Apenas mais uma de Amor
Apenas mais uma de Amor
Por: lffreitaslivros
Prólogo

Eu gosto tanto de você

Que até prefiro esconder

Deixo assim ficar

Subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça

E não tem a menor pretensão de acontecer

Apenas mais uma de amor - Lulu Santos

            Ao final da canção, ninguém aplaudiu. Ninguém nem olhou e, desconfio, sequer ouviram a uma única frase dita. Era o que sempre acontecia quando em me permitia, nas apresentações dos barzinhos, cantar algo autoral. Ninguém se importava. Ninguém dava a mínima.

            Não que com as músicas já famosas fosse diferente. Mas às vezes o pessoal se animava em cantar junto e, raramente, rolava até meia dúzia de palmas ao final. Não que eu me importasse. Porém, confesso que gostaria que minha letra fosse ouvida e sentida. Pois sabia que, em meio a tantos sorrisos, bebedeiras e conversas em grupos de amigos, certamente alguém ali se identificaria com o tema da música.

            Afinal, muitas pessoas já tinham passado pela dor do abandono.

            Devia ser algo bem comum, até, em algum momento da vida ser deixado por alguém a quem se ama. Maridos, esposas, namorados, namoradas... Ou aqueles amigos, que desaparecem nos momentos em que mais precisamos. O irmão que se esquece da família, o colega de trabalho que larga uma bomba da empresa na sua mão para você resolver sozinho. Ah, são tantas as formas de abandono. No meu caso, tinha sido a mais literal de todas. Aquela coisa que soa até mesmo piegas de tão triste que é: a dos pais que largam o filho com um parente. E nunca mais voltam.

            Eu tinha oito anos quando meu pai foi embora de casa. E doze quando a minha mãe fez o mesmo, me deixando na casa da minha tia. Não a julgo, no fim das contas. Nossa vida era muito difícil, e ela de fato não tinha condições de me criar sozinha. Além do mais, não tinha muito do que reclamar. Minha tia era maravilhosa, e foi a melhor mãe que eu poderia desejar ter. Sempre me apoiou em tudo, inclusive em ir para o Rio de Janeiro tentar a vida como cantora.

            Não estava dando muito certo, mas ao menos eu vinha conseguindo me manter. Dividindo um apartamento minúsculo com os outros três integrantes da minha banda de rock e passando os dias no aperto. Mas, ainda assim, eu estava me virando. Sabia que a recompensa viria em algum momento. E eu nunca fui de desistir de nada na minha vida.

            Ao menos até aquela noite.

            A apresentação já tinha acabado e acertávamos com o dono do bar o pagamento pela noite, quando o meu celular tocou. A notícia que recebi fez com que o ar me faltasse por alguns instantes, numa sensação de desespero maior do que tudo o que eu já havia sentido na vida.

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