As Luzes Que Nunca Me Alcançaram
As Luzes Que Nunca Me Alcançaram
Por: Amargelícia
1
Estela sempre achava que o Lorenzo via Helena apenas como uma irmã, alguém mais nova que ele, só isso.

Mas naquele álbum, Helena aparecia sorrindo, dormindo, chorando. Cada clique era cheio de um carinho que não era só de família— era amor de homem e mulher, claro como o dia.

E debaixo de uma foto antiga, Helena vestida de noiva, havia uma frase rabiscada:

“Já que não posso me casar com quem amo nesta vida, vou me contentar com qualquer uma.”

Ao terminar de ler, o rosto de Estela empalideceu.

Foram vinte anos de casamento. E no fim, tudo o que ela recebeu foi “qualquer uma”.

O velório começou logo em seguida. Pessoas ao redor tentavam consolar Estela como podiam.

— Tenta pensar por outro lado... Ele morreu, fazer o quê. O que importa é que a herança agora é sua, dá pra viver bem.

— É. Apesar daquele escândalo com os remédios da empresa dele, que vão custar uma fortuna em indenizações, ele deixou bastante coisa. Você não vai passar aperto.

Mas antes mesmo que acabassem de falar, o advogado se levantou e falou com firmeza:

— O senhor Lorenzo decidiu, deixar todos os bens e propriedades exclusivamente para a senhorita Helena Martins.

A sala inteira congelou. Murmúrios começaram. E então, alguém entrou de supetão, gritando.

— Ele deu tudo pra outra pessoa?! E quem é que vai pagar a nossa indenização?!

Eram os familiares das vítimas do escândalo com os medicamentos. Quando viram Estela, começaram a gritar de ódio.

— É essa aí! A mulher daquele desgraçado do Lorenzo! Já que não vamos ver um centavo, ela vai pagar com a vida!

Vieram pra cima. Um deles cravou uma faca no peito de Estela.

Ela caiu no chão. E antes que tudo escurecesse, ainda conseguiu olhar para a foto em preto e branco de Lorenzo — aquele olhar frio e distante.

Fechou os olhos devagar e pensou:

“Se eu pudesse voltar no tempo, Lorenzo, eu jamais teria me casado com você.”

...

Quando abriu os olhos novamente, Estela viu os lençóis bagunçados ao redor. Ainda tentava entender o que estava acontecendo quando uma voz fria soou ao lado dela.

— Já avisei meus pais que o casamento vai ser em cinco dias. Estela, era isso que você queria, não era? — Disse Lorenzo.

Ela levantou os olhos e viu Lorenzo. Não era o homem de mais de cinquenta anos que tinha enterrado — era o Lorenzo de trinta e poucos, no auge da juventude.

Foi então que entendeu: tinha voltado no tempo, para a véspera do casamento.

O noivado entre os Navarro e os Bastos tinha sido acertado quando ainda eram crianças, mas Lorenzo nunca gostara dela. O casamento fora adiado por anos, e ela virou piada em toda Cidade Solmar.

Até que um dia, Lorenzo se embriagou. Estela o encontrou por acaso e, no meio da confusão, acabaram dormindo juntos. Ele sempre acreditava que tudo fora armado por ela, e desde então passou a tratá-la com ainda mais desprezo.

Mesmo assim, teve que assumir a responsabilidade. E casaram-se.

Depois do casamento, Lorenzo mal falava com ela. Já Estela entregou tudo.

Quando a empresa dele teve problemas de caixa, ela deu toda a fortuna da família Navarro.

Como ele não queria que ela saísse de casa, largou o trabalho e virou dona de casa.

Lorenzo gostava de silêncio, então ela passou anos andando sem fazer barulho, com medo até de respirar fundo.

Foi assim que passou mais de uma década, sempre pisando em ovos, só para conseguir arrancar dele um raro sorriso.

Mas agora ela sabia: aqueles sorrisos nunca foram para ela. Porque o amor dele... era de outra.

A lembrança doía como picadas miúdas, uma após a outra. Estela apertou os punhos, tentando manter a calma, e olhou para o homem à sua frente.

— Você não precisa se responsabilizar por mim. Vamos cancelar o noivado. — Disse com firmeza.

Desta vez, ela não ia se arrastar por alguém que nunca a amou.

— Estela, qual é a sua jogada agora? — Perguntou Lorenzo, com desprezo nos olhos.

Ela ficou imóvel.

Na passada, era obcecada por ele. Mesmo quando ameaçava romper o noivado, bastava os pais dele conversarem um pouco que ela cedia.

Lorenzo já não acreditava em nada do que ela dizia.

— Dessa vez é sério... — Tentou dizer.

Mas ele nem quis ouvir. Virou as costas e saiu do quarto.

Como sempre fora. Ele nunca escutava.

Estela respirou fundo.

Tudo bem. Se ele não queria ouvir, ela falaria com os Bastos diretamente.

Tinha coisa mais importante para fazer agora.

Pegou o celular e discou.

— Professor Adriano, o Projeto Artemis da base espacial... ainda posso me candidatar? — Perguntou com firmeza.

Do outro lado da linha, a voz do professor veio empolgada.

— Claro que pode! Você foi uma das escolhidas, lembra? Mas eu te falei: é um projeto de nível máximo de sigilo. Se entrar, são dez anos sem voltar, sem contato com ninguém. Tem certeza? — Disse, animado.

Estela cursara engenharia aeroespacial, com as melhores notas. Seu tema de pesquisa era exatamente o que o país mais precisava.

Na vida passada, recusou o convite da base para se casar com Lorenzo. Largou o sonho, virou a Sra. Bastos.

Mas agora...

— Já pensei bem. Eu vou. — Respondeu sem hesitar.

— Perfeito! O projeto começa em cinco dias. Se despede da família e se prepara! — Disse o professor.

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