MIRELA

A vida mudou. Não bruscamente, como uma ventania que derruba tudo... mas aos poucos, como uma maré que vai se ajeitando na beira da praia. Depois do hospital, depois da cirurgia, depois do susto que quase me arrancou o coração do peito, tudo que eu queria era a calma. Uma rotina que fizesse meu peito respirar de novo.

E ela veio. Na forma da nossa nova vida.

Acordar cedo, me arrumar pra escola, preparar o café dele do jeitinho que ele gosta, forte, bem forte, antes de sair. Separar as roupas que ele ia usar durante o dia, deixar a água ao lado da cama, dar um beijo demorado no rosto dele antes de fechar a porta.

E quando eu voltava, ele já estava no sofá, notebook no colo, celular na mão, organizando as coisas da empresa que ficou parada por semanas. Eu o via ali, de moletom, mais magro, mais quieto… e ainda assim, mais homem do que nunca.

— Você já tá se esforçando demais. — eu dizia sempre que ele passava mais de duas horas digitando.

— E você já está sendo mãe, namorada e en