6 A PROPOSTA II

Daniel Alencar

Foi a vez de Clara respirar fundo enquanto pensava no que lhe disse:

_ Ok?! Pelo que entendi, o senhor quer me pagar 60 mil pra levar chifres. _ ela riu debochando deliberadamente da situação. _ Olha, não entendo muito sobre essas coisas, mas acredito que vai parecer ainda pior pra sua imagem com os caras.

Ah... mas que porra de garota irritante:

_ Que bom que divirto você... _ retribui o sorriso irônico _ Lógico que terei que tomar alguns cuidados extras e também vou precisar contar com sua total discrição.

Estreitei um pouco os olhos antes de continuar:

_ Preciso deixar claro que você não deverá confundir as coisas entre nós em nenhum momento. Vou sair quando quiser, com ou sem você e pode estar certa de que vou ficar com outras garotas. Não teremos nenhum tipo de relacionamento afetivo, não vou dever nenhum tipo de satisfação a você e ciúmes é uma palavra que quero que retire do seu vocabulário. _ a moça revirou os olhos e sorriu atrevida. _ Está compreendendo melhor a situação?

Ela concordou com a cabeça e respondeu enquanto analisava friamente minha expressão:

_ Mais ou menos... supondo que eu aceite fazer parte desta piada, que garantia terei de que irá me tratar com respeito todo o tempo? _ inquiriu sem rodeios.

Aquela era uma pergunta justa, lógico que queria garantias de que não correria algum risco ao aceitar fazer parte do jogo, mas já podia prever que sua insolência enervante seria um grande problema para mim:

_ Primeiro preciso reforçar que isto não é uma piada senhorita Assunção, então pare de tratar está conversa como se fosse uma brincadeira! Me ofende te ver questionando meu profissionalismo e caráter dessa forma. E fique tranquila, pois todos os pontos sobre sua segurança estarão detalhados no acordo que iremos assinar, não fará nada que lhe traga desconforto ou que não queira fazer se tiver um bom motivo para tanto. _ garanti quase honesto.

Clara baixou os olhos e se afastou da mesa ajeitando-se na poltrona, ela precisava pensar e respeitei o seu tempo, o que me pareceu levar uma pequena eternidade enquanto a observava entretida com suas próprias mãos:

_ Não posso negar que seria muita burrice não considerar sua proposta, mas antes de responder, gostaria de saber por que eu? Quer dizer, não sou nenhuma famosa, nem alguém importante que vá ajudá-lo a ter mais credibilidade do que já tem. Eu sou só... _ piscou muito rápido antes de concluir. _ sou apenas uma assistente, não tenho nada que vá agregar valor à sua imagem. _ questionou parecendo se equilibrar em sua dignidade.

Sabia que aquela resposta podia ser decisiva e tinha que fazê-la sentir-se especial. Deveria ser muito plausível e justificar qualquer coisa além do simples fato de a ter achado gostosinha e fácil de manipular:

_ É aí que se engana senhorita. Andei pesquisando e descobri que é uma garota muito inteligente, esforçada... seu histórico profissional e pessoal pareceram impecáveis à primeira vista. Você é uma moça simples, gentil, educada e, para falar bem a verdade, tem uma aparência absurdamente atraente mesmo! _ lancei o sorriso sedutor e menina desviou o olhar de imediato.

A desgraçada interpretava bem o papel de moça séria, então prossegui enaltecendo qualidades que, para mim, não tinham nenhuma importância:

_ Alguém com uma história de vida como a sua fará com que as pessoas me vejam com outros olhos, talvez como alguém mais próximo da realidade deles... isso acabará me tornando ainda mais popular e, consequentemente, vai refletir nos rumos da corporação a médio prazo.

_ E posso perguntar o que acha que sabe sobre minha história? _ inquiriu cética.

_ O suficiente para saber que tem potencial. Sei que não tem familia, trabalha de dia e estuda a noite, é determinada, aparentemente possuí um bom caráter, é discreta e disciplinada. Também sei que tem uma postura exemplar dentro da empresa e, pelo que mostrou nas vezes em que nos encontramos, tem uma personalidade firme, confesso que gostei disso também.

Maria Clara estreitou seus olhos azuis ainda fixos nos meus:

_ E quem é você, senhor Alencar?

A pergunta me perturbou profundamente e desconversei evasivo:

_ Neste momento, alguém que está te oferecendo a oportunidade de mudar completamente seu futuro. Devo dizer que além dos presentes e do valor que irá receber, muitas propostas podem surgir e é bem provável que nunca mais tenha que trabalhar em uma repartição outra vez na vida.

Permanecemos nos encarando por quase um minuto, seu rosto estava sério e suas micro expressões deixam evidente que ponderava minhas palavras. Clara respirou fundo e ergueu o queixo antes de finalmente responder:

_ Tudo isso parece bom demais para ser verdade, mas prometo pensar cuidadosamente sobre sua oferta. _ disse tentando parecer blasé diante da proposta irrecusável que tinha acabado de ouvir.

_ Desculpe senhorita Assunção, mas preciso que tome uma decisão agora. _ retruquei impaciente.

Dei alguns cliques no mouse e abri o arquivo com as candidatas virando o notebook para que pudesse ver a lista. Girei o botão de rolagem e várias fotos de garotas passaram pela tela:

_ Não vou mentir menina, te escolhi por que você parece a porra de uma boneca! É delicada como um anjo, tem um sorriso doce... todas essas garotas são lindas e talvez sejam até mais apropriadas, mas nenhuma chamou tanto minha atenção. Até da sua petulância eu gostei. _ o rubor invadiu sua face e ela tentou esconder o sorriso tímido que escapou dos lábios volumosos. _ Mas preciso resolver isto hoje e começar a prepara-la ou a qualquer outra dessa lista para o que vai acontecer neste sábado. Meu tempo simplesmente acabou e pretendo assinar o acordo com você, mas escolherei qualquer outra dessa lista caso não possa me dar sua resposta agora.

Ficamos em silêncio por mais um instante, os lábios dela estavam entre abertos e seu peito arfava lentamente:

_ Tudo bem Senhor Alencar, não sei quem você é e não faço ideia de onde estou me metendo, mas aceito sua proposta. _ finalmente concordou.

E sorri satisfeito com minha vitória.

Resolveria as rusgas com os sócios, continuaria pegando quem quisesse e como bônus, poderia brincar de noivo com aquela coisinha linda que me encantou no primeiro olhar. Já imaginava como deveria gemer gostoso quando lembrei de algo importante:

_ Ótimo Clara, prometo que não se arrependerá de sua decisão. No entanto, antes de finalizarmos, gostaria de saber se costuma ficar com muitos caras por aí. Sei que pareço inconveniente, mas se a mídia descobrir qualquer falha no seu comportamento pode pegar muito mal pra imagem da empresa e precisamos estar preparados. _ aquela questão tinha mesmo alguma relevância para além de minha simples curiosidade.

Não apenas a quantidade de caras, mas quem eram eles e o que faziam da vida. Ser uma safada já pegaria pegar mal pra caralho, mas ser uma safada ex-namorada de traficante era simplesmente inadmissível.

Clara baixou a cabeça constrangida:

_ Prefiro manter o foco no trabalho e nos estudos, então não tenho tempo pra pensar em namorar, não tenho ficantes e também não saio por aí transando com qualquer um. _ respondeu sem me encarar.

Apenas assenti com complacência, queria saber mais sobre suas aventuras sexuais, mas preferi não pressionar naquele momento. A moça parecia sincera, mas não estava cem por cento convencido de sua honestidade. Uma garota tão bonita devia ter uma fila de idiotas correndo atrás o tempo todo, lógico que não era tão certinha quanto fez parecer. Ainda mandaria que vasculhassem seu passado atrás de qualquer coisa que pudesse me foder de alguma forma. Estava acostumado com a máscara de "santinha do pau oco" que muitas dessas mulheres usavam e não cairia nesse golpe facilmente. Caso descobrisse seus podres no futuro, a jogaria de volta a sarjeta com direito a linchamento público e tudo que fosse necessário para me proteger de sua má reputação:

_ Muito bem, então temos um acordo senhorita Assunção. _ levantei e caminhei até ela. _ Acho melhor chama-la apenas de Clara daqui pra frente. _ disse em um meio sorriso.

A moça levantou-se antes de responder:

_ Então devo te chamar de Carlos Daniel? _ retribuiu o sorriso.

_ Só Daniel _ não pude segurar a pitada de ironia _ ou de mozão se preferir.

Clara riu com leveza e me fascinou como seu rosto se iluminava quando parecia alegre.

Lhe estendi a mão e completei:

_ Acredito que fará um bom trabalho como minha noiva.

Ela sorriu tímida e selou nosso acordo com um cumprimento cordial:

_ Não tenho nenhuma experiência nessa função, mas farei o meu melhor, espero atender suas expectativas. _ respondeu profissionalmente polida e internamente achei muita graça.

Para atender minhas expectativas teria que abrir mão de toda aquela história de não ter intimidade quando estivéssemos a sós, mas aquele era um assunto para outro momento:

_ Ótimo! O seu melhor é o mínimo que precisamos para começar. 

Apoiei levemente uma das mãos em sua cintura e direcionei a moça para a porta.

_ É melhor ir agora, mas em breve a chamarei para acertarmos os pontos e assinar de uma vez o contrato.

Clara concordo e caminhou em direção a saída. A observei enquanto se afastava analisando atentamente sua bunda redonda e empinada modelada pela saia justa. Era perfeita! Parecia um grande e suculento pedaço de carne e me deixou faminto só de imaginar o que havia por debaixo de todo daquele tecido.

Depois que saiu, fui até a parede de vidro observar enquanto caminhava para os elevadores. A moça tentou parecer confiante todo o tempo, mas pude sentir que tinha fragilidades. Queria mais tempo para, ao menos, conhecer seus defeitos antes de assumi-la para o país como minha futura esposa, mas agora era tarde e estava feito.

Iria noivar com uma de minhas funcionárias.

Sem grana, sem estirpe, sem influência, sem cultura...

A mídia faria uma festa em cima da situação e meu pai ficaria completamente puto por ter uma desclassificada na família. 

Os jogos estavam apenas começando e finalmente me sentia animado para começar a brincar...

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