Capitulo 5

A luz do sol que entra pela janela ofusca minha visão, não sei que horas são, não está cedo. Continuo deitada sem coragem de sair da cama. Hoje fazem quinze dias que passei a noite com aquele estranho, não houve um só dia que eu não me lembra-se dele. Estou confusa, atordoada, mas em momento nenhum senti culpa ou remorso pelo que fiz. Uma batida na porta do quarto me tira de meus pensamentos.

— Dona Nina, seu marido acabou de chegar — Diz Carmem ao lado de fora . Saio da cama desanimada, havia me esquecido que Enrico retornava hoje, já que ele não ligou se quer uma vez para dar notícias. Sinto meu estômago se revirar, uma sensação de incapacidade me toma. Agora que ele voltou acabou o pouco de liberdade que experimentei esses dias. Sou a última a chegar na sala, Laura está no sofá ao lado de Enrico eles conversam sobre a viagem, a pele dele está com uma cor dourada, é visível que ele pegou muito sol durante seu tempo fora.

— Nina… Amor senti saudades — Enrico se levanta e caminha até mim. Ele me envolve em seus braços em um abraço frouxo, um cheiro de perfume de mulher está impregnado em seu corpo. Sinto náuseas não sei se por causa do cheiro ou de seu abraço.

— Como foi de viagem? — Pergunto me afastando.

— Cansativo, muitas reuniões, mal saí do escritório — Mente. Com a pele bronzeada daquela forma ele ainda tem a audácia de mentir. Laura me dá um olhar compreensivo, ela sabe tão bem quanto eu que ele está mentindo.

— Vou tomar um banho e descansar — Ele passa por mim e beija minha testa, sinto uma enorme vontade de limpar o local só não faço por Laura está ao meu lado. Ainda não disse a ela que vou me separar de Enrico, quero ter essa conversa com calma, agora que ela está melhor não tenho mais que adiar esse momento.

Ter Enrico em casa estava me deixando perturbada, a presença dele me fazia mal, só queria sair daquela casa e nunca mais voltar. Passei o dia evitando qualquer contato com ele. Fui para o quarto já passava das onze da noite, minha esperança era que ele já estaria dormindo, assim que abri a porta o vi sentado na cama com as pernas esticadas lendo um livro, o ignorei e passei em direção ao closet.

— Esteja pronta amanhã às dez, vou te levar a um lugar — Diz sem tirar os olhos do livro. Me virei para ele com raiva.

— Que lugar, Enrico? — Perguntei. Ele continuou lendo, ignorando completamente a minha presença. — Espero que seja para tratar do nosso divórcio.

Seus olhos finalmente voltaram para mim.

— Você está ficando louca se acha que vamos nos divorciar, sua saúde mental não anda muito bem, você deveria se cuidar Nina — Uma onda de ódio me percorre o corpo, aperto minhas mãos com tanta força que sinto as unhas perfurar as palmas. Por mais que quisesse responder a ele, não o fiz, começar uma discussão agora não resolverá absolutamente nada. Preciso de um bom advogado que me ajude. Passei a noite em claro, a ansiedade de saber onde Enrico queria me levar me deixou agoniada a ponto de não conseguir dormir nem por cinco minutos. Cansei de ficar deitada esperando o dia clarear, sai da cama olhei o relógio eram quatro e meia da manhã, ainda estava escuro lá fora. Fui até a cozinha e coloquei uma cápsula de chá preto na máquina de espresso.

Sentei a mesa com a xícara na mão, senti vontade de ligar para minha mãe, pedir conselhos, desabafar, mas se ligasse aquela hora da noite só iria assustá-la e preocupar ela. Fiquei ali perdida em meus pensamentos, não notei a hora passar, o dia clarear.

— Dona Nina, a senhora já acordou? — A voz de Carmem me trouxe a realidade. Ela já estava arrumada para começar mais um dia de trabalho.

— Bom dia Carmem! Não passei bem a noite, então vim até aqui tomar um chá.

— Vou preparar um café fresco para senhora, nada dessa máquina estranha — Ela pegou a caneca e levou em direção a pia. Carmem veio trabalhar conosco logo que me casei com Enrico, não é muito mais velha do que eu, ela foi contratada para ser minha funcionária nessa casa, mas com tempo acabou se tornando só mais uma funcionária como as outras.

— A senhora está com aspecto cansado, deveria tomar um banho para começar bem o dia — Falou enquanto preparava o café. Eu sabia disso, só estava buscando coragem dentro de mim para sair dali.

Quando Enrico acordou eu já estava pronta, ele dispensou o motorista e foi dirigindo, não entendi muito bem o motivo, mas por via das dúvidas antes de sair mandei uma mensagem para Marina e falei que iria sair com Enrico e não sabia onde estava indo, caso algo acontecesse comigo. Entramos na garagem de um prédio comercial.

— O que estamos fazendo aqui? — Perguntei. Ele não respondeu. Saiu caminhando na minha frente. Pegamos o elevador até o décimo andar, assim que saímos ele segurou minha mão, puxei meu braço, seu aperto se manteve firme. Entramos em um consultório li o nome na porta Dr. Otto Marine especialista em reprodução humana. Meus olhos se arregalam, olhei para Enrico sem acreditar. Ele estava louco.

A secretária avisou que poderíamos entrar, Enrico me puxou do lugar, me deu um olhar que fez meu corpo se encolher. O médico era um senhor por volta de uns cinquenta e poucos anos, seu rosto era agradável. Ele nos comprimentou com um breve aperto de mãos.

— No que posso ajudá-los? — Perguntou educado. Enrico levou a mão até o nó da gravata antes de responder.

— Minha esposa está com dificuldades para engravidar, a gente vem tentando a um tempo até agora não conseguimos, queremos muito ser pais — Sua voz estava melancólica, como se estivesse sofrendo de verdade com aquilo. Eu estava tão assustada que meu coração batia como se fosse pular para fora. Senti lágrimas vindo aos meus olhos, tentei contê-las mas não consegui, senti uma escorrer por minha bochecha enquanto olhava para ele.

— Vocês vieram ao lugar certo, vou ajudá-los.

A consulta durou cerca de uma hora, só Enrico falou, simplesmente não consegui abrir minha boca pra dizer nada. Assim que entramos no carro explodí de tanta raiva.

— A gente vai se separar Enrico, porque me trouxe nesse lugar? — Gritei. Sem me importar de estarmos em local público. — Não teremos filho nenhum.

— A gente não vai se separar Nina, e você vai sim me dar um filho — A calma dele só estava me deixando com mais raiva.

— Peça um filho a sua amante… — Não tive tempo de terminar a frase, sua mão foi ao meu pescoço e ele apertou.

— Minha mulher é você, a esposa troféu perfeita, então cala sua boca e me obedeça, entendeu, Nina? — Sua mão saiu do meu pescoço, puxei o ar com força para dentro, sentindo minha garganta queimar. — Você já deveria ter engravidado a muito tempo, mas parece que você é seca, nem para isso prestou, eu preciso ser pai, seremos a família perfeita — Seus olhos estavam vidrados, ele me olhava com ódio.

— Por quê acha que o problema sou eu, pode ser você o seco — Ele gargalhou.

— O problema é seu meu amor, quando eu era mais novo engravidei uma ex namorada, meu pai cuidou de tudo na época. O médico me passou alguns exames, vou adiar o máximo que eu puder para realizá-los.

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