Jason
O ronco da moto cortava a noite, mas não era mais suficiente para abafar o que eu sentia. Uma dor que rasgava o peito, um vazio que engolia tudo. Acelerei, rasgando a estrada sem rumo, sem lógica, como se a velocidade pudesse apagar a imagem dela. Como se pudesse me fazer esquecer. Mas não fazia. Só aumentava o peso. Só fazia o lobo dentro de mim uivar mais alto.
Parei num bar qualquer, um buraco imundo onde o ar cheirava a cigarro velho e desespero. Era perfeito para a merda que eu tinha virado. Sentei no canto mais escuro, pedi um copo de uísque. Depois outro. E mais outro. Perdi a conta, perdi o tempo, mas o álcool queimando na garganta não apagava a dor. Não apagava ela. A imagem daquele olhar, aquelas palavras que ainda ecoavam na minha cabeça, cortantes como lâminas: