4 A ESCOLHA

DANIEL ALENCAR

Faltava menos de uma semana para a celebração e os preparativos para o grande dia estavam a todo vapor.

Tudo estava sendo organizado com muito requinte para receber o corpo de acionistas e investidores, além de muitos amigos, empresários e alguns figurões da cidade. Seria algo relativamente pequeno, para cerca de 300 convidados e mais umas sessenta personalidades da mídia. Porém grandiosamente sofisticado, com toda a ponta e circunstância que o noivado de um herdeiro de família tradicional deveria ter. A imprensa estava em polvorosa tentando descobrir qualquer detalhe sobre a festa mas, principalmente, queriam saber quem era a noiva misteriosa que seria apresentada ao mundo dentro de poucos dias.

As especulações passavam por mulheres que já haviam sido flagradas em minha companhia e iam até as personalidades mais improváveis do submundo das web celebridades. No entanto, ainda não havia realmente tomando uma decisão sobre qual das candidatas faria o papel como a futura esposa.

Laura tagarelava a respeito dos preparativos quando Emílio cortou:

_ Parece que será um grande evento Laura, _ o senhor negro concordou com um sorriso sacana na cara _ mas será que vamos ter uma noiva de carne e osso ou vamos presenciar o Alencar escandalizando a todos enquanto coloca um anel de diamantes no próprio pau inflado diante dos convidados? _ me encarou debochadamente.

Laura também pareceu se divertir com a pergunta e aguardou a resposta:

_ Lógico que vai haver uma garota! _ confirmei sério, mas logo afrouxei o riso _ Só não decidi qual delas merece a honra de ser esposa do cara mais gostoso da cidade.

Laura cruzou as longas pernas e se posicionou melhor na poltrona preta:

_ Seria bom se a escolhida soubesse com alguma antecedência que vai ficar noiva, não acha? _ a pergunta veio carregada de ironia e repreensão _ A coitada vai precisar de tempo ao menos para aprender a lidar com essa sua presunção.

Mas antes que pudesse responder, Emílio lançou as palavras:

_ Deveria contratar a tal da Jessica Marinho. É bem nascida, bem educada, gostosa pra um cacete, já viajou metade do mundo... Parece perfeita pra você Alencar. _ aconselhou assertivo.

Olhei para uma das pinturas abstratas que decoravam as paredes do amplo escritório sem janelas e ponderei por um instante, realmente essa Jessica era o melhor que tínhamos conseguido até o momento. Nos encontramos algumas noites antes mas, para ser honesto, brochei completamente com a situação.

A garota era linda.

Ruiva, olhos verdes, os peitos pareciam querer estourar o tecido do vestido fino que usava de tão duros. Tinha 23 anos, formada em moda na universidade de New York, teve uns dois relacionamentos que duraram alguns anos com caras que até que poderiam ser considerados respeitáveis. Ela parecia mesmo adequada.

O problema é que não consegui sequer suportar o teor da conversa da garota.

Era chata! Mimada ao extremo, com uma porrada de opiniões e pretensões ridículas sobre o que poderia ser nosso relacionamento de mentira. Sua voz, aguda, era tão estridente que fazia meus tímpanos latejarem a cada palavra, quis enfiar o pau na boca dela apenas com a intenção de mantê-la ocupada com qualquer outra coisa que não fosse falar. Claro que não precisaria conviver com a conversa fútil de qualquer mulher que fosse após firmar o contrato, mas seria interessante se, ao menos, tolerasse a companhia da minha futura esposa:

_ Essa foi a mais irritante até agora Emílio! A garota não parou de falar um minuto, se acha dona do universo por ser a caçula dos donos da emissora. _ desdenhei e finalmente pedi o que queria _ Laura, mande chamar funcionária bonitinha do elevador, quero ter uma conversinha com ela.

Precisava falar com a garota apesar de, àquela altura, já estar a par de quase tudo que parecia ser importante para se saber sobre ela.

Quando me aproximei dias antes, confirmei o que suspeitava: A moça parecia a porra de um anjo! Era simplesmente linda, com uma carinha de santa que fez meu pau pular na mesma hora e fiquei completamente excitado pela forma como reagiu no elevador. Seus olhos azuis eram contornados por longos cílios de boneca, o nariz pequeno era fino e empinado. Tinha os lábios cor de rosa e imaginava que os bicos dos seios e sua bocetinha acompanhavam o mesmo tom. O corpo era pequeno, mas muito bem feito nas curvas que pude notar por debaixo de suas roupas baratas. Seu cabelo claro cintilava, estava preso na parte da frente em um rabo de cavalo alto, mas descia solto até a cintura por suas costas. Parecia uma das musas das pinturas de Botticelli, tinha altivez ainda que possuísse uma doçura quase inocente em seu olhar. Perdi realmente muito tempo admirando aquele rosto que me encantou com sua doçura.

Quando perguntei seu nome a moça pareceu entrar em choque. Devia saber muito bem quem sou e estava acostumado com a expressão de pânico que minha simples presença causava em alguns funcionários. No entanto, a garota respondeu calmamente e ainda teve a audácia de sustentar seu olhar no meu como se estivesse incomodada ou algo assim e foi naquele momento que me senti realmente hipnotizado por aqueles olhos. Eu tinha que provoca-la, saber do que era feita... então fui direito ao ponto e passei a cantada de leve. A menina ficou vermelha com meu elogio a sua aparência e quis rir da sua incapacidade de esconder o que estava sentindo. Estava pronto para vê-la abrir um sorriso, desviar o olhar ou qualquer coisa que uma garota faz quando está flertando com um cara.

Mas não.

Ao invés de virar a cara ou simplesmente agradecer com um sorriso antes de me passar seu número, me encarou frieza e praticamente me mandou tomar no cu de uma forma educada. Me senti tratado como um pedaço de bosta e comecei pensar em como a colocaria em seu lugar _ que gostaria que fosse de quatro chupando meu pau _ quando a porra do elevador se abriu. Confesso que a atitude de minha pequena presa foi muito diferente do que esperava, mas lá fundo até que gostei disso.

Quando retornei ao escritório, solicitei que fosse feita toda a investigação e as informações que recebi no dia seguinte foram: Se chamava Maria Clara Assunção, tinha vinte anos e trabalhava para mim desde os dezoito. Era natural do interior do estado e tinha origem "humilde", o que significava que era pobre e sem estirpe. Era órfã de pai e mãe e aparentemente morava sozinha na cidade, estudava contabilidade e morava num muquifo alugado em algum lugar medonho da periferia. Ainda não havíamos encontrado nada sobre relacionamentos antigos e muito pouco sobre suas amizades, mas tudo que foi levantado sobre sua conduta dentro empresa era positivo. Era uma funcionária modelo e havia acabado de ser promovida a assistente por seu esforço e competência, tudo levava a crer que era ambiciosa e tinha o objetivo de construir uma carreira dentro da corporação.

Aquela moça estava longe de minhas expectativas em muitos quesitos, principalmente por ser "baixa renda" demais, mas tinha o fator determinação a seu favor, o que me fazia pensar no quanto estaria disposta a fazer para crescer na vida:

_ Não acredito que ainda está considerando está caipira como candidata. _ a assessora retrucou estarrecida _ É só olhar para ela e ver que saiu de algum buraco sujo, pelo amor de Deus Daniel! _ enfatizou muito seca.

_ Tem alguma coisa ali Laura, sabe que meu faro não costuma se enganar. _ retruquei antes de provar um gole de whisky.

A mocinha me enfrentou como igual me tacando um balde de água fria com a maior naturalidade e, na minha concepção, poderia ser facilmente confundida com uma de nós se usasse a roupa certa:

_ Potencial ela parece ter, poderíamos ensinar o que lhe falta. Não há ignorância que algumas aulas de etiqueta não possam mascarar. A garota é inteligente o suficiente para aprender o quer que seja e com essa dedicação toda para subir de cargo, estou certo de que vai fazer o que for necessário para subir na escala social também. _ argumentei e prossegui passando o ponto vista _ Essa coitada pode ser facilmente administrada e creio que alguém com suas origens dará muito mais valor a oportunidade de fingir que é noiva de um milionário. Me fala a porra de um favelado que não sonha em ter vida de rico? _ finalizei, cuspindo a pergunta retórica.

Meus funcionários mais próximos se entre olharam e o conselheiro foi o primeiro a se manifestar:

_ Bom, alguém tão jovem que superou tantas adversidades... essa menina tem uma bela história pra contar e a mídia adora enaltecer esse tipo de coitadinha. _ pontuou Emilio.

O coroa pareceu compreender meu ponto de vista, mas a sapatão caminhoneira que se travestia como assessora corporativa de elite fez questão desdenhar:

_ Vai mesmo repetir o conto da gata borralheira pra sociedade, Alencar? Os jornais vão rotular essa infeliz como o pior tipo de interesseira. _ menosprezou.

Sabia que Laura tinha alguma razão, aquilo poderia ser um tiro no pé caso desse errado, mas estava curioso sobre aquela moça atrevida que não conseguia tirar da cabeça então, sem medir as palavras, ordenei:

_ Foda-se Laura! Vá buscar a garota e depois lidamos com a mídia. _ o tom rígido que usei bastou para fazer minha assessora calar a boca e dirigir-se indignada para fora do escritório.

Laurinha era uma de minhas melhores amigas, me conhecia muito bem e sabia que não valia a pena bater de frente quando decidia alguma coisa. Mesmo que vivêssemos para trocar farpas, éramos sinceros e gostávamos verdadeiramente um do outro por sermos parecidos em muitas coisas. Logo que minha parceira fechou a porta me dirigi novamente a Emílio:

_ Já perdi muito tempo com mais de cem garotas iguais nas últimas semanas, não vai custar tanto conversar com a única diferente por cinco minutos.

O diretor ergueu as sobrancelhas em uma expressão de concordância e se levantou antes de dizer:

_ Só espero que depois dessa menina você finalmente tome alguma decisão. Ainda há muito a fazer antes que o noivado aconteça e não temos mais tempo pra ficar enrolando. Cara... _ Emílio começou a se afastar em direção a porta, mas me lançou um olhar de cobrança antes de sair _ Apenas escolha qualquer uma e vamos esperar para ver em que merda isso vai dar.

Capítulos gratis disponibles en la App >

Capítulos relacionados

Último capítulo