☯ A verdade é que tudo o que nasce tem que morrer, tudo o que existe um dia vai deixar de existir e por muito que custe a aceitar, a realidade é esta ☯
- Estás bem, pequenina? - perguntou uma pantera negra com bonitos olhos roxos olhando para baixo - Ficaste magoada?
Angel levantou-se rapidamente e observou bem a pantera negra com quem tinha chocado, a mais nova nunca a tinha visto por ali. E o mais importante, nunca tinha visto um felino da sua espécie com aquela coloração nos olhos.
- Estou bem - disse ela depois de a observar por completo - Não és daqui pois não?
A pantera mais velha olhou surpreendida para a pequena, mas logo deu um sorriso mostrando as suas presas finas e afiadas, quando estava prestes a responder, foi interrompida por uma voz masculina.
- Angel! Não te podes afastar assim sem... - o felino negro parou de falar ao ver a pantera na sua frente - Rainha Alari - murmurou baixando a cabeça logo em seguida.
- Noah, fico feliz que estejas bem - falou a pantera olhando para ele e depois para Angel - É a tua cria?
- É sim.... Quero pedir desculpa - disse Noah baixando as orelhas em sinal de respeito. Enquanto se aproximava da sua cria, tinha conseguido ouvir uma parte da conversa - Ela não sabia quem era.
- És a Rainha? - perguntou a pantera mais nova recebendo um olhar de reprovação por parte do seu progenitor, não era assim que se tratava a família real.
- Não tem problema, Noah - falou Alari vendo o que se estava a passar - Afinal eu sei bem como eles são nesta idade.
Quando a Rainha das Panteras acabou de falar, moveu a sua pata esquerda um pouco para trás, revelando um vulto negro com a ponta das orelhas brancas e olhos roxos iguais aos da mãe. Angel percebeu que aquela cria era um pouco mais velha que ela, mas a diferença não era muita.
A pequena logo se aproximou da cria da Rainha, talvez ela quisesse brincar.
- Olá! - exclamou Angel animada - Queres brincar?
A cria com a ponta das orelhas branca não disse nada, apenas ficou a olhar para Angel sem mexer um músculo. A Rainha, por sua vez, deu um leve empurrão na sua cria com a pata para que ela dissesse alguma coisa. Mas continuou tudo em silêncio.
- Não sabes falar? - questionou Angel confusa, era de esperar que uma cria daquela idade já falasse normalmente. A pergunta da mais nova fez Alari dar uma pequena gargalhada e baixar a sua cabeça para dar uma lambidela na sua cria.
- Sabes... Ele não é muito de sair de casa para brincar com outras panteras - explicou a Rainha. «Ele?!» pensou Angel ainda mais confusa.
A felina mais nova estava prestes a dizer mais alguma coisa, quando a borboleta com quem ela tinha brincado mais cedo lhe passou à frente do focinho, pousando no mesmo. Ela logo sentiu aquela comichão de novo, acabando por abanar a cabeça e fazer com que a borboleta levantasse voou.
- Queres brincar de apanhar borboletas? - perguntou Angel olhando novamente para a cria da Rainha.
- Borboleta? - finalmente o pequeno felino tinha dito alguma coisa, porém olhava confuso para o pequeno animal que ainda voava por cima da cabeça de Angel - O que é uma borboleta?
Agora foi a vez de Angel olhar confusa para ele, como é que alguém não podia saber o que era uma borboleta? Afinal era um animal que se via muito por ali. Ainda confusa, a pequena pantera olhou para a Rainha à espera que ela lhe dissesse alguma coisa, mas tudo o que recebeu foi um aceno positivo por parte da mesma.
- Bem... a borboleta é este animal que está a voar por cima da minha cabeça - explicou Angel olhando momentaneamente para cima - São pequenos, mas têm muitas cores.
- Muitas cores... - murmurou o felino observando bem o inseto - Dá para brincar com eles?
- Sim! - exclamou Angel dando pequenos saltos tentando apanhar a borboleta, porém ela conseguia fugir a tempo.
A cria da Rainha tinha finalmente decidido juntar-se à brincadeira, com passos rápidos, ele aproximou-se e deu um salto. Mas, por incrível que pareça, o pequeno felino tinha conseguido apanhar a borboleta, mantendo-a presa entre as suas patas.
- Assim vais magoá-la! - disse Angel olhando para as patas do felino ao seu lado. Ao separar as patas, o que a pequena pantera viu deixo-a triste. A borboleta estava com uma das asas totalmente destruída e, pelos vistos, parecia estar morta. Chocada com o que tinha acabado de acontecer, correu para perto do seu pai, colocando-se do meio das suas patas.
- Ele matou a borboleta... - murmurou Angel com os olhos molhados, apesar de não ser um animal muito importante, ela gostava daquela borboleta e por algum motivo, teve vontade de chorar quando a viu assim.
Noah olhou para a Rainha e depois para a cria com a ponta das orelhas brancas, ele parecia arrependido, o que tinha acabado de acontecer não passava de um pequeno acidente. Ele baixou a cabeça e começou a dar lambidelas na sua cria para a acalmar.
- Ele não fez por mal, Pequena Noite - falou o felino calmamente - Mais cedo ou mais tarde aquela borboleta iria morrer, nem tudo pode durar para sempre.
Angel esfregou o seu pequeno focinho na pata do pai para limpar as suas lágrimas, mesmo o que o seu progenitor tinha acabado de falar fosse verdade, aquele pequeno inseto não merecia morrer daquela forma.
- Mas... Ela ia viver durante mais um tempo... - murmurou a mais nova olhando para o pai - Pelo menos, tu vais durar para sempre.
- Não, Angel - disse Noah encostando a sua cabeça à da sua cria - Nem mesmo eu vou durar para sempre.
- Mas... - a pequena cria tentou falar, mas o seu pai deu-lhe uma lambidela na cabeça e voltou a sua atenção para a Rainha. A mesma estava com a sua cria entre as patas e ele parecia não estar muito bem, logo Angel percebeu que era por causa do ocorrido. Ela decidiu aproximar-se para tentar falar com ele e dizer-lhe que aquilo não era nada assim de tão grave.
- Desculpa... Eu não queria matar a borboleta - falou o felino negro com a ponta das orelhas brancas, olhando para Angel.
- Não tem problema - disse a mais nova - Se não tivesses sido tu, teria muito provavelmente sido eu.
A cria da Rainha levantou-se a aproximou-se de Angel, já tinha deixado aquilo de lado, afinal não vale a pena culpar alguém quando o que aconteceu foi apenas um acidente. Os dois começaram a brincar novamente, mas desta vez corriam atrás um do outro e não de algum outro animal.
- Noah! Conseguiste encontrá-la? - perguntou uma pantera negra com olhos azuis aproximando-se, ao ver a Rainha, ela baixou um pouco a cabeça em sinal de respeito - Rainha Alari.
- Wave... Já disse que não gosto desse tipo de coisas - falou a Rainha um pouco desconfortável - Não à razão para isso.
- Consegui - falou o felino olhando para o seu lado esquerdo, onde as duas crias ainda estavam a brincar.
- Parece que fez um novo amigo! - exclamou Wave aproximando-se das crias, pouco tempo depois também ela estava ali a brincar com eles.
- Desculpa a pergunta, Rainha Alari... - começou Noah, a felina negra olhou para ele em um sinal para que continuasse com o que aí dizer - Mas qual era a razão para a tua cria não saber o que era uma borboleta?
- Ele não sai muito da caverna... - suspirou a pantera - Hoje consegui tirá-lo de lá porque o pai dele não estava a ver.
- O Rei Tirosc? Mas ele não o deixa sair? - perguntou o felino confuso, nunca tinha pensado tal coisa do Rei das Panteras Negras, afinal ele é que o tinha promovido de um guerreiro comum para um guerreiro da Guarda Real. Nem todos conseguiam ir para essa guarda, os membros que a integravam eram os que protegiam a família real, e apenas quem era de confiança e que tinha as habilidades suficientes conseguia entrar.
Noah já fazia parte da Guarda Real muito antes da sua cria nascer, conseguiu entrar graças ao seu esforço. E era uma coisa de que ele se orgulhava muito, apesar de ser perigoso em algumas situações, proteger a família real era uma honra. Devido ao seu posto, o Rei tinha-lhe entregado a arma que estava presa à sua cauda, apenas os que pertenciam à Guarda Real podiam ter armas daquele calibre, mas a sua era a única, nenhum outro membro da Guarda Real tinha conseguido aquela arma.
- Nem por isso... - murmurou Alari, estava prestes a falar mais alguma coisa quando um vulto negro que se aproximava rapidamente a impediu de continuar.
- Posso saber o que se está aqui a passar? - rosnou um grande felino negro aproximando-se com raiva, e isso dava para ver perfeitamente no seu focinho - Já disse várias vezes que não quero que ele saia da caverna!