Assim que desliguei, Scarlett invadiu meu escritório particular sem nem bater na porta.
— Alessia, com quem estava falando no telefone? Parecia um homem.
A provocação da empregada chamou a atenção de outros criados, que começaram a cochichar do lado de fora.
— Rocco saiu furioso por sua causa. É melhor não estar se metendo com outro homem pelas suas costas!
Olhei diretamente para Scarlett.
— Com que direito é tão ousada dentro da mansão Falcone? Espalhar boatos nesta casa tem consequências.
Scarlett apoiou uma mão no quadril e zombou:
— Está dizendo que estou mentindo? Vamos esperar Rocco voltar e ver em quem ele acredita.
Lancei um olhar gélido e virei-me para sair, mas ela agarrou meu pulso.
Aproximou-se do meu ouvido e sussurrou, num tom ameaçador:
— Estou avisando, Alessia. Seja esperta e largue o Rocco. O coração dele é meu agora!
— Se souber o que é melhor para você, sairá de mãos abanando.
— Caso contrário, quando for eu quem te expulsar, não será tão simples assim.
A ousadia dos inúteis nunca deixava de me surpreender.
Como se uma criada manipuladora pudesse fazer algo contra mim.
Quando tentei me soltar e sair, ela se jogou deliberadamente da escada em espiral.
O momento foi perfeito.
Rocco entrou exatamente naquele instante.
Pareceu que eu realmente a havia subestimado.
Um estrondo ecoou, seguido pelo fraco gemido:
— Rocco… me ajuda…
Ele correu até ela sem hesitar e me empurrou com força, fazendo-me tropeçar no topo da escada.
Nem sequer perguntou o que havia acontecido. Simplesmente presumiu que a culpa era minha.
— Alessia, o que você fez? Como pôde ser tão cruel?
Cambaleei e bati contra uma coluna de mármore esculpida. O sangue começou a escorrer de um corte novo na testa.
Segurei a cabeça latejante, sem tempo de me defender, antes que Scarlett começasse seu espetáculo de lágrimas.
— Rocco, a senhora Falcone mandou que eu organizasse os arquivos da família no chão. Fui um pouco lenta e… ela me empurrou!
— Minha barriga dói tanto… será que nosso bebê vai ficar bem?
Ele se ajoelhou ao lado dela, tomado por preocupação, completamente iludido pelo teatro miserável que ela encenava.
Ignorou o sangue escorrendo pela minha testa e a marca vermelha em meu rosto.
— Onde dói? — Perguntou, aflito. — Vou chamar o médico da família agora mesmo.
— Não se preocupe. Nosso bebê vai ficar bem.
Scarlett se aninhou no peito dele, mas seus olhos, voltados para mim, transbordavam deboche.
— A culpa é toda minha. Nem uma tarefa tão simples consigo cumprir direito.
— A senhora Falcone anda tão estressada, trabalhando tanto pela família… eu devia ter sido mais compreensiva.
— Se isso a faz se sentir melhor, um pouco de sofrimento vale a pena. Só me preocupo com o bebê…
— Então, por estar estressada, isso lhe dá o direito de agredir uma mulher grávida?
Rocco se voltou para mim, o olhar carregado de uma frieza decepcionada.
— Alessia, quando se tornou tão cruel?
Toquei a testa ensanguentada enquanto o sangue quente manchava meus dedos.
Em cinco anos de casamento, eu havia cuidado dos negócios legais da família e cuidei da mãe moribunda dele.
Legal ou ilegal, dei meu dinheiro, minha energia, tudo o que tinha.
E, no fim, tudo o que recebi em troca foi ser chamada de cruel.
— Eu não a empurrei. — Disse, controlando a voz e engolindo as lágrimas.
— As câmeras de segurança da escada registraram tudo. Veja as gravações e verá a verdade.
O rosto de Scarlett empalideceu de imediato.
Ela agarrou o terno de Rocco, implorando:
— Rocco, eu já perdoei a senhora Falcone. Vamos esquecer isso.
— Foi algo tão pequeno, não há necessidade de ver as câmeras. Se a imprensa souber, seria péssimo para a família…
Rocco se levantou devagar, olhando para mim de cima.
— Alessia, não me importa o que as gravações mostrem. Eu vi o que você fez. Peça desculpas à Scarlett. Agora.
Eu ri, uma risada amarga.
Ele viu com os próprios olhos?
Mentiroso.
Eu sabia que ele não me defenderia, mas ainda assim doía ouvir aquelas palavras.
— Rocco… vai mesmo distorcer a verdade assim?
— Eu sei exatamente quem está mentindo. Scarlett é gentil e indefesa. Jamais teria coragem de te incriminar, a senhora desta casa.
— Você, por outro lado… seu desprezo por ela nunca foi segredo.
Olhei para o homem que amei por oito anos, com quem vivi cinco, e agora ele me parecia um completo estranho.
Mas já não importava. Eu estava pronta para partir.
Tudo bem. Eu cederia. Já não tinha forças para lutar.
— Desculpe.
Ao ouvir minha rápida desculpa, Rocco hesitou por um instante, um lampejo de algo mais suave passou em seu olhar.
Mas Scarlett puxou sua manga, chorosa:
— Rocco, ainda dói tanto… pode me ajudar a subir para o quarto?
O momento de dúvida dele sumiu.
Ele a ajudou com delicadeza e a levou nos braços, deixando-me ali.
Fiquei encostada na coluna de mármore frio por muito tempo, até que o sangue na minha testa secou e virou uma crosta escura.
Três horas depois, recebi uma mensagem:
[Sra. Falcone, cinco milhões de dólares foram transferidos da sua conta pelo Sr. Falcone.]