Contos da Caçadora (incompetente)
Contos da Caçadora (incompetente)
Por: Vivianne Fair
Conto 1 - Ser caçadora é estiloso, mas não é fácil!

         Não é fácil ser uma caçadora de vampiros; é tudo o que eu posso dizer. Não pelo fato de ter que me inscrever em uma universidade outra vez depois de formada; ter que estudar tudo de novo – porque tenho que passar por adolescente – e ter amigas histéricas e arrumar encrenca sem querer – bem, talvez eu tenha uma parcela de culpa – com o pessoal popular da escola.

         É que o vampiro que tenho que caçar não é exatamente o que digamos um vampiro tradicional. Ele, na verdade deve aparecer na minha janela a qualquer momento. Por quê? Vou te dizer porquê. Porque são duas horas da manhã e ele sabe que acordo de muito mau humor quando ele vem me visitar de madrugada, eis o porquê.

­       Ei, Jessi! O que está fazendo acordada? – gritou Zack, abrindo a janela e pondo a cara para dentro do meu quarto.

         Cara, eu realmente queria que vampiros não existissem.

         Talvez só um pouquinho.

          Eu sou uma caçadora bem-paga. Incompetente, mas bem-paga.

        Porque eu já sabia que você ia vir aqui encher minha paciência e não consigo dormir – retruquei com uma má vontade quase palpável.

        Quer que eu conte o filme que passou na Sessão da Meia noite?

        Não – cortei logo – porque provavelmente tem a ver com alguma coisa sinistra do tipo zumbis comedores de cerébro versus vampiros vestidos de piratas e eu não estou a fim de saber quem morre no final.

        Isso é ridículo, Jessi – ele ficou sério e deu uma piscadinha – porque eles já estão todos mortos.

         Eu puxei o lençol para cobrir a cabeça e ele sentou na beirada da minha cama.

         Comportem-se hormônios. Só porque ele é o cara mais lindo do planeta não quer dizer que vocês tem que estar me atiçando o tempo todo.

         Ele puxou de leve o lençol e deitou a cabeça no meu travesseiro.

          Desculpem, hormônios. Eu sei que não é culpa de vocês.

         Vamos dormir juntos, Jessi?

        Eu sentei de imediato. Eu sabia que ele ficava o tempo todo me provocando e por mais que eu quisesse agarrá-lo feito uma lunática perseguidora de banda de rock eu tinha que me conter.

        Afinal, sou uma profissional.

        Ao máximo da minha capacidade, que já não é muita.

        Zack, sério, chega de gracinha. Aquele caçador que o Conselho contratou para ficar no meu pé, o Vincent, sente seu cheiro em mim feito um cachorro sabujo. Você vive dizendo que devemos ficar separados, lembra?

        Jessi... isso não é verdade...

        O que  não é verdade? Você não vive dizendo isso?

        Eu não vivo, esqueceu? – ele respondeu com aquele sorriso de derreter iceberg.

        Você nunca cansa das suas piadinhas?

        Você mantém meu senso de humor aceso...

        É só isso que eu mantenho aceso? Droga, Jéssica, cuidado. Lembre-se que Vincent falou que Zack é um homem perigoso, e que no passado já foi muito cruel. Ou seria mentira do Vincent? Zack parece ser tão... certo, ele matou mesmo aquelas meninas no passado e tentou mesmo me matar. Mas não me matou, isso vale alguma coisa, não é? Afinal, todo homem comete uma besteira de vez em quando. E depois, ainda tenho saudade daqueles dentes no meu pescoço.

        Zack, tenho prova amanhã. Por favor, me deixe dormir.

        Ele deu um suspiro e olhou para o teto, fitando algum lugar no canto escuro.

        Quer que eu te passe as respostas? Afinal, você já é formada; não devia se preocupar.

        Não! – sibilei, irritada – Porque da última vez que fez isso eu tirei nota baixa! E eu tenho que manter meu disfarce de adolescente!

        Não deve ser difícil, já que você pensa como uma! – ele riu – E depois, eu te passei as respostas erradas para você aprender uma lição. Quem cola não passa na escola.

        Suma. Da. Minha. Frente.

        Ele rolou de lado e passou a mão pelas minhas costas. Endireitei-as instintivamente, e senti-me triste quando ele retirou a mão.

        Mas aí não vou ter nada para fazer durante a noite...

        Não sei. Vai combater lobisomens. Ou o Vincent. Aliás, ele deve estar lá fora agora bolando uma armadilha para você.

        Lobisomens? – ele torceu o nariz – Essas coisas não existem!

        Eu revirei os olhos. Eu dizia isso de vampiros, não é?

        Ele levantou-se, segurou em meu queixo e fitou-me horrorizado.

        Meu Deus! Você leu Crepúsculo de novo, não foi?

        Cale a boca! Eu gosto, tá? E depois você devia realmente dar o fora! Vincent deve estar lá no jardim! Eu não quero um cara pendurado na minha árvore do lado de fora! E também não quero armadilhas de ursos espalhadas pelo gramado!

        Minha árvore. Eu comecei a batizá-la assim, depois que ela teve a audácia de segurar meu short quando eu caí da primeira vez da janela e me fez andar de calcinha na universidade.

        O cara brilha, Jessi! 

        Por que você não quer me ouvir? – retruquei, amedrontada.

        Comecei a sentir a presença de alguém lá fora. Vincent não devia estar sozinho dessa vez.

        Está bem, está bem – ele respondeu rindo e levantando-se – Já vou indo. E pare com esses pensamentos pervertidos perto de mim.

        Você disse que não lê mentes!

        E não leio. Foi um tiro no escuro. Aaah, então você tem mesmo pensamentos pervertidos, não é? Qual o apelido que aqueles caras do livros que você gosta chamam as mocinhas mesmo? Ah, sim...mi hermosa, ma petite... Vou te chamar de minha safadinha!

        Eu joguei-lhe meu travesseiro com força, mas Zack se desviou e o troço voou pela janela. Argh, ia ser uma noite desconfortável.

        Boa noite, minha safadinha! – Zack disse, antes de sair pela janela.

        Morra!

        Deixa de ser boba, Jessi... eu já estou morto, esqueceu? Te vejo amanhã!

        E sumiu na calada da noite.

        Agora antes eu só não conseguia dormir; agora ia dormir sem meu travesseiro e com os hormônios pulando feito crianças num parque. Precisaria de umas duas horas para eles sossegarem.

        Contudo, eles pularam de novo quando, pela manhã, eu vi meu travesseiro aos meus pés com uma mensagem escrita a mão.

        “Te amo, safadinha”

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