4. Minha querida Merggie.

– Casar? Você pode repetir? Eu tenho certeza que eu ouvi errado, não é possível – digo esfregando os olhos, minha cabeça ainda pesada de sono. Sento-me na cama com a maior preguiça do universo e olho para Jeong, que está sentado numa poltrona próxima a mim com seu tablet na mão.

Aparentemente, há alguma coisa muito importante ali naquele tablet para o qual ele está olhando, é a única explicação para ele olhar com tanta atenção para a tela dele.

– É exatamente o que você ouviu. Você vai se casar – ele diz baixando o tablet e finalmente olhando para mim.

– Casar? Eu? Quem diabos tomou essa decisão? Eu nunca concordei em me casar. Por acaso tenho cara de quem quer se amarrar permanentemente a outro alguém? – pergunto sarcástico apontando para a minha face, uma dor de cabeça ameaçando aparecer.

– Bem, seu pai deve achar que sim. Ele arranjou um casamento para você e eu sou apenas o mensageiro, então não desconte em mim.

Esfrego as mãos no rosto e olho para a cidade pela janela antes de jogar as pernas para fora da cama e andar até o banheiro mais puto do que já estive em muito tempo. Normalmente, meu pai não me irrita, eu que irrito ele mas parece que agora o jogo virou.

Jogo uma água no rosto e olho meu reflexo por alguns instantes.

– E posso saber o por quê de tudo isso? – pergunto voltando ao quarto, muitas perguntas girando em minha mente.

– Ele disse que já está na hora de ter netos. Ele diz que o casamento vai te trazer responsabilidades que você precisa adquirir antes de assumir o lugar dele, por isso escolheu uma moça de boa família para você. Um jantar será marcado para que se conheçam e noivem.

Levanto as sobrancelhas ao ouvir isso. Vou noivar com uma mulher no mesmo dia que a conhecer? Meu pai deve ter enlouquecido de vez, é a única explicação para isso.

– Mas nem fodendo que eu vou me casar só porque ele quer. Nunca fiz as vontades dele e não vai ser agora que isso vai acontecer. Ele pode desistir nesse instante. Não vou me casar por ordem de ninguém e muito menos com uma dessas garotas sem sal que fazem parte da família, dê o recado a ele – digo convicto e volto a andar em direção ao banheiro, encerrando a nossa conversa.

– Bem, tem mais. Ele disse que se não se casar com uma moça de família respeitável, não terá mais acesso a nada que é dele – viro-me lentamente antes de chegar ao banheiro quando ouço tal frase. Ela parece tão irreal para mim que eu fico olhando para Jeong esperando o momento em que ele vai dizer que é tudo brincadeira.

– Acesso a nada que é… dele? – repito, experimentando as palavras na minha boca e, porra, tem um gosto amargo. – É tão meu quanto dele! Não é como se eu fosse um desocupado, eu trabalho tanto quanto ele e tenho direito a tudo que usufruo.

– Ele não parece pensar assim – Jeong diz e eu percebo que está analisando meu rosto. – O que pretende fazer? Ele te pegou de jeito dessa vez.

– A única certeza que tenho é de que não vou me casar, muito menos com uma boneca inflável manipulada pelo meu pai. Se ele quer tirar tudo que é meu, tudo bem. Vamos ver quanto tempo ele pode viver sem os meus talentos. Espere por mim, temos muito trabalho a fazer enquanto não sou deserdado – murmuro e volto a me virar, dessa vez entro no banheiro e fecho a porta.

Me escoro na pia e dou um suspiro profundo. Tenho vontade de socar o espelho ou a parede, mas me contenho bem a tempo. Socar a parede não vai resolver nada, tudo que eu preciso agora é de um banho frio para organizar minhas ideias e me acalmar, vou trabalhar e durante o dia vou lidar com esse assunto da forma que deve ser tratado.

Passo uma parte do banho apenas parado embaixo da ducha, na esperança de que a água leve embora todos os meus pensamentos ruins, mas isso não acontece. Para a minha surpresa, quando saio do banheiro, encontro Jeong na varanda admirando a paisagem, o tablet largado na poltrona onde ele estava sentado.

– Pensando em como vou pagar seu salário a partir de hoje? – brinco chamando a atenção dele e ele se vira, um sorriso presunçoso no rosto.

– Não é você que paga meu salário. Você sabe disso, certo?

– Nossa, essa doeu – digo pondo a mão no coração. – Qual a programação de hoje? Alguma tortura? Alguma extorsão? Como vai o Sr. Pervertido?

Espero que seja um dia bem cheio, assim não vou precisar me lembrar da merda do casamento. Jeong vai até o tablet e clica algumas vezes na tela antes de responder minha pergunta.

– Seu dia hoje está até tranquilo, mas temos algumas cobranças a fazer. Isso te anima? – ele pergunta arqueando a sobrancelha e eu sorrio.

– Pra caralho. Você sabe que eu adoro quando eles rastejam e pedem mais tempo, mesmo sabendo que eu não sou do tipo que concede tempo.

– Bom, então é melhor você vestir uma roupa. Não pode ir de toalha – ele diz e se j**a na poltrona.

– Qual é! Eu sei que você ama a minha visão seminua – para enfatizar, coloco as mãos na cintura. Jeong dá uma olhada rápida e depois volta a olhar para o tablet, como se ele fosse mais interessante.

– Absolutamente não.

– Vou fingir que você não disse isso – aponto para ele e vou para o closet.

Vinte e cinco minutos depois saio de lá de dentro pronto. Meu cabelo está penteado para trás num topete bem-arrumado, eu estou perfumado e bem-vestido, usando meus sapatos sociais de sola vermelha.

– Estou pronto.

– Você demora tanto quanto uma mulher para se arrumar – Jeong diz se levantando assim que me dirijo a saída do quarto.

– Não vejo problema nisso – murmuro de volta e ele não responde. Aprendi que sempre que Jeong não responde alguma coisa, é porque o que ele ia dizer é ofensivo demais até para mim.

Não é porque ele é meu amigo que não pode perder a cabeça. Amigos, amigos, insultos a parte.

– Já tomou café? – questiono descendo degrau por degrau até a sala de estar ampla da minha casa.

– Sim senhor.

– Me sinto velho quando me chama de senhor.

– Sinto muito.

– Não consigo entender você. Vamos – balanço a cabeça e olho para o relógio em meu pulso –, é tarde demais para tomar café. Vou esperar pelo almoço.

Jeong assente e eu passo pela sala de estar em direção ao hall de entrada. Encontro alguns funcionários no caminho e todos me cumprimentam com uma reverência, em respeito ao futuro Don. Se eles soubessem que estou prestes a ser deserdado…

O caminho até o meu primeiro compromisso, uma boate de stripp masculina, é feito em silêncio por mim e Jeong e eu aproveito o momento para ler alguns documentos. Meu pai insiste que eu preciso de um motorista, mas eu sei que tudo que ele quer é colocar um cão de guarda perto de mim que vai delatar todos os meus passos, mas eu sempre asseguro a ele que Jeong é mais que suficiente, já é incômodo andar por ai com várias seguranças, não quero um motorista também. Pelo menos no meu carro particular, quero ficar o mais sozinho que posso. Quando chegamos ao meu destino, eu passo praticamente a manhã inteira apenas discutindo as entradas do mês, de modo que não consigo nem mesmo parar para almoçar.

Repito para mim mesma que vou almoçar em algum momento do dia, mas acabo adiando tanto que quando percebo já é quase cinco da tarde e eu ainda não comi.

– Quer parar para comer, Sr.? Não comeu nada o dia inteiro – Jeong questiona enquanto me vê afrouxar a gravata. Quando o final do dia vai chegando, eu vou descartando as peças de roupa. Já me livrei do paletó e agora da gravata.

– Não precisa. É o último compromisso, certo? Posso comer depois de resolver isso – Jeong assente pelo retrovisor e volta a sua atenção ao trânsito.

Se esperei o dia todo, posso esperar um pouco mais. Observo quando o carro entra na areá mais pobre de Sófia. Quando Jeong para em frente a um beco escuro, eu desço e espero por ele.

– Eu vou na frente, Sr. – Jeong diz prontamente se colocando a minha frente, uma mão na arma, a atenção aguçada.

Não discuto e o sigo pelo beco escuro e sujo. Andamos por aproximadamente 3 minutos até encontrar a entrada de uma boate velha, ou melhor, um puteiro. A pessoa que estamos procurando está por aqui.

Entro sem cerimônias e olho ao redor. O lugar é sujo e fede a maconha, mas, ainda assim, há clientes e mulheres no colo de caras mais velhos. Com apenas um passar de olhos, consigo encontrar quem estou procurando e ando até ela, que está de costas para mim.

– Olá, minha querida Margarita – consigo ver as costas dela ficando tensas e isso me anima. Percebo imediatamente que as coisas não vão sair como eu gostaria.

– Sr. Nikola, não sabia que vinha hoje – ela diz se virando para mim e levantando-se da mesa onde estava sentada com mais outras duas mulheres. É claro que ela sabia.

A pessoa loira a minha frente é a casca do que deveria ser uma mulher. Está magra demais, há maquiagem borrada em seus olhos, olhos cansados e vidrados mostrando que ela se drogou. Apenas um olhar é suficiente para saber que ela já agradou os homens em algum momento, mas agora não mais.

– Bem, tenho certeza de que você tem algo para mim – murmuro, animado, sabendo que ela não tem nada.

Dou uma olhada para as outras duas mulheres e elas somem num piscar de olhos, deixando-nos a sós.

– Sr., aconteceu um imprevisto e eu não tenho todo o seu dinheiro aqui. Talvez se você me desse…

– Marggie, você usou a mercadoria que eu te dei para vender? – vou direto ao ponto e ela paralisa. Sua expressão é suficiente para me responder.

– Não! Os negócios estão ruins, isso é tudo. Você sabe como…

– Marggie, minha querida Marggie – digo apertando o ombro dela de leve enquanto sorrio –, se não me der dinheiro no próximo minuto, precisa me dar a mercadoria. Você tem algum deles?

Margarita fica muda e eu dou um meio sorriso.

– Jeong – imediatamente há uma arma apontada para o rosto dela. – É realmente uma pena ter que ser assim, Marggie, mas você sabe como são as coisas. Você sabe que eu não admito erros.

– Espere, não precisa me matar – ela levanta as mãos na frente do corpo, assustada e fala acelerado. – Eu tenho algo que é muito melhor do que dinheiro e tenho certeza que vai te agradar.

– Estou curioso para saber o que é. Diga-me, se me agradar – estou sempre disposto a ouvir, mesmo que não vá aceitar. Gosto de deixar as pessoas sonharem.

– Eu tenho uma filha.

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