O silêncio que se seguiu tinha uma qualidade especial, como se estivéssemos suspensos naquele momento sob as estrelas, sem passado nem futuro. Apenas nós dois e aquela vulnerabilidade compartilhada. De todas as coisas que Christian já havia me mostrado – a villa, os vinhedos, as adegas centenárias – este lugar, este momento, parecia o mais íntimo.— Você vem aqui com frequência? — perguntei finalmente, quebrando o silêncio.— Sempre que posso. — Ele ainda olhava para o céu, mas senti que sua mente havia vagado para outro lugar. — Menos do que gostaria. Os negócios consomem muito tempo.— A vinícola.— Sim. — Um suspiro. — A pressão nunca diminui. Meu vô acredita que estou pronto para assumir completamente, mas Lorenzo e Isabella têm outras ideias. O conselho está dividido.— Por causa do projeto orgânico? — perguntei, lembrando do que Bianca havia mencionado.Christian virou a cabeça rapidamente, seu olhar subitamente atento.— Como você sabe disso?Havia uma ponta de suspeita em sua
O som do chuveiro vinha do banheiro enquanto eu contemplava o teto ornamentado do quarto. Christian havia comentado que tomaria um banho demorado antes de dormir. Algo sobre "precisar pensar" depois de nosso passeio sob as estrelas.A conversa sobre filhos e futuro ainda me incomodava. Seu tom casual ao falar sobre não ter herdeiros, sobre como negócios e família não se misturavam bem... tantas certezas para alguém tão jovem.Peguei meu celular e, sem pensar muito, disquei o número que conhecia de cor. Três toques depois, a voz sonolenta da minha irmã veio do outro lado da linha.— Alô? — resmungou Annelise em um tom que sugeria que acabara de despertar.— Anne? Sou eu, Zoey.— Zoey? — Sua voz imediatamente ficou mais alerta. — Você tem noção de que horas são aqui?Arregalei os olhos, imediatamente calculando a diferença de fuso horário.— Ai meu Deus, desculpa! São... cinco da manhã aí?— Quatro e quarenta e dois, mas quem está contando? — Ela bocejou audivelmente. — Espero que estej
A possibilidade pairou no ar, quase tangível. As palavras de Anne reverberavam na minha mente como um eco impossível de ignorar. Quebrar o contrato? Transformar nossa farsa em realidade? Era algo que eu nem me permitia considerar, com medo de me perder em falsas esperanças.Mais uma vez, as palavras de Elise voltaram para me assombrar: "Ninguém nunca vai escolher alguém como você." Um homem como Christian Bellucci – rico, sofisticado, herdeiro de um império vinícola – escolheria voluntariamente ficar comigo quando não precisasse mais? Quando o acordo estivesse cumprido e seu avô seguro?— Eu não sei se ele...— Você perguntou?— Claro que não!— Então como sabe? — O tom dela era exasperado. — Olha, se ele está te mostrando lugares especiais, te dando joias, fazendo sexo incrível nos vinhedos...— Eu não disse que foi incrível!— Por favor, você não precisou dizer. É a Itália. Tudo é mais sensual aí. — Ela dispensou meu protesto. — O ponto é: esses não são comportamentos de alguém apen
Nossa última noite na Itália coincidiu com o encerramento do Festival da Colheita. Já estávamos na festa há quase duas horas, circulando entre barracas de comida, vinhos locais e artesanato. O festival estava ainda mais movimentado do que na primeira noite, com músicos tocando em cada esquina e jovens dançando nas ruas de pedra.Christian parecia completamente à vontade – mais relaxado do que eu jamais o vira no Brasil. Ele conversava em italiano fluente com os moradores locais, muitos dos quais o conheciam desde criança, e me apresentava com um orgulho que não parecia fingido. Para a comunidade local, éramos apenas um jovem casal apaixonado, aproveitando a noite italiana.— Você precisa experimentar este — disse ele, entregando-me um pequeno copo de um líquido dourado. — Licor de limão caseiro. A receita da Signora Ricci é lendária por aqui.Provei, sentindo o calor do álcool misturado com a doçura cítrica.— É delicioso! — exclamei, impressionada.A senhora idosa que nos servira sor
O último dia na Itália foi preenchido com despedidas. Despedida da villa, com seus afrescos no teto e janelas que emolduravam vistas de cartão postal. Despedida de Lucia, que me abraçou como se eu fosse família de longa data, sussurrando bênçãos em italiano e me entregando um pequeno pacote que continha, descobri depois, um conjunto de especiarias da Toscana "para quando sentisse saudades". Despedida de Bianca, que prometeu me visitar no Brasil em breve.Acima de tudo, despedida da versão de nós mesmos que tínhamos sido aqui.Porque agora o tempo estava acabando. A realidade se aproximava, implacável como as nuvens de tempestade que escureciam o horizonte durante nossa viagem para o aeroporto de Florença.— Você acha que Lucia vai ficar bem? — perguntei, tentando preencher o silêncio que se instalara entre nós desde a conversa na noite anterior. — Ela parecia tão emocionada quando nos despedimos.— Lucia sempre foi emotiva — respondeu Christian, os olhos fixos na estrada. — Mas ela é
Meus dedos se enterraram nos lençóis enquanto meu corpo arqueava em êxtase. Christian segurava firmemente meus quadris, seu ritmo impetuoso e implacável. O quarto estava imerso na penumbra, apenas a luz da cidade entrando pelas frestas da persiana, criando sombras dançantes em nossos corpos entrelaçados.— Christian... — meu gemido saiu como uma súplica quando ele intensificou seus movimentos, seus olhos nunca deixando os meus.Havia uma urgência em cada toque, cada beijo, cada investida – como se tentássemos recuperar algo que havíamos perdido na transição entre a Toscana e o Rio. Ou talvez estivéssemos tentando criar algo novo, algo que pertencesse a este lugar, a esta realidade.Ele capturou meus lábios em um beijo profundo e possessivo, abafando meus gemidos enquanto seus dedos encontravam o ponto exato onde eu mais precisava dele. Meu corpo inteiro estremeceu sob seu toque experiente, a tensão crescendo a cada segundo.— Olhe para mim — ordenou ele, sua voz rouca de desejo.Abri
— Então... você chegou bem? — perguntei, enrolando uma mecha de cabelo em volta do dedo. O telefone estava no viva-voz sobre a ilha da cozinha enquanto eu preparava um café.— Sim, sem problemas — respondeu Christian, sua voz soando estranhamente formal através do alto-falante. — O voo foi tranquilo. Como está sendo seu primeiro dia de volta?— Normal. Bem normal. — Fiz uma careta para mim mesma. Desde quando eu usava a palavra "normal" duas vezes na mesma frase? — Ainda estou arrumando as malas, organizando as coisas.Um silêncio desconfortável se instalou. Podia ouvir o som de papéis sendo mexidos do outro lado da linha. Christian provavelmente já estava em seu escritório, voltando à rotina.— E o projeto? — perguntei finalmente, tentando parecer interessada sem soar desesperada por manter a conversa.— Bem. Estamos tendo alguns problemas com o solo em uma das áreas, mas nada que não possamos resolver.— Isso é... bom. — Outra pausa constrangedora. — E Giuseppe?— Animado com sua vi
~ Christian ~O café da manhã na propriedade dos Bellucci na Serra Gaúcha sempre foi uma refeição solitária para mim. Durante minha infância e adolescência, era raro ver meus pais à mesa. Os funcionários mantinham distância respeitosa, e eu me acostumei a comer em silêncio, revisando mentalmente meus compromissos do dia.Exceto quando Giuseppe estava presente.— Isto não é café da manhã! — exclamou meu avô, olhando com desaprovação para meu café preto e a torrada que eu mal havia tocado. — Na minha época, homens comiam como homens! Ovos, pão fresco, presunto... — Ele gesticulou para o seu próprio prato abundante. — É por isso que sua geração está sempre ansiosa. Não comem direito!Sorri, apesar do cansaço. Havia dormido mal, acordando várias vezes durante a noite, meu corpo procurando instintivamente por Zoey ao meu lado. O telefonema constrangedor pela manhã só piorou meu humor.— Estou bem, Nonno. Apenas sem muito apetite hoje.Giuseppe me estudou com aqueles olhos perspicazes que p