2- Nos braços do Rei

Maeve

Não podia nem mesmo imaginar o motivo pelo qual estava sendo atacada. Depois de quatro anos vivendo minha vida tranquilamente nos arredores do castelo, por que ser atacada?

Nunca fui treinada para lutar, não sou uma guerreira, não sou forte, não tenho magia. No primeiro ataque da mulher, caí sentada sobre o chão cheio de folhas caídas do bosque. A empregada veio na minha direção me acertando com a adaga algumas vezes antes que eu conseguisse segurar seus braços e contê-la.

Eu não queria morrer ali abandonada e sozinha, onde ninguém encontraria meu corpo e apodreceria entre as folhas mortas. Reuni todas as minhas forças para segurar os braços da mulher, mas aos poucos a força em meus braços finos começaram a desvanecer e aos poucos eles cediam. A adaga apontada para o meu coração seria o meu fim.

Somente a vontade de viver estava me mantendo firme em meu propósito, mas em breve isso não significaria muito, pois a perda de sangue devido aos outros golpes que havia recebido antes estava me deixando fraca. Sentia minhas vistas oscilarem entre a escuridão e a luz e sabia que era questão de tempo até que aquela adaga perfurasse meu coração.

Mas como um milagre, alguém se lança sobre a mulher, afastando-a de mim e recebendo um corte em seu braço forte para me defender. Ele levou aquele corte em meu lugar. Meus olhos queriam se fechar devido a exaustão que me tomou no momento em que o peso da mulher foi retirado de cima de mim, mas antes que isso acontecesse eu pude reconhecer o homem que salvara minha vida.

Analiso o homem que se aproxima de mim depois de ter se livrado da empregada, era Sean. O rei Sean, meu marido que nunca antes viera me visitar, estava aqui e ele salvou a minha vida.

Sinto meu corpo ser erguido e seus braços fortes me envolverem, sinto o seu cheiro invadir minhas narinas e com a sensação de proteção que sinto em seus braços, meus sentidos se apagam completamente.

***

Sean

— Como ela está? – Questionei ao ver o médico deixar meus aposentos, onde minha esposa desmaiada se encontra.

— Os ferimentos são profundos demais, majestade. – O médico responde com cautela. – Tudo o que pude fazer foi conter o sangramento, limpar as feridas e agora tudo vai depender dela.

Olhei para a porta fechada atrás do médico, como se eu pudesse ver minha mulher deitada na cama gigantesca.

— Ela pode morrer, doutor?

— Existe a possibilidade, sim. Ela perdeu muito sangue. – O médico colocou a mão sobre o meu ombro nu, e com um aperto reconfortante disse: - Vamos ter fé.  

Com essas palavras o médico se foi. Encarei meu braço enfaixado, onde a adaga havia me cortado. Se a dor era intensa devido a um corte daquele, não quero imaginar a dor que Maeve sentiu e vai sentir quando despertar. Isso se ela despertar.

Encaro a maga que se encontra ao meu lado.

— Você poderia olhar os ferimentos dela? Talvez consiga curá-la.

Aida me encarou com um olhar curioso, mas concordou e entrou em meus aposentos antes de mim, indo na direção da cama. Os cabelos longos e avermelhados da mulher balançando atrás de si. Ela se sentou ao lado de Maeve adormecida, puxou a colcha que a cobria e eu afastei o olhar de seu corpo magro enfeixado.

A maga analisou os ferimentos sob a faixa por algum tempo, antes de dizer algo.

— Ela vai ficar bem, Sean. – Os olhos alaranjados da maga me fitaram. – Graças a magia dela que parece estar despertando.

Me surpreendo pois não esperava por esta resposta.

— É sério?

Os olhos dela agora estão voltados para o corpo adormecido de Maeve.

— Depois de tanto tempo treinando magia sem sucesso, cheguei a pensar que ela não tivesse magia alguma, mas agora pude sentir. Não sei o que a despertou, mas a magia dela está presente.

— É forte o suficiente?

— Poderá ser, com mais aulas e treinamento. – A maga voltou a me encarar – A magia dela poderá ser muito útil para o reino. Se você a controlar completamente, poderá usar seu poder quando precisar.

— Como eu poderia controlar uma mulher, Aida, enlouqueceu?

Acabei falando um pouco alto demais e me preocupei em despertar a garota. Ela com certeza precisava descansar para se recuperar mais rápido.

Fiquei nervoso com suas palavras. Depois de quatro anos observando a garota de longe eu já não sabia o que sentia por ela, com as palavras da maga me senti incomodado de alguma forma.

Indiquei a porta do quarto para que pudéssemos terminar de conversar lá fora.

A maga deixa o quarto e eu a sigo, fecho a porta de meu quarto e a levo para os jardins a fim de terminar nossa conversa. Também não quero empregados escutando por trás das portas. Uma das desvantagens de morar em um castelo é o número de pessoas, são tantos empregados e visitantes e outros componentes do reino de passagem que é quase impossível não esbarrar com alguém em qualquer direção do castelo que deseje tomar. Então, uma conversa como essa, o melhor lugar é um jardim amplo como os que temos no palácio. Por isso, conduzo-a para lá.

— Pode me explicar agora, Aida. – Incentivo-a a falar.

— Esta moça é carente, majestade. Ela sonhava em ter o amor de seu pai, mas depois que a Escuridão o tomou, ele nunca mais foi o mesmo e isso magoou muito o coração de Maeve.

— E o que isso tem a ver comigo? – Irrito-me, não quero saber do passado de ninguém. O meu passado é tão ruim quanto o passado de muita gente.

— Saiba conduzi-la e terá seu amor, Sean. Ela quer amor. Acredite, pois eu lhe dou aulas todas as manhãs desde que a jovem chegou aqui e ela se abre comigo. Sou a pessoa mais próxima de uma amiga que ela tem aqui nesse lugar.

— Ainda não sei onde você quer chegar com essa conversa. Já disse que não quero nada com a filha do rei Leon que matou meu pai.

— Você não precisa se apaixonar por ela, só precisa fazer com que ela se apaixone por você.

— E o que eu ganho com isso? Uma mulher pegajosa em meus pés?

— Não, Sean, você ganha o controle sobre ela.

Havia me afastado um pouco de Aida conforme conversávamos, mas quando ela proferiu tais palavras me virei, não podia acreditar no que ela estava sugerindo.

— Não há maneira melhor de controlar uma mulher do que com o amor. Se ela se apaixonar por você, poderá usar o poder da mestiça para o que quiser, como quiser, basta saber conduzi-la.

— Quer dizer que se ela se apaixonar por mim, poderei usá-la como uma arma quando quiser.

— Sim, mas precisa se lembrar que ela precisa acreditar em seu amor, se ela se sentir traída, isso não será bom pra você ou para o reino.

Caminho, subitamente cansado, até o banco de pedra do jardim e me sento.

— Então quer dizer que há riscos.

A maga vem na minha direção e se senta ao meu lado.

— Sempre há riscos, Sean. Tudo o que fazemos, por menor que seja, sempre há algum risco. Maeve pode ser poderosa, se treinar e desenvolver seus poderes. Ela é filha de uma elfa.

— Mas até agora não havia despertado os poderes. Por quê?

Aida balançou a cabeça e seus cabelos ruivos acompanharam o movimento.

— Não sei. A treino desde o dia que chegou aqui, há quatro anos. Nunca senti nenhum mover da magia dentro do corpo dela. Cheguei a imaginar que ela não tivesse herdado os poderes da mãe, mas hoje eu pude sentir. Talvez seja o momento, a luta pela vida, isso pode ter despertado sua magia para ajudar na cura.

— O que mais percebeu durante as aulas.

A mulher me encara.

— O que quer saber, Sean?

— Ela falava algo sobre o seu reino de origem? Sobre seu pai? Sua mãe? – Pausei, pois queria inserir mais uma questão, porém estava inseguro. Os olhos alaranjados da maga me encaravam a espera de que eu concluísse a fala. – Ela perguntou algo sobre mim?

A mulher sorriu e não gostei de ver o que seu sorriso sugeria. A única coisa que havia por trás das minhas perguntas eram curiosidades.

— Ela me perguntou várias vezes por que seu marido nunca foi vê-la. Por que a havia aceitado se nem mesmo queria olhar em sua face. Me perguntou várias vezes se a odiava e por que não a libertava para viver sua vida em liberdade em qualquer canto do reino.

— Ela fazia essas perguntas? – A maga confirmou com um gesto de cabeça. – O que respondia?

— Que ela teria que ter paciência, tudo a seu tempo.

As palavras da maga me fizeram pensar. Será que era somente disso que precisava? Tempo?

Ela fizera perguntas sobre mim, se sentira sozinha assim como me senti. Muitas vezes me perguntei se não deveria ir até ela para conversar, mas a dor do que seu pai fez ao meu e o desejo de vingança não me deixavam me aproximar da garota.

Me levantei sem saber bem o que fazer a partir dali.

— Tem certeza sobre o que disse? Sobre a magia dela estar despertando e sobre eu poder controlá-la?

— Se você tiver seu amor, meu rei, tudo ficará bem.

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