Desliguei o telefone e olhei calmamente para Leonard.
— A Lily está planejando a viagem de aniversário dela e quer que eu vá junto.
Leonard continuava com as sobrancelhas franzidas, claramente descontente.
Ele me fitava como se quisesse enxergar minha alma, e perguntou, desconfiado:
— Viagem? Só vocês duas? Por que o Alfa Mike não comentou nada?
Afastei sua mão e dei um passo atrás, respondendo de forma evasiva:
— Sim, é uma viagem entre amigas que planejamos faz tempo.
Vendo minha postura firme, Leonard finalmente suspirou aliviado e me entregou a sacola de papel.
Aquela sacola vinha da minha confeitaria preferida.
Antes de Judy se mudar para a nossa alcateia, toda vez que eu ficava chateada, Leonard comprava bolos desse lugar para me alegrar.
Ele não hesitava em enfrentar duas horas de fila.
Ficava com pena dele e sugeria que comprasse em outra confeitaria, uma menos popular.
Mas ele me abraçava e dizia baixinho:
— Não tem problema, Mia. Se você ama esse bolo, fico na fila com prazer.
Eu não esperava que ele ainda se lembrasse disso...
A lembrança calorosa aqueceu meu coração e, animada, abri a sacola.
Mas um cheiro ruim invadiu minhas narinas, e uma má impressão tomou conta de toda minha alegria e expectativa.
No instante seguinte, fiquei paralisada.
— O que é isso?
Dentro da sacola, não estava o bolo que eu imaginava, mas duas peças de roupa impregnadas de cheiro de álcool.
Uma era o paletó de Leonard, a outra era a camisa de seda que Judy usava naquela noite.
Diante da minha pergunta, Leonard baixou a cabeça, visivelmente sem jeito:
— A Judy disse que essa é a camisa de seda preferida dela, precisa ser lavada à mão. Ela está grávida, não pode se esforçar muito. Trouxe para casa...
Antes, para garantir que as roupas dele estivessem impecáveis, eu nunca usava a máquina de lavar, lavava tudo cuidadosamente à mão.
Nunca pensei que ele me pediria para lavar as roupas de Judy.
Senti o nariz arder, quase chorei, mas ainda assim assenti. Já que estava de partida, faria o que ele pedisse. Seria meu ponto final para essa história.
— Querida, você é mesmo gentil!
Leonard interpretou tudo como um gesto carinhoso meu e não percebeu meu estranho comportamento.
Ele me abraçou diante da máquina de lavar.
Nesse momento, o telefone de Judy tocou. Ela chorava, dizendo que teve um pesadelo e que o bebê estava agitado em sua barriga.
— Leonard, além de pedir para a Mia lavar minhas roupas, ainda vou te chamar para vir aqui. Será que a Mia vai ficar brava comigo? É que estou com muito medo de ficar sozinha em casa. Você pode avisar a Mia e vir ver como eu e o meu bebê estamos? — A voz chorosa de Judy soava nítida do outro lado da linha.
Nervoso e culpado, Leonard abafou o telefone com a mão. Ele parecia apreensivo.
— Vou lá ver como ela está. Antes da meia-noite, prometo voltar para casa com o seu bolo preferido.
— E se você não voltar? Vai descontar no meu vale-desculpa de novo? — Engoli o amargor no peito e perguntei, como se ainda me agarrasse a uma última esperança.
— Pode ser. — Ele sorriu leve. — Fica tranquila, volto antes da meia-noite. Você não vai ter a chance de descontar esse cupom.
— Tá bom.
Baixei os olhos, ouvindo mais uma vez sua promessa de sempre, e percebi que minha última esperança também se esvaiu.
Restou apenas um cansaço profundo.
Depois que ele saiu, comecei a arrumar minhas coisas devagar.
O relógio marcava meia-noite e Leonard não voltou.
Mas recebi uma mensagem provocativa de Judy.
— Leonard não vai voltar, ele está me ajudando a assar pernil de cordeiro.
Continuei arrumando minhas coisas. Quando peguei a mala e saí de casa, mandei minha última mensagem para ele.
— Leonard, seu vale-desculpa já acabou faz tempo. Nosso vínculo de companheiros está rompido.
Após confirmar o envio da mensagem, joguei o celular no lixo.
Em seguida, peguei minha mala e saí, sem olhar para trás.