Vicente folheava página por página do prontuário médico.
[Paciente chegou ao pronto-socorro em estado de choque.]
[Não foi possível entrar em contato com familiares. Paciente assinou sozinha o termo de consentimento para a cirurgia.]
[Duração da cirurgia: três horas.]
Cada palavra estava clara, mas, para Vicente, parecia impossível entender o que lia. Ele revisava o documento repetidas vezes, até que, como se tivesse queimado as mãos, ele jogou o prontuário de volta à caixa.
— Isso não é verdade. Não pode ser verdade. Foi a Letícia que inventou isso para me enganar. Como eu poderia não saber uma cirurgia de gravidez ectópica, algo tão sério...? Ela só pode estar fazendo birra comigo. Ela me ama tanto, não seria capaz de querer se divorciar de mim!
Vicente se recusava a acreditar. Para ele, tudo aquilo era um pesadelo, uma alucinação. Ele acreditava que, se dormisse e acordasse, tudo voltaria a ser como antes.
Mas, enquanto caminhava pela casa, ele percebeu que não havia mais cama, nem