Capítulo 2

Durante minha recuperação, Marcus abandonou completamente os deveres de Alfa, deixando tudo nas mãos de seu Beta enquanto permanecia comigo no centro de cura em tempo integral.

Diante da situação, até mesmo as jovens lobas do local demonstraram inveja, comentando entre si:

— O Alfa é tão atencioso com sua companheira que, além de alugar um andar inteiro só para ela, ainda cozinha pratos requintados diariamente.

Quando me recuperei o suficiente para voltar para casa, percebi que a residência estava repleta das minhas flores favoritas: as flores-da-lua que ele havia subido nos penhascos para colher pessoalmente.

Sua gentileza, naquele período, quase me fez acreditar que a conversa que eu ouvira tinha sido apenas uma alucinação.

— Scarlett, agora que seu corpo está praticamente curado, precisamos conversar sobre uma coisa.

Ele me puxou para seus braços, e aquele cheiro familiar de grama fresca me envolveu.

Aquele sempre fora o meu aroma favorito no mundo.

— Encontramos os três lobos renegados que te atacaram e, como Alfa da alcateia, venho pedir que considere a possibilidade de perdoá-los.

— Segundo eles, naquela noite, beberam vodca com acônito em excesso, o que acabou comprometendo o julgamento. Alegaram que te confundiram com outra pessoa, por isso te atacaram.

— Estão, inclusive, dispostos a oferecer gemas raras como forma de compensação, em troca do seu perdão.

— Você acha mesmo que eu preciso da compensação deles?

Esforcei-me para me desvencilhar do calor de seu abraço. Aqueles braços, que antes me acolhiam como abrigo, agora pareciam contraditórios diante das palavras que acabara de dizer, provocando um arrepio gélido em minha espinha.

Com isso, encarei-o, fria e firme.

Ele, percebendo isso, se apressou em se explicar:

— Os três lobos renegados vivem em situação deplorável, já que sobrevivem caçando sozinhos nas redondezas do nosso território. E, sem a carta de perdão, o Conselho Alfa não demonstrará nenhuma clemência.

— Agora que sua recuperação está quase completa, preciso, como Alfa, pensar no bem maior e preservar a coesão da nossa comunidade.

Em seguida, ele puxou um documento já preparado e o empurrou em minha direção.

No papel, o nome de Celeste se destacava como uma marca em brasa.

Fiquei em silêncio por um longo tempo, enquanto minhas lembranças me levavam de volta aos anos em que estudei em outra alcateia.

“Naquela época, quando fui humilhada, você reuniu todos os Gammas da nossa alcateia para me defender. Estava disposto, inclusive, a arriscar o futuro de todos ao declarar guerra por mim.

Mas agora, mesmo depois de Celeste assassinar meu filho e arrancar minha loba, você espera que eu a perdoe.

Marcus... Você realmente mudou!”

— Eu não vou concordar com isso.

Pronunciei cada palavra de forma lenta e firme.

Ele pareceu surpreso, mas logo sua expressão se fechou.

— Já expliquei: como Alfa, preciso pensar na estabilidade da alcateia. Eles só estavam embriagados, e tudo aquilo não passou de um acidente...

— Eu sou a sua companheira!

Gritei, encarando-o com raiva, deixando que toda a fúria acumulada queimasse em minha voz.

Ele, em resposta, cerrou os punhos e rangeu os dentes com força.

E depois de alguns segundos em silêncio, respirou fundo e tentou recuperar o controle.

— Talvez, por estar vindo de mim, você pense que estou tomando o partido deles.

— Mas tudo bem. Vou pedir que eles mesmos venham até você para pedir desculpas pessoalmente.

Para minha surpresa, ele realmente fez a ligação.

E, logo depois, aquele rosto familiar e repulsivo surgiu diante de mim.

— Celeste...

Cerrei os dentes, encarando-a com ódio puro.

Ao mesmo tempo, minha mente se encheu de imagens dela e dos outros dilacerando meu bebê.

— Scarlett...

Então, ela caiu de joelhos com um estrondo seco.

E instantaneamente, lágrimas e ranho escorreram por seu rosto.

— A culpa foi inteiramente minha. Estávamos bêbados naquela noite e acabamos te confundindo com outra pessoa. Te machucar daquele jeito... Eu sinto muito...

— Scarlett, por favor, me perdoa...

Ela bateu a cabeça no chão repetidamente até que o sangue se espalhou pelo piso de madeira, desabrochando como flores escarlates.

— Olhe bem para ela, nesse estado… Por isso, não torne as coisas mais difíceis e apenas assine logo a carta de perdão.

— Como minha companheira, você deveria demonstrar compaixão.

Marcus acrescentou, mantendo-se de pé ao lado dela.

Entretanto, limitei-me ao silêncio, fria, fixando o olhar no colar que ela usava: o mesmo que Marcus dissera ter enviado de presente para outra alcateia, e que eu mesma o ajudara a escolher.

Além disso, a joia em sua mão pertencia à coleção particular de pedras preciosas de Marcus.

Apesar disso, desviei o olhar com esforço. “Marcus, será que você tem noção do que está fazendo? Sua gentileza nas últimas semanas quase me fizera apagar da memória aquela conversa entre você e seu Beta.

Se Celeste tivesse sido punida como merecia pelo Conselho Alfa, talvez eu ainda fosse capaz de te amar com todas as minhas forças.

Mas por que, entre tantos caminhos, você precisou trazê-la justamente para cá, diante de mim…”

— Scarlett, só assina...

Foi a insistência de Marcus que, aos poucos, me levou a abrir os olhos.

Naquele momento, Celeste segurava sua calça, apoiando-se nele em busca de amparo.

Eu já tivera aquele mesmo gesto... Bastava estar perto, e ele se encarregava de resolver tudo por mim.

Contudo, isso já não era mais verdade. Eu não era mais aquela que permanecia ao seu lado.

A árvore em que me apoiava havia morrido de vez...

Diante da realidade, mordi os lábios, lutando contra as lágrimas, e disse com firmeza:

— Eu não vou perdoá-la.
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