento a cada movimento meu.O estande de tiro ressoava com estalos e estampidos distantes, e mesmo sabendo que estávamos em um lugar seguro, um formigamento nervoso percorreu minha espinha.— Vamos começar pelo básico. — Disse ele, dando um passo mais perto. Sua mão se apoiou sobre a minha, ajustando meu aperto. — Segure firme. Viu aquele alvo?Assenti, estreitando os olhos na direção do alvo de papel ao fundo, o centro, desafiador, me encarando. Não queria me envergonhar na frente dele, mas minhas mãos estavam desajeitadas e tensas. Os dedos de Matt pressionaram os meus, ajustando minha pegada, estabilizando-me. O toque dele parecia... Ancorante. Ele exalava um perfume suave de colônia e couro, como se tivesse saído de um elenco de filme. E a forma como ele se inclinava, com o braço roça
(Ponto de Vista de Serena)— O que aconteceu com você, Matt?A pergunta saiu antes que eu pudesse suavizá-la. Ainda estava tensa com a forma como ele disparava, tiro após tiro, atingindo o alvo com uma energia carregada de raiva que parecia mais do que um simples desabafo. Ele sempre foi calmo, sendo até um pouco arrogante às vezes. No entanto, naquele momento… Aquilo era algo diferente, algo mais sombrio.Ele me olhou, com a expressão saindo da defensiva para algo mais culpado.— Não é o que você está pensando. — Disse ele, emitindo uma voz baixa. — E me desculpe. Sério. Não era minha intenção que isso saísse de controle.Cruzei os braços, arqueando a sobrancelha.— Então o que seria? Porque eu te disse desde o começo que não queria que isso fosse uma desculpa para você apenas... Descarregar toda sua raiva.Parei, observando seu rosto, buscando alguma pista.— Você não está aqui atirando só para aliviar a dor pela sua mãe, está?Ele hesitou, parecendo querer negar, mas acabou balançan
(Ponto de Vista de Bill)O dia parecia se arrastar em uma sequência interminável de reuniões e apresentações, mas não era o trabalho que ocupava minha mente.Eu estava tentando me concentrar na mais recente apresentação para o cliente sobre a suíte de análises preditivas da Pinnacle AI, ao mesmo tempo em que ouvia as perguntas com atenção parcial e, mentalmente, riscava itens da lista de tarefas do dia. Os projetos estavam indo bem - estavam consumindo muitas horas, claro, mas estávamos no caminho certo. O prazo de lançamento estava se aproximando rápido, e cada detalhe contava. Os investidores estavam entusiasmados, os clientes engajados, e a pressão só aumentava. Era exatamente onde eu me sentia no meu melhor. Mas, mesmo enquanto finalizava as notas da reunião, sabia que havia outro lugar onde eu precisava estar.Assim que terminei, peguei minhas coisas e saí. Não perdi tempo, ignorei uma pilha de e-mails não abertos e dispensei rapidamente uma pergunta de outro membro da equipe com
(Ponto de Vista de Bill)— Você deveria ter me contado. — Consegui dizer, com a frustração estampada na voz. — Eu teria feito aquela pessoa pagar por ter encostado um dedo em você.Serena desviou o olhar, mostrando o maxilar contraído.— Não importa mais, Bill.Mas isso importava sim! Ela quase foi violada, e ainda assim, estava ali, agindo como se fosse algo insignificante, como se não merecesse nenhuma reação. Meu peito apertou só de pensar nisso, mas forcei-me a ficar calmo. De braços cruzados, ela mantinha os olhos fixos em um ponto invisível no chão, como se qualquer coisa fosse melhor do que encarar a mim.— Por que você se importa, Bill? — Ela perguntou, mal levantando os olhos. — Não estamos mais juntos. Não é como se você fosse meu marido ou algo assim... Você é só meu ex.As palavras dela me atingiram como um soco no estômago, algo que eu não esperava. 'Só meu ex.' Ela dizia isso de forma tão fria, como se eu fosse apenas um capítulo antigo do qual já se livrou…Engoli em sec
(Ponto de Vista de Bill)— Adam Pritchard. Esse era o nome dele.James me entregou a foto, e bastou um único olhar para aquele rosto para que todas as lembranças voltassem com força total. Era ele, o cara que teve a audácia de acompanhar Serena no lançamento da empresa dela, exibindo aquele sorriso arrogante como se tivesse algum direito de estar ao lado dela. Aquele maldito idiota.— O que você vai fazer agora? — James perguntou, me observando de perto. Ele sabia que eu não deixaria isso passar em branco.Olhei novamente para a foto, sentindo uma raiva crescente ferver sob minha pele.— Vou falar com ele. — Respondi, abaixando o tom de voz. — De homem para homem.-Encontrá-lo foi fácil. Adam era o tipo de cara que estava sempre disponível, especialmente quando acreditava que poderia lucrar com isso. Marquei uma reunião com seu agente, sem levantar suspeitas. No dia marcado, cheguei cedo e fiquei esperando, andando impaciente de um lado para o outro enquanto repassava mentalmente tudo
(Ponto de Vista de Serena)Ester segurou o colar, com seus olhos brilhando de fascínio enquanto observava atentamente os detalhes.— Está incrível, Serena. — Comentou ela, virando a peça nas mãos. — O design, as cores... Está tudo exatamente como eu esperava.Ouvir esse tipo de elogio de Ester Paige, indicada ao Oscar, parecia surreal. Ao meu lado, Stevie sorriu, com os olhos tão arregalados quanto os meus provavelmente estavam.Passamos semanas imersas nesse design, dedicando horas no desenho e nos ajustes, em busca de algo único, ousado, mas ainda assim atemporal. E agora, ao vê-la segurando o colar, sabendo que seria ela a brilhar com ele no tapete vermelho do Oscar, eu sabia que aquele era um marco na minha carreira.Ester entregou o colar a Milo, que estava ao seu lado. Ele estava impecável como sempre, com os olhos atentos à peça. Observou-a com seu habitual semblante impassível, e por um momento, o silêncio dominou a sala. Mas então, ele levantou os olhos e, para minha surpresa,