Três anos atrás, fui escalar a montanha com Mónica.
Quando chegamos ao pico, uma enchente repentina nos pegou de surpresa e logo fomos submersas pela água.
No momento de perigo, vimos um bote salva-vidas passando e começamos a gritar por socorro.
O salva-vidas me puxou primeiro e me colocou no bote.
Quando tentei puxar Mónica para embarcar, ela, que estava segurando um poste com força, de repente soltou a mão.
Naquele momento, a vi sendo completamente submersa pela água.
Quando finalmente a encontrei, ela já estava em coma devido à infeção causada pela ingestão de água suja, o que levou à falência renal.
Quando voltamos, tentei explicar para todos o que aconteceu. Com a prova de salva-vidas, achei que todos teriam acreditado em mim.
Mas, na verdade, desde o início, Rodrigo acreditava que eu era a responsável pelo que aconteceu com Mónica.
Não é à toa que, depois disso, ele passou a ser gentil e atencioso comigo.
Eu pensava que ele realmente tinha se apaixonado por mim.
Agora, percebo logo que, desde o começo, a razão pela qual Rodrigo continuou se aproximando de mim não era por amor.
Me lembro da nossa noite de núpcias, quando ele olhou para mim com um ar complexo.
— Joana, se algum dia eu precisar de um órgão seu ou algo assim... você me daria?
Naquela época, eu estava completamente imersa na alegria de me casar com pessoa que amava e não percebi o tom de teste e a estranheza em sua voz.
— Claro, por você, eu faria qualquer coisa.
Ao ouvir minha resposta, Rodrigo sorriu aliviado, e seus olhos brilharam com um cálculo que eu não percebi na hora.
— Está bem... desde que você queira.
Esse casamento, desde o início, era uma grande farsa.
...
Eu morri.
Rodrigo havia descoberto, três anos atrás, que meu rim seria perfeitamente compatível com o da Mónica.
Para salvar sua amada, ele foi meticuloso e calculista, dando cada passo com grande esforço.
Após a cirurgia, minhas funções vitais começaram a falhar gradualmente.
Quando fui levada para sala de emergência, minha mãe ligou para Rodrigo, chorando, com sua voz tremida:
— Pre... Presidente Costa, Joana está quase indo embora... por favor, venha ver ela...
Ao ouvir isso, Rodrigo franziu a testa com nojo:
— Chega, Maria! Eu ainda estou atendendo sua ligação por respeito à sua idade. Se você continuar com essa encenação de Joana na minha frente, não me responsabilizo pelas consequências!
— Você acha que eu não sei que ela não vai morrer? Mesmo que morra, foi o que ela mereceu! Ela é culpada por tudo!
Ele desligou bruscamente.
Minha mãe, em prantos, tentou ligar novamente, mas a voz fria da operadora respondeu:
— O número que você está chamando está em outra conversa...
No segundo seguinte, meu corpo foi retirado pela equipe de enfermagem.
Minha mãe, pálida e sem saber o que fazer, olhou para o meu corpo.
Ela então soltou um soluço e se jogou sobre meu corpo, chorando profundamente:
— Joana... como você pode ser tão tola...
— Ele nunca... nunca te amou... coitada de você, que até carregou um filho por ele...