HENRIQUE
Acordei sentindo uma pressão na cabeça, meu corpo todo doía, um enjoo, a claridade dos raios do sol adentrando no quarto, me causavam incômodo. Espere aí, estou no meu quarto? Como eu parei aqui? Na real a única coisa que eu lembro da noite passada foi ver o meu amigo, se engraçando com Alicia. – Merda! Alicia! Digo em voz alta, apoiando minhas mãos na cama e forçando levantar meu corpo. Gemo ao sentir minha cabeça latejar. A porta se abre e pisco várias vezes, sem acreditar na pessoa que estou vendo. Seu olhar de preocupação, com uma pequena bandeja em mãos, parecia um anjo que o senhor lá de cima, enviou para mim. – Bom dia, como se sente? Sua voz suave, me faz voltar para minha dura realidade, suspiro, voltando a deitar minha cabeça no travesseiro, forçando lembrar de alguma coisa depois daquela cena, mas é como se eu me esforçasse atoa. – Eu não lembro de nada. – Acredito que não, aliás você não dizia coisa com coisa. - Abro meus olhos e encontro ela, ao meu lado, me encarando. – Trouxe um café forte para você, vai precisar e um remédio para essa ressaca ai. Deixa eu ajudar você. Ela se inclina, colocando os braços por baixo do meu, ao inspirar, sinto o seu cheiro e meu coração se acelera. Forço meus braços para não deixá-la com meu peso sozinha, ela ajeita o travesseiro em minhas costas e me escoro, enquanto ela pega a bandeja e coloca próximo a mim. – O café está forte mas vai te ajudar. – Obrigado. Observo e percebo que está vestindo uma camiseta, a minha camiseta. Olho de cima a baixo, até encontrar com seu rosto, seus cabelos um pouco bagunçado e mesmo desse jeito, continua linda. – Essa camiseta sem dúvidas, ficou muito melhor em você do que em mim. - Na mesma hora Alicia fica vermelha, abaixando a cabeça e observando sua roupa. – Ai me desculpa, eu vou me trocar, não deveria... – Não! Está tudo bem Alicia, é verdade o que eu disse. Ofereço um sorriso, percebo suas bochechas corando e totalmente sem jeito, as palavras simplesmente saíram da minha boca e quando percebi já havia dito, mas não falei nada mais que a verdade, Alicia realmente é uma mulher linda. – Mas se você está vestindo minha camiseta, dormiu aqui? - A mesma encolhe os braços, arrastando as mãos, uma na outra. – É, sim, você estava totalmente fora da si, dona Julieta teve que me ajudar com o senhor, já é pesado assim, imagina dez vezes pior. – Merda! Eu estava tão mal assim? – Você estava, além do mais, batizou minha roupa inteirinha. - Puta merda, como queria me enfiar num buraco agora, que constrangedor. – Você está brincando comigo? – Não. Por isso estou com sua camiseta, me desculpa ter pego sem permissão. – O único que deve pedir desculpas aqui, sou eu, aliás atrapalhei sua noite, parecia estar se divertindo com o Ethan. - Suas sobrancelhas franzem. – Ah, não, só estávamos conversando. Concordo com a cabeça e não digo mais nada, nem sei porque o fato de verem os dois daquela forma me incomodou, quer dizer eu sei, Alicia não é qualquer mulher, Ethan sempre foi um mulherengo impecável, nunca se apaixonou, então sem dúvidas, ela não é para o bico dele. (...) ALICIA – Ah olha vocês aí! Olho arregalada para Ethan ao encontrarmos Henrique, ele atropelou suas palavras, seu rosto e olhos vermelhos, o cheiro de álcool, por que ele bebe dessa forma? O primeiro dia que comecemos a sessão, já o peguei com dor de cabeça da ressaca, qual é o sentindo disso? – Cara, você bebeu demais, precisamos levar o senhor embora. – Ah não, me deixem. - Ele me encara, abrindo um sorriso torto. – Tá se divertindo Alicia? - Ele volta o olhar para Ethan. – Ela não é para o seu bico Ethan. – Henrique você tá falando merda. - O próprio ri e da outro gole na taça que estava em mãos. – Você vai foder com ela e largá-la, te conheço Ethan. Fico chocada no que acabei de ouvir, eu não sei se levo isso como consideração ou Henrique está falando apenas por estar bêbado, não por mim, mas por minha amiga Gab, que até poucos minutos atrás, Ethan me pediu conselhos, parecia estar disposto a conquistar a minha amiga, mas agora, já não sei mais. – ALICIA! - Me assusto e ergo a cabeça, encontrando com Ethan me encarando. – Olha não escuta o que ele está dizendo, tá fora de si, vamos, vou ajudar chegarem em casa. Não digo nada, apenas seguimos em silêncio e no caminho, Henrique continuou falando, ele estava muito atrapalhado, não falava coisa com coisa, também não fazia sentindo nenhum ele estar insinuando coisas sobre mim e Ethan, e daí se ele estivesse dando em cima de mim? O que Henrique tem haver? Eu fico com quem eu quiser. Chegando na casa, Ethan me ajuda, para não bastar, Henrique me dá um banho, sujando totalmente o meu vestido. – Que merda cara, o que você tá fazendo? - Ethan o repreende, mas Henrique apenas enrola a língua e não sai uma palavra. – Tudo bem, eu me limpo depois. Entramos e uma senhora vem rapidamente nos ajudar, ouço Ethan a chamando de dona Julieta. Ele pega com facilidade Henrique, colocando no andar de cima, enquanto eu subi com a cadeira. O celular dele começa a tocar e o mesmo pede licença para atender, então precisei da ajuda da senhora, levar Henrique até o quarto dele. Ela me ajuda despindo ele e em seguida o colocando na cama. – O que foi isso em seu vestido? – Ah, Henrique vomitou. – Eu vou precisar ir, meu pai está no hospital e minha mãe precisa de mim. - Ethan entra pela porta do quarto, seus olhos estavam assustados, sua respiração ofegante. – Eu sinto muito Ethan. – Tudo bem. Você vai ficar bem? – Sim, obrigada. Ele se despede e logo se vai, legal, não tenho para onde fugir, vou ter que dormir por aqui. Desvio meu olhar para Julieta. – Vem, vou pegar uma toalha e se não se importar, uma camiseta do senhor Henrique. – Ah quanta gentileza, obrigada. - Ela pega a camiseta e me encaminha para um outro quarto, em seguida me dando toalhas limpas. – Eu posso colocar para lavar e secar para você. – Obrigada, de verdade. – Que isso querida. Sorrio e sigo para o banheiro, tirando meu vestido e em seguida me enrolando na toalha, saindo para o quarto, para entregar a dona Julieta meu vestido. Tomo meu banho, visto a camiseta de Henrique e me deito na cama, não demorando para pregar os meus olhos. Acordei no dia seguinte assustada, me sento na cama, observando o quarto, me dando conta onde estou. Faço minhas necessidades e desço as escadas, já sentindo o cheirinho de café delicioso, sigo até a cozinha, encontrando com Dona Julieta, arrumando a mesa. – Bom dia querida, dormiu bem? – Bom dia. Dormi muito bem, obrigada. – Sente-se, acabei de passar o café. Sorrio em agradecimento e me sento. Julieta me serve com uma xícara de café, me oferecendo pães, bolos, biscoitos, várias misturas ali exposta naquela gigantesca mesa, parecia que estava esperando uma família inteira. Converso um pouco com ela, a conhecendo melhor, sempre a vi por aqui mas nunca tive oportunidade de conhecê-la. Dona Julieta me contou que trabalha pra família Foster há quinze anos, que Henrique era um rapaz cheio de sonhos, alegre, que nada o abalava, mas quando sofreu o acidente e a notícia da paralisia, mudou completamente. – Falando nele, poderia preparar um café extra forte? Acho que alguém vai acordar com muita ressaca. A mesma ri e concorda, preparando o café, juntamente com algumas coisas em uma bandeja. Sigo para o quarto dele e o encontro sentado na cama, seus olhos pairam em mim, com uma expressão confusa. O mesmo diz que não se lembra absolutamente de nada da noite interior, mas com razão, do jeito que estava fora de si e achando que eu e Ethan tínhamos alguma coisa. Ele nota a camiseta e eu fico roxa, nem tinha me tocado que ainda vestia somente aquela malha, mostrando minhas coxas... eu queria poder sair correndo daquele quarto, ainda mais ouvindo aqueles elogios vindo dele, parecia estar até tentando me paquerar mas quebra dizendo que atrapalhou meu momento com o amigo dele, ele tá fissurado nisso. – Eu não sei o que você pensou Henrique, mas eu e Ethan... – Tudo bem Alicia, não precisa me dar explicações, vocês sabem o que estão fazendo. - Ele ergue a cabeça para me encarar. – Mas eu só te digo uma coisa, se você procura alguém para se relacionar, Ethan com certeza não é essa pessoa. Arqueio a sobrancelha, querendo entender porque ele está tão incomodado com isso, na verdade, eu estou ficando incomodada porque é sobre Ethan que estamos falando, o mesmo cara que ontem a noite me pediu ajuda, para conquistar a minha melhor amiga. – Eu preciso ir, você irá ficar bem? – Acho que vou ficar. – Bom, melhoras e por favor Henrique, beber dessa maneira não ajuda em nada. – Acredite, para mim, ajuda e muito. É meu novo jeito de lidar com os problemas. – Pois deveria rever esse jeito, só vai acabar estragando ainda mais sua vida. Saio do quarto sem deixar ele me responder, já fiquei tempo o suficiente aqui, preciso ir para casa. Desço as escadas e pergunto do meu vestido, Julieta me entrega ele em perfeito estado e agradeço inúmeras vezes. A mesma diz que chamaria um tal de Tyler, o motorista, para me levar para casa e outra vez, a agradeci. Chegando em casa, não encontrei meu pai, estranho ele não estar. Segui direto para o meu quarto, troquei de roupa e me joguei na cama, esse evento foi muito estranho, queria entender porque Henrique bebeu daquela forma, mas segundo Julieta, ele passou a fazer isso desde que sofreu o acidente, ele precisa urgente de uma psicóloga, precisa entender que a vida não se acabou dessa maneira, que ele ainda pode dar a volta por cima e vencer essa batalha. Acordei com meu celular tocando, levei um susto, acho que cochilei. Ao atender era Gab, querendo saber como foi o evento. Contei a ela tudo que aconteceu, a mesma soltava risada do outro lado da linha, dizendo que o senhor ranzinza, estava era com ciúmes de mim, que coisa absurda, faz somente duas semanas que nos conhecemos e não, isso está fora de cogitação. Desci e preparei o almoço, meu pai chegou todo suado, com um sorriso no rosto. – Que isso papai? Voltou a se exercitar? – Estava jogando tênis com uns colegas. - Ele se aproxima e beija o topo da minha cabeça. – Vou tomar um banho e já desço, quero saber como foi a noite. Reviro os olhos e ele se some da cozinha. Preparo a mesa, coloco tudo em cima da mesma e logo meu pai retorna. Contei a ele o que aconteceu e como eu esperava, disse a mesma coisa que Gabriela havia dito, "ele está com ciúmes de você." – Pai ele não está com ciúmes, a gente se conhece faz apenas duas semanas. – E daí? Eu me apaixonei por sua mãe em um dia. - Seus olhos brilham, toda vez que toca na mamãe, como ela faz falta. – O caso é bem diferente tá. Agora me conta, como foi o jogo? Ele começa a falar, eu adorava ver papai se divertindo, o mesmo não costuma fazer isso. Fiquei chocada quando ele disse que conheceu uma mulher que jogava muito bem, que quando viu, estava chamando a mesma para jantar, uau, quem diria senhor Ricardo Miller chamando uma mulher para jantar. Enfim, ele merece muito encontrar uma pessoa, mamãe nunca será substituída, sabemos disso, mas papai merece ser feliz. A noite me arrumei para sair com meus amigos, já era costume todo final de semana combinarmos de fazer alguma coisa e dessa vez, fomos para uma boate. – Se não é a minha deusa! Rio com o comentário do Augusto, que se aproxima de mim, me dando aquele abraço de urso e beijando minha bochecha. – Me diz que não vou precisar ficar de olho em você hoje. – Ah mais relaxa Gu, vou achar alguém para cuidar de mim. Dou uma piscadela para ele e o mesmo começa com seus ataques de ciúmes. Quem nos olha, acha que somos namorados, ou que Augusto gosta de mim, mas não, somos irmãos de coração, crescemos juntos e bem... ele gosta da mesma fruta que eu, ops. – Amiga, me ajuda! - Gabriela me puxa para um canto, me tirando dos braços de um cara super gato que eu tinha achado. – Ai me tirou dos braços do bonitão. – Que safada! - Ela ri e reviro os olhos. – O que foi? – Olha isso aqui. Ela me entrega seu celular, mostrando a conversa entre ela e Ethan, o mesmo dizia que estava vindo para cá, que queria vê-la e levá-la para um lugar. – Ué, e por que quer minha ajuda para isso? – Eu não sei o que fazer. - Estreito meu olhar, minha amiga não sabendo o que fazer num encontro? – Espera ai, você sempre sabe o que fazer. - Ela fica sem jeito. – Bom... é... – Ai meu Deus! Não, você não tá... – Não! Claro que não! É só que... - A mesma suspira. – Tá, eu fico boba quando recebo uma mensagem dele, ele me manda todos os dias, eu não sei, nenhum homem me fez sentir assim, droga! Eu não quero me apaixonar. Ela b**e os pés e se escora na parede, levando as mãos no rosto, fazendo drama. Me aproximo e abaixo seus braços. – Amiga isso talvez não seja tão ruim. – Mas é cedo demais para eu me sentir assim. – Isso eu concordo, mas, só toma cuidado, não quero ver você se machucando. – Eu sei. – Mas e o pai dele? – Ahh! Ele me contou, foi um susto, apenas deu uma reação alérgica, o danado foi comer um chocolate escondido da esposa e havia nozes. – Ai meu Deus! – Poise, eu estou tão nervosa. – Ei, apenas seja você, vai dar tudo certo! - Ela me abraça e ficamos assim por uns segundos. Gabriela namorou um rapaz por cinco anos, ele foi fazer faculdade em outro país e um certo dia, quando ela foi visitá-la, apareceu uma garota, entrando no quarto dele, o chamando de amor. Aí já viram, aconteceu uma cena e tento, uma e outra dizendo que era namorada dele, a própria saiu de lá desnorteada e desacreditada, ligou diretamente para mim, eu e meu pai, fomos pega-lá no aeroporto e permaneceu por dois dias na minha casa, até dar o tempo dela realmente voltar para sua, criando coragem para contar a seus pais o que houve. – Atrapalho? Uma voz masculina nos afasta, ao me virar, o cara em que minha amiga, me arrancou dos braços a minutos atrás. – Ai desculpa ter roubado ela de você. – Tudo bem. Me chamo Fernando. - Ele se aproxima e a cumprimenta. – Prazer, Gabriela, melhor amiga e irmã dessa gostosa aqui. Ele olha para mim abrindo um sorriso e fico sem graça. O celular de Gabriela apita, a mesma olha e um sorriso surge em seus lábios. – Se me derem licença, preciso ir. – Quero saber de tudo depois hein. – Pode deixar! Ela se despede e segue o caminho. Fernando me convida pra sair dali e saímos, ficando pelo lado de fora da boate mesmo, conversando e se conhecendo um pouco melhor. O cara era gato, tinha uma boa lábia mas ainda seria somente um qualquer que eu ficaria numa balada, sem nada mais, como eu disse, nunca namorei, sou virgem mas não santa, estou apenas esperando o cara certo para me entregar e com certeza, um cara na balada, não será essa pessoa.