— Humana inferior. — Foi assim que Liam ousou me chamar diante de toda a Cúpula dos Alfas, cinco anos depois de seu noivado com Seraphina. O tolo desprezava a própria Rainha Luna, alguém de quem ele jamais seria digno.

No saguão do hotel, Liam entrou com Seraphina em seu braço.

Os lobisomens presentes o reconheceram de imediato. Seus rostos se iluminaram, não demoraram a rodeá-lo.

— Alfa Liam! Jamais imaginei vê-lo na Cúpula da Aliança! Assumir uma alcateia e levá-la a quase status de grande em apenas cinco anos… tão jovem e promissor!

— Você veio em busca do apoio do Rei Alfa, não é?

Liam fez um leve aceno com a cabeça, e um murmúrio de compreensão percorreu o grupo. Mais da metade dos Alfas ali competia pelo favor do lendário Rei Alfa.

Logo o olhar de alguém se voltou para Seraphina.

— E esta deve ser sua futura Luna? Uma combinação perfeita para uma aliança!

Seraphina se apertou ainda mais contra Liam, exibindo um sorriso suave.

— Ainda não completamos o Vínculo de Alma. A cerimônia será realizada depois da promoção da alcateia. Esperamos que todos estejam presentes para testemunhar.

O rosto de Liam enrijeceu por um instante, mas ele forçou um sorriso artificial.

— Temos estado ocupados com os assuntos da alcateia. Somos devotados um ao outro há muito tempo. A cerimônia será apenas uma formalidade.

Seguiu-se outra rodada de felicitações.

Eu, no entanto, fiquei surpresa. Eles ainda não tinham selado o Vínculo de Alma?

Ele havia pedido Seraphina em casamento poucos dias depois de terminar comigo, tão desesperado pelo poder de sua linhagem pura. Já deveriam ter concluído o ritual há anos. Qual seria o motivo da demora?

Além disso, o despertar do posto de um lobisomem está intrinsecamente ligado ao Vínculo de Alma.

Nesse momento, um segurança do hotel — também um lobisomem, pelo cheiro — se aproximou de mim com o rosto severo.

— Senhora, este é um resort de oito estrelas. Não é lugar para seres inferiores simplesmente vagarem por aí.

Seu olhar percorreu meu corpo com desprezo, enquanto seus lábios se curvavam num sorriso de escárnio.

Eu havia acabado de brincar na praia com meu filhote, e minhas roupas estavam cobertas de areia. Em pé dentro da fonte, meu cheiro de alcateia estava totalmente mascarado. Não era de se estranhar que ele me tivesse confundido.

Expliquei rapidamente:

— Me desculpe, o amuleto do meu filhote caiu na fonte. Assim que eu o encontrar, volto para o meu quarto. Pago por qualquer dano…

O segurança me interrompeu com impaciência:

— Com esse cheiro comum de humana impregnado em você, não há como ser uma hóspede. Saia já do território da alcateia.

Sua voz foi tão alta que todos os Alfas por perto voltaram a atenção para a cena.

— O que uma humana está fazendo aqui?

— Que audácia… profanar território de alcateia desse jeito.

Nesse instante, Liam ergueu o olhar em minha direção.

Nossos olhos se encontraram. Ele congelou.

— Elena?

O segurança o olhou, surpreso.

— Alfa Liam, o senhor a conhece?

A expressão de Liam se fechou, e sua voz saiu fria:

— Uma humana que a alcateia de meu pai ofereceu proteção certa vez. Não temos proximidade.

E logo desviou o olhar, como se outro segundo na minha presença pudesse macular sua visão. O mesmo desprezo que demonstrou quando me expulsou da sua vida.

Ao ouvir aquilo, o segurança se encheu ainda mais de arrogância e estendeu a mão para me empurrar.

— Então é isso. Já vi muitas como você. Alguma alcateia dá uma migalha de proteção a uma humana, e você acha que pode se aproveitar dos lobisomens pelo resto da vida?

Desviei de seu toque e minha irritação aumentou.

— Eu disse que vou embora assim que encontrar o amuleto. Pago pelos danos.

Ele zombou, com o rosto carregado de escárnio.

— Pagar? Uma humana frágil como você? — Apontou para a fonte decorativa que eu havia sujado. — Sabe o que é isso? Uma peça personalizada em pedra da lua feita por um mestre artesão lobisomem. Esse conjunto vale trezentos mil reais! Como você poderia arcar com isso?

Estendeu novamente a mão para mim. Eu pude sentir o peso de sua dominância de Alfa — de baixo escalão, sem dúvida, mas suficiente para intimidar qualquer humana comum.

Para mim, no entanto, não era nada.

— Basta.

Liam, que já havia chegado aos elevadores, voltou de repente. Caminhou até nós com o rosto inexpressivo e os olhos tão frios quanto se olhasse para uma estranha.

— O que você procura? Quanto custa? Eu pago.

Ele se inclinou e sussurrou com veneno na voz:

— Não tente chamar minha atenção desse jeito. É patético. Não tenho o menor interesse em uma criatura inferior como você.

Seraphina imediatamente apertou o braço dele, com um sorriso doce demais para ser real, enquanto seus olhos brilhavam de triunfo.

— Elena, estamos prestes a nos unir. Sei que você ficou amarga com o fim do relacionamento, mas o abismo entre um lobo e uma humana sempre foi grande demais. Nunca poderia dar certo. É hora de deixar essa luta inútil e encontrar um pouco de dignidade.

Sorri levemente e respondi com sinceridade:

— Desejo a vocês um herdeiro rápido e saudável.

Não lhes dei mais atenção e me agachei para continuar procurando na fonte. Era um tesouro que o pai do meu filho havia encontrado para ele em sua primeira visita à praia. Para meu menino, significava o mundo.

— O que é preciso para você ir embora? — Disse Liam com impaciência. — Ou ainda está presa às promessas de Vínculo de Alma que fiz a Seraphina?

Ele puxou o dispositivo do bolso e começou a digitar com irritação.

— Está bem. Vou providenciar uma marca de proteção de uma alcateia menor para você. Aceite e desapareça. Não apareça nunca mais diante de mim.

— Minha companheira sempre foi Seraphina. Aqueles dois anos com você não passaram de pena por alguém fraco.

— Essa proteção será suficiente para você recomeçar. Arrume um namorado humano que realmente seja digno de você e pare de desperdiçar seu tempo comigo.

De repente, seus dedos pararam. A informação na tela fez sua expressão perder toda a cor.

— Seu vínculo de alcateia foi apagado? Você é uma renegada sem alcateia?