Através da Cortina de Lembranças
Através da Cortina de Lembranças
Por: Mister Jota
Capítulo 1

Muita coisa acontecera naqueles últimos dez anos.

Havia se afastado completamente da família e dos amigos desde que se mudara para o interior de Minas Gerais.

No principio trocava cartas com seu pai, sua mãe e, principalmente com seu irmão gêmeo, Zeca.

Que seus pais nunca soubessem disso, mas, sem sombra de dúvidas seu mano era a pessoa mais querida do mundo para ele.

Mas mesmo de Zeca, com o passar do tempo, acabou se distanciando.

Vida corrida essa de trabalhador assalariado.

Não lhe sobrava muito tempo para as pessoas queridas que estavam distantes.

Saía de casa de madrugada e voltava à noite. Nesse momento o cansaço lhe vencia e aquela carta ou aquele telefonema acabava ficando pra amanhã.

Por esse motivo passaram a ser raros.

Toda a família reclamava do aparente abandono por parte dele.

-Você esqueceu sua família, Miguel! – queixava-se sua mãe nos raros telefonemas que ele podia atender.

Apenas Zeca compreendia sua situação.

-Preocupa não, mano. A mãe é assim mesmo. Cuida de tua vida por aí que eu cuido da mãe por aqui.

Coisa de irmão.

Depois veio o casamento com Helena.

Passou a dividir-se entre o trabalho e a esposa.

Os telefonemas e as cartas ficaram ainda mais escassos.

A mãe passou a culpar Helena.

-Depois que você arranjou essa mulher que eu só vi por foto, você esqueceu de vez sua família. Seu pai diz que agora só tem um filho.

Novamente apenas Zeca parecia entender seu problema.

Aí veio o acidente.

Ele no volante, Helena grávida e aquele motorista bêbado fechando seu caminho em alta velocidade.

Ao desviar-se do carro que lhe fechava, foi atingido por um caminhão de cerveja.

Seria engraçado se não fosse trágico: um motorista bêbado e um caminhão de cerveja.

Saiu da estrada. Capotou uma, duas, três vezes.

O cinto de segurança o salvou.

Helena retirou o seu porque lhe apertava a barriga.

Pôde ainda ver seus dois amores saírem de sua vida de forma trágica.

Helena morreu e o fruto do amor dos dois teve o mesmo destino.

Ele apenas sobreviveu após uma complicada cirurgia.

Por milagre, sem seqüelas aparentes.

Continuou afastado da família. Agora por causa do álcool.

Entregou-se ao vicio da bebida numa desesperada tentativa de aliviar a dor que sentia.

Passou anos vagando pela vida como um zumbi.

Um zumbi bêbado e amargo.

Os amigos que havia feito na cidadezinha que residia, preocupados, praticamente o obrigaram a lutar contra o vicio da bebida e contra a tristeza que o consumia e parecia eterna.

Agora estava completamente recuperado.

Porém muito tempo se passou.

Acabara de descer na rodoviária.

Estava de volta à sua terra natal. Voltaria a ver sua família.

E esse era o grande problema.

Não sabia como seria recebido por seus pais e, principalmente pelo seu irmão.

Aquele que mais o defendera perante a família fôra o mais esquecido.

Miguel apenas concordava com frases curtas.

Não conseguia pensar ou se concentrar em alguma outra coisa que não fosse o rosto e o corpo de Joelma.

Estava fascinado e maravilhado.

Era a primeira vez que se sentia daquele jeito desde o falecimento de sua esposa.

Foi tomado por um sentimento de carinho pela sua interlocutora. O carinho tornou-se desejo e este, tornou-se paixão.

Miguel fôra tomado de sentimentos num período incrivelmente curto de tempo.

-Talvez o destino esteja me compensando por todo aquele sofrimento que passei recentemente - pensou.

Não havia mais dúvidas em sua cabeça. Haveria de ter Joelma consigo. Namoraria com ela e, quem sabe, até casaria. Com ela encontraria a cura para sua tristeza e sua solidão. Decididamente, estava apaixonado. E iria até o final por aquele sentimento.

Suspirou. Já havia esquecido como aquela sensação era boa.

Agora só precisava conhecê-la melhor.

-Como você conheceu minha família, Joelma?

-Casando com seu irmão.

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