Capítulo 2

Nem seria necessário dizer que,naquele momento, Miguel sentiu-se um perfeito idiota.

Preferiu então não tocar mais no assunto da união de seu irmão com aquela criatura fascinante.

Desviou o assunto, deixando para mais tarde o inevitável.

Enquanto isso, Joelma falava e falava deixando-o cada vez mais extasiado com o delicioso som de sua voz.

A rota do ônibus agora entrava na pequena cidade tão familiar.

O chão já não era de barro indicando que o progresso, de alguma forma, havia chegado ali.

Mas a sorveteria, a escola de ensino fundamental e o mercadinho da praça central continuavam lá.

A igreja lembrou-o das divertidas manhãs de domingo e daquele tormento para que todos estivessem pontualmente no local antes da última badalada do sino.

O desespero de sua mãe para que os dois estivessem devidamente apresentáveis ou pelo menos com os cabelos penteados e os pés calçados.

Isso sem contar o trabalho para os tirarem das camas.

Tudo isso para não serem alvo de comentários maldosos. Principalmente para não matarem sua mãe de vergonha e não provocarem um colapso no pobre padre ao revidarem com pala-vrões e gestos obscenos.

-Estamos quase chegando – observou Joelma.

Ele sabia disso. Sentiu o estomago revirar e ficou sem fôlego por um instante.

Será que havia feito a escolha certa? Questionava se fora um covarde deixando tudo para trás.

As lembranças, os amigos que tinha feito...

Por mais que pensasse e concordasse que, se quisesse reestruturar-se novamente, teria que ser ao lado das pessoas que ainda o amavam.

Essa era a questão: será que ainda o amavam após tantos anos de ausência e talvez de indiferença de sua parte.

Realmente não sabia, mas dentro de alguns minutos, iria ficar sabendo.

O ônibus parou e o ponto em que desceram estava deserto.

-Vamos, não fica longe – comentou Helena desnecessariamente.

Miguel aspirou o ar do ambiente. O sol batia em seu rosto.

Chegando em casa, percebeu o por quê de toda aquela quietude.

Então era isso! Uma festa surpresa de boas-vindas.

Na verdade, naquele momento não sabia o que estava sentindo.

Mas, com certeza, não era surpresa apesar de tudo.

Era mais uma mistura de perplexidade com uma vontade louca de sair correndo dali.

Abandonou os pensamentos e deixou-se ser cumprimentado, beijado e abraçado. Houve trocas de apertos de mãos.

Sua mãe até que tentou se controlar fazendo-se de forte, mas, desabou no momento em que lhe sorriu timidamente.

-Meu filho, eu... Eu...

A frase não foi completada por que a partir daí iniciou-se uma sessão de choro.

À mãe seguiram-se as tias e outras pessoas que pertenciam ao seu passado.

Ele gostaria muito, mas muito mesmo de ter ficado comovido e sensibilizado, mas sentia-se um impostor de alguma forma. Talvez um hipócrita.

Notou que Joelma sumira e nada de seu irmão aparecer. A festa transcorria.

Distribuiu algumas lembranças que havia comprado de ultima hora com o que o pouco dinheiro que tinha permitira.

Começou a ficar mais a vontade com a situação.

Mas onde estaria Zeca?

Chamou a mãe num canto.

-Onde está meu irmão?

-Daqui a pouco ele vem. Joelma foi buscá-lo.

Ele notou certo desconforto por parte de sua mãe.

Enquanto isso, a festa transcorria com tranqüilidade.

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