Afonso a olhou, aceitando o presente com um olhar enigmático.
— Você pode nos felicitar novamente na festa de noivado.
Festa de noivado?
Mas ela não conseguiria esperar até o noivado dele.
Com a cabeça baixa, Naiara permaneceu em silêncio, sem explicar ou contestar. Após entregar o presente, ela se retirou para um canto isolado.
Ela se foi, e Afonso não pareceu se importar muito, continuando a caminhar com Amélia entre os convidados, apresentando-a pacientemente a todos que vinham cumprimentá-los.
Pouco tempo depois, após cumprimentarem todos, Afonso e Amélia sumiram na multidão.
Naiara ficou sozinha por um tempo, mas logo decidiu deixar o salão de festas.
Ela nunca se habituou a esse tipo de evento; desde pequena, não gostava de lugares lotados. Antes, era Afonso quem a retirava discretamente dessas situações, e agora, seu hábito não havia mudado.
O que mudou foi a pessoa que ele escolheu levar consigo.
Do lado de fora do salão, havia um espaço amplo, e Naiara se lembrou de um jardim nas proximidades. Ela decidiu caminhar até lá, mas antes de se aproximar, percebeu que o jardim já estava ocupado.
Ao se aproximar, viu que eram Afonso e Amélia que haviam saído mais cedo.
— Afonso, quando nos casarmos, gostaria de ter um jardim só meu, pode ser?
A voz de Amélia, ligeiramente manhosa, chegou aos seus ouvidos, seguida pela resposta de Afonso, repleta de carinho. — Por que esperar até nos casarmos? Posso te dar isso agora mesmo.
— Sério? — Os olhos de Amélia brilhavam de alegria, e seu rosto se ruborizou enquanto ela se inclinava para dar-lhe um beijo no rosto.
Ele virou o rosto, e o beijo que deveria ter sido na bochecha caiu em seus lábios.
A ação inesperada fez com que seu rosto, já tingido de um rubor intenso, ficasse ainda mais vermelho. Ao tentar recuar apressadamente, ela foi puxada por ele, aprofundando o beijo.
Não muito longe dali, Naiara observava tudo atentamente.
Talvez ela já estivesse morta por dentro.
Talvez já estivesse preparada psicologicamente para abençoá-los.
Ao testemunhar a cena, não sentiu a dor que imaginava, mas sim uma tranquilidade sem precedentes.
Ela não os perturbou e se virou para partir.
Caminhou sem rumo, e sem perceber, chegou perto da piscina.
Naiara ficou parada, olhando fixamente para a água límpida da piscina, perdida em pensamentos.
Não sabia quanto tempo havia passado quando uma voz familiar soou em seu ouvido.
— Vendo esta cena, você deve estar sofrendo, não é?
Ao se virar, viu que era Amélia.
Naiara ficou um pouco confusa, sem entender o que ela queria dizer.
— Afonso me contou tudo. Disse que você tem sentimentos por ele. Para ser sincera, você é uma menina, e Afonso é tão incrível, é normal ter esses sentimentos.
Ela falava com compreensão, mas em seu olhar havia um brilho de malícia. — Mas, ao mesmo tempo, não é normal. Afinal, qual criança normal se apaixonaria pelo próprio tio?
Naiara não esperava que Afonso revelasse seus sentimentos a Amélia de forma tão despojada.
Uma sensação de humilhação invadiu seu coração. Ele poderia não aceitá-la, afinal, ela já estava morta por dentro e havia decidido abençoá-los.
Mas por que ele tinha que pisar em seus sentimentos dessa forma?
Ela permaneceu em silêncio, mas a voz de Amélia não cessou, agora com um tom de ostentação.
— Afonso não gosta de você. Eu também não tenho tempo para encenar essa comédia familiar. Logo me casarei com a família Dias e não gosto de ter uma criança entre nós. Se você quiser sair, posso lhe dar algum dinheiro. Você já é adulta, está na hora de aprender a ser independente.
Ao ouvir isso, o rosto de Naiara ficou instantaneamente pálido. Após um longo silêncio, ela respondeu com a voz embargada, — Você pode ficar tranquila, em três dias, irei embora.
O recuo de Naiara não suavizou a atitude de Amélia, que, ao contrário, tornou-se ainda mais implacável. — Por que três dias? Não pode ser agora?
Naiara ficou sem palavras por um momento, sem saber como explicar.
Em três dias não seria o dia em que ela deixaria a família Dias, mas sim... o dia em que deixaria este mundo para sempre.