Girei na direção da entrada ao mesmo tempo, em que apertei a mão fria de David, um arrepio correu minha espinha logo que cruzei com os olhos do diabo. Ele sorria de canto, enquanto saudava os convidados, desfilando entre os corpos como o astro que sentia ser. Seus passos cravavam em linha reta, sem desvio, nós éramos seu destino.
Impossível não se alterar, meu todo gritava por socorro e, mesmo se houvesse uma saída estratégica a qual pudesse escapar, David não permitiria, seus dedos esmagavam os meus, fundindo-se, álgidos. Houve três oportunidades para eu evitar tal confronto e como golpes no estômago elas feriam meu abdômen.
Puta merda, queria vomitar. A ânsia torturou…
Ele cada vez mais próximo... Minha garganta fechou.
O ar trepidou purgante.
Senti os olhares queimarem ao meu redor.
Senti o homem ao meu lado respirar pesadame
— David… — Meus olhos temendo incertezas implorou por uma explicação. — O que há entre vocês?— Aurora, você não faz parte disso.— Ah, faz sim — o ardiloso murmurou dando dois passos em nossa vertente. — Bolsista e estagiária da WIS, posições até então abominadas para as namoradas dos herdeiros, isso a julgar de qual herdeiro estamos falando.— Não vou admitir que traga essa maldição para esse ambiente, Nicholas — esbravejou o pai.— Não? Por quê? — Havia um tom amargo no seu questionamento. — Talvez o filho prodígio não mereça ser condenado por seus atos pérfidos, é isso?Ergui o rosto e encarei David, silencioso, fisionomia nebulosa, estrutura afetada. Sim, esse conjunto delatava, ocorreu uma traição entre eles,
Ao mesmo tempo que a distância — era negada —, uma vez que me afastaria da verdade. Havia uma verdade e uma mentira.Claro que sim!Havia uma explicação lógica para que todo o dito desaparecesse como pó…, não?— Ele está ali. — A voz de Nicholas bateu nas minhas costas, assim como alguns passaram por mim à procura de quem importava. — O que você ainda faz aqui…? — o sussurro entoou severo ao pé do ouvido, violando o pouco de estrutura que ainda restava. Vi seguindo o rumo aos demais, o patrono era o foco de todos.Respirar… preciso de ar.Recuei a passos curtos, incertos, observando David em seu desespero culposo em salvar o pai. Meu tronco chocou o batente, então me guiei para longe, esbarrando em pessoas, evitando olhares, quando os meus sangravam em lágrimas. Nem sei como senti a brisa, nem sei como encontrei
Desci do carro sentindo o gelado do asfalto trapejar meus pés, caminhamos na direção do mar, a brisa fresca elevando meu vestido, tal como alguns fios soltos do meu cabelo que desprenderam do coque. David com as mãos nos bolsos frontais, temeroso. Calado. Aturdido. Implorei para o grande oceano que levasse consigo meus receios conforme nos aproximávamos, não estava preparada para a conversa, não a queria. Mas teríamos. Paramos de frente para o mar, lado a lado, olhos seguindo longe, então resolvi falar:— Há quatro anos, um cara chamado Caio, o popular, astro da banda da escola, lindo, sexy, galante, me pediu em namoro. Eu, uma menina iludida com aquele fascínio, com a declaração no meio de um show, com a devoção que ele demonstrava em cada palavra… — Encarei os olhos nebulosos, escuros, dilatados.— Melissa, minha irmã, meu porto seguro depo
(...)7 anos exatos do passado.— O Nicholas não está — mencionei ao abrir a porta e me deparar com a Eduarda —, e eu estou de saída, isso significa que é melhor você ir embora.Ela colocou o pé na porta impedindo que eu a fechasse.— Nossa, que grosseria!— Eduarda, sem drama. — Desviou as íris azuis para o meu tórax descoberto. — Cadê a Maria? Você abrindo a porta é bem estranho!— Foi ao mercado.— Certo — disse e ergueu na altura dos olhos os livros que carregava. — Nick pediu para esperá-lo aqui, vamos estudar, preciso de ajuda em economia. Posso entrar?— Tudo bem, o espere na sala. — Abri passagem.— Pode continuar o que estava fazendo, não quero atrapalhar.
Meu mundo parou no exato momento em que não tinha mais os olhos da Aurora na direção dos meus, se era ciente do tamanho do amor que sentia por ela, no segundo que a vi partir tudo ficou sagaz demais, excruciante demais, insuportável demais. Eu amava tanto aquela mulher que pela primeira vez perdi os sentidos, o rumo, a coerência do significado da vida.Magoá-la; Decepcioná-la;Presenciar lágrimas tristes escorrer dos seus olhos por minha causa, tal como seu coração sangrar com as merdas que fiz, era o mesmo que fincar um punhal no meu peito, mesmo assim, a dor do corte profundo não se comparava ao que sentia. Perder minha garota não era uma opção, caso acontecesse, optaria pela morte.(...)Com as vozes de Aurora Baker:— Aurora…, acordaaa… — Senti um toque suave nas minhas costas, p
— Obrigada — agradeci e amarrei as faixas ao redor da cintura. — Já começo hoje?Tentei entender a contratação rápida e confusa.— Sim, pensei que fui claro em relação a isso.Não, nem pensar.— Sim, claro que foi — menti descaradamente. — Preciso de um minuto para fazer uma ligação.Ele curvou os lábios, mas consentiu a contragosto.Pisei a passos largos até a saída dos fundos, sendo monitorado com os olhos de águia do meu novo chefe. Os fundos era um espaço pequeno, com cestas de lixo enormes e um cheiro de gordura um pouco enjoativo, me afastei da porta para não levar uma portada caso uns dos funcionários resolvessem fumar no local, ou dispensar o lixo. Bem essa era uma das minhas funções naquele início. Por fim, saquei o celular e liguei para o Brasil.
— Pare, senhor, pelo amor de Deus, pare! — gritou de longe um dos empregados ao ouvir o estilhaço de mais um copo ao se chocar na parede.A fúria que queimava meu corpo trouxe consigo um desejo inacabado de quebrar tudo à minha volta, talvez fizesse isso se estivesse em outro lugar, mas como estava na mansão e meu pai, embora distante estava meramente debilitado, adiei por ora a decisão de destruir o mundo, caso Deus me desse aquela chance.Não era justo.Nunca me entreguei para o amor, nunca me entreguei a uma mulher, a Aurora é… não suportaria novamente a dor de perdê-la. Não suportaria o castigo de nunca mais tocá-la. De não gozar das sensações que aquela garota provocava no meu corpo.Que porra de golpe.Que caralho de covarde eu fui.Houve inúmeras chances de abrir o jogo, de contar a origem daquele ódio ou d
— Valéria, estou ficando bem confuso se sou eu o chefe ou o contrário — questionei, ocupando o banco traseiro do carro. John acenou com a cabeça garantindo que estava tudo certo para seguirmos. — Desmarque todos os meus compromissos nos próximos quinze dias. Qual é a dificuldade?No que conhecia minha assistente era provável que estivesse a ponto de um enfarto. Talvez devesse informar os paramédicos do Brasil, apesar de teimosa, Valéria era a melhor mais capacitada, além de uma velha amiga que me conhecia como a palma da mão.— David, como assim? Meu Deus, são muitos compromissos, alguns inadiáveis, outros que custaram alguns milhões. O que eu faço?— Resolva, pago você para isso. — Meu tom não soou tão áspero quanto as palavras. — Moleza… você consegue.— Peço demi