Capítulo 4
Uma semana se passou desde aquele beijo inesperado, e Jussara ficou impressionada com o comportamento de Gabriel. Ele não havia feito mais nenhuma tentativa de se aproximar dela de maneira íntima. Na verdade, sua atitude tinha sido bastante neutra, quase indiferente, como se o momento que compartilharam tivesse sido apenas um capricho passageiro. Mas, por outro lado, a ausência de suas investidas deixou Jussara com uma sensação estranha, como se um vazio tivesse se instalado entre eles. No entanto, suas noites mudaram. Desde aquele dia, seus sonhos começaram a ser invadidos por ele. Todas as noites, Gabriel aparecia em sua mente, sempre a beijando com a mesma intensidade e paixão que ela havia sentido em seus lábios. No último sonho, os dois foram além, e Jussara acordou com o coração acelerado, a respiração entrecortada e a sensação de seus lábios ainda quentes. Ela se pegou pensando nos detalhes vívidos: a forma como ele a segurava, o toque firme de suas mãos, o jeito como o olhar dele se tornava intenso e sedutor. A cada amanhecer, Jussara se sentia mais confusa. Era como se Gabriel tivesse se tornado uma parte intrínseca de seus pensamentos, e isso a deixava inquieta. Acordava sempre sentindo desejo e ao mesmo tempo, culpa, lembrando-se de que ele era seu patrão e, mais importante, um homem atormentado por suas próprias batalhas internas. Naquela manhã, após um desses sonhos, ela se arrumou para o trabalho, sentindo-se mais pensativa do que o habitual. Ao chegar ao quarto de Gabriel para dar seu remédio, não pôde evitar que seu olhar se detivesse em seu corpo, agora mais familiar. Ele estava deitado na cama, a luz do sol filtrando-se pelas cortinas e iluminando seu rosto. Jussara sentiu um frio na barriga, um lembrete dos sentimentos que tentava ignorar. Quando ela entrou, Gabriel abriu os olhos e a olhou com um semblante neutro, mas seu olhar era penetrante. — Você está diferente hoje — disse ele, com um tom de curiosidade que a pegou de surpresa. — Eu? — respondeu Jussara, tentando manter a compostura. — Acho que só estou um pouco cansada. — Cansada de me cuidar? — ele provocou, um sorriso maroto se formando em seus lábios. Ela não respondeu, sentindo o rosto esquentar. Em vez disso, pegou a medicação e se aproximou da cama. — É hora do seu remédio. Gabriel observou enquanto ela preparava tudo, seus olhos parecendo mais intensos a cada segundo. Jussara teve a impressão de que ele estava tentando decifrar algo em seu comportamento. Aquele momento a deixou nervosa, lembrando-se de cada um de seus sonhos. Quando ele tomou o remédio, a tensão no ar era palpável. Ele a observava de maneira quase avaliativa, e Jussara se sentiu exposta, como se ele pudesse ler seus pensamentos mais íntimos. Ela ficou ali, parada, observando-o se sentar, completamente nu. Sem querer, seus olhos se fixaram no volume dele, e seu rosto instantaneamente ficou quente. Gabriel, fingindo não perceber, se acomodou na cadeira de rodas e foi para o banheiro tomar banho. Jussara continuou ali, estática, a mente confusa entre o que era certo e o que desejava. O tempo pareceu se arrastar enquanto seus pés estavam presos ao chão, e, quando a porta do banheiro se abriu, o coração dela disparou novamente. Gabriel saiu com uma toalha na cintura, a água ainda escorrendo pelo seu corpo, e seus olhos encontraram os dela. O olhar dele era penetrante, e Jussara sentiu uma onda de emoções invadir seu ser. — Você está esperando algo? — ele perguntou, com a voz grave e desafiadora. Jussara não conseguiu responder. A pergunta dele a pegou desprevenida. Com um último olhar para Gabriel, a mente dela girou. A linha entre o profissional e o pessoal estava se desvanecendo rapidamente, e o desejo estava ali, palpável. Gabriel aproximou-se dela empurrando a cadeira. Ele a observava com uma intensidade que a deixava sem palavras, e, por um momento, tudo o que ela conseguia pensar era em quão próximo ele estava. — Não me diga que você está com medo de mim — ele provocou, com um sorriso que misturava ironia e charme. Jussara sentiu a respiração falhar. Ela sabia que estava se aventurando em um território desconhecido, mas havia uma parte dela que ansiava por esse perigo. — Eu… não estou com medo — ela respondeu, embora sua voz tremesse. — Então venha aqui e me prove — ele sussurrou, a tensão no ar quase palpável. O coração de Jussara pulou no peito. Ela sabia que, naquele momento, qualquer decisão que tomasse mudaria tudo entre eles. Jussara hesitou. — Você não pode brincar assim comigo, senhor Monteiro — ela disse, tentando manter um tom sério, mas sua voz saiu mais suave do que pretendia. Ele se aproximou ainda mais. A toalha em sua cintura parecia escorregar um pouco, revelando a pele quente e bem definida. Jussara engoliu em seco, sua mente tentando processar a situação. Estava ali, diante do homem que havia sido seu paciente e, agora, parecia muito mais do que isso. — Por que não? — perguntou ele, com um sorriso provocador. — Você já viu tudo. Não há mais segredos entre nós. Ela teve um breve momento de clareza, lembrando-se da sua posição. Ele era seu paciente, e ela, sua enfermeira. Não havia espaço para esse tipo de confusão. — Eu não sou uma mulher qualquer — Jussara respondeu, tentando se lembrar de seu propósito ali. — Você não deve me ver dessa forma. — E se eu quiser? — Ele disse, sua voz agora um sussurro, carregada de intenção. — Você é mais do que uma enfermeira para mim, Jussara. E você sabe disso. O coração dela disparou ao ouvir suas palavras. O desejo que queimava dentro dela era inegável. — Senhor, nós temos que ter limites… — ela começou, mas a frase se perdeu no ar. Ele segurou sua mão e a puxou até sentar em seu colo, as mãos firmes em sua cintura, e antes que ela pudesse protestar, ele selou os lábios dela com os seus em um beijo intenso. Era diferente do beijo que haviam compartilhado antes; havia urgência e paixão, uma necessidade que parecia transcender qualquer lógica. Jussara se viu se entregando àquele momento, seus dedos deslizando pelos cabelos molhados de Gabriel enquanto ele aprofundava o beijo. A sensação era avassaladora, como se todo o medo e as incertezas se dissolvessem em um só instante. Quando finalmente se separaram, Jussara estava ofegante, a mente girando e o corpo quente. Ela olhou nos olhos dele, que brilhavam com uma mistura de satisfação e desafio. Gabriel sorriu, como se soubesse que havia vencido uma batalha interna que ela não sabia que estava lutando. — Você não pode negar que isso foi bom — ele disse, a voz baixa e cheia de significado. — Não posso — ela concordou, embora a mente ainda estivesse confusa. Ele voltou a beijá-la e ela sabia que não iriam parar por ali.