"Para criar meu filho, eu era capaz de tudo. Até de vender o meu corpo" Mas eu tinha minhas regras: escolhia minhas clientes. Era discreto. E nunca me envolvia emocionalmente com ninguém. Nem fora nem dentro do trabalho. Eu era bom no que fazia, e as mulheres vinham a mim em busca de prazer. Menos daquela vez... Fui contratado não para enlouquecer uma mulher na cama, mas para salvar sua autoestima depois de um relacionamento abusivo que a destruiu. Sua melhor amiga me pagaria uma quantia indecente para que a moça se sentisse novamente desejada. A proposta era simples, tentadora, especialmente porque a cliente era linda. O problema? Eu me apaixonei... E a mentira agora pesava nos meus ombros. Será que ela iria me perdoar quando descobrisse a verdade?
Leer másKADE
Fechando o último botão da camisa, dei mais uma olhada no espelho. Deslizei a mão pelos meus cabelos, ajeitando-os e passei um pouco de perfume. Estava pronto.
Aquela era a minha chance. Depois de dois meses desempregado, vivendo das minhas economias, eu finalmente fui chamado para uma entrevista em uma multinacional, com um ótimo salário e um cargo ainda melhor do que eu tinha anteriormente. Era uma oportunidade imperdível, e eu iria dar o meu melhor para agarrá-la com unhas e dentes.
Já estava quase pronto, apenas vestindo o blazer por cima da camisa branca, quando minha campainha tocou.
Péssima hora...
Fosse quem fosse, teria que retornar depois.
Ainda assim, fui até a porta e a abri. Na pressa, nem sequer chequei o olho mágico, o que foi uma escolha muito infeliz da minha parte.
De pé, segurando um bebê no colo, estava Jennifer, uma garota com quem saí. Já tínhamos terminado há alguns meses, e ela nunca mais me procurara. Não fazia ideia do que poderia ser, embora, para ser sincero, meu estômago estivesse dando um nó ao ver a criança em seu colo.
Eu não entendia absolutamente nada de bebês, mas podia jurar que era pequeno o suficiente para ter uns dois meses no máximo.
— Oi, Kade! Podemos conversar?
Dei uma checada no relógio e vi que só tinha no máximo meia-hora. Planejava sair adiantado para não me atrasar, por isso ainda tinha algum tempo, mas não mais do que isso.
— Jen, eu estou um pouco atrasado. Tem que ser agora?
— Essa conversa está atrasada em dois meses. Assim como ficou minha menstruação depois da nossa última… bem… aventura.
O quê?
Mas que diabos…?
Meio atordoado, sem reação, permiti que entrasse.
Sem nem perguntar, Jennifer acomodou-se no meu sofá, ajeitando o bebê, e inconscientemente eu olhei para ele. Seria possível que…
— Desculpa aparecer sem avisar, mas foi um ato de impulso. Você sabe que eu sou boa neles — falou com ironia.
Ela estava certa. Jennifer era um furacão – este foi o motivo pelo qual fiquei tanto tempo com ela, já que o sexo era maravilhoso, mas o mesmo pelo qual terminei. Não dava para acompanhá-la. De jeito nenhum.
— Vá direto ao ponto. Sem rodeios — falei muito sério.
Ela me olhou de cima a baixo, com um sorrisinho malicioso.
— Você está bonito, Kade. Mas isso não é novidade…
— Jennifer… — repreendi. — O que veio fazer aqui?
Ela respirou fundo.
— Acho que você já entendeu, não? Parabéns, papai… você tem um lindo menino.
Sem dizer mais nada, ela entregou a criança a mim, e eu a peguei no susto, porque, mais uma vez, fiquei meio sem ação.
Meus olhos se voltaram para seu rostinho, as pálpebras fechadas começaram a tremer, abrindo-se. Quando olhei em seus olhinhos, já abertos, eles eram uma cópia dos meus, em um tom de castanho quase dourado, como mel. Além disso, em seu pescocinho havia uma marca idêntica à que eu também tinha; um sinal de nascença.
Puta merda… aquele menino era mesmo meu.
— Jennifer! O que aconteceu? O que…
— Você precisa que eu te explique como nascem os bebês? Até onde eu sei, você extremamente competente no ato, mas se não sabe como funciona o resto, posso…
— Para com a ironia, porra! — explodi. Não era típico da minha personalidade perder a cabeça assim, mas a situação era complicada o suficiente. — Por que demorou tanto tempo para me contar?
— Não sei. Eu demorei para descobrir também. Estava enrolada com o trabalho, em viagem, acabei nem percebendo o atraso da menstruação, até porque eu fiquei normal até quase o quarto mês. Quando fiz o exame, já estava com quase seis meses.
— Ainda assim… o menino tem o quê? Dois meses?
— Sim. Quase três.
— Foram seis meses sem eu saber que era…
— Pai. Esta é a palavra que você está procurando, não é?
Meu Deus… que loucura era aquela? Como assim eu era pai? De um dia para o outro? Não era possível…
— Jen… eu não… sinto muito, eu…
— Não, não sinta. Você tem tanta culpa quanto eu. Decidi que não queria te contar, porque achei que daria conta sozinha, mas não dou. Eu não nasci para ser mãe, Kade. Não consigo sentir nada por esse menino, só que ele está atrapalhando a minha vida. Acho que ele merece mais do que posso lhe dar.
Jennifer sempre foi muito sincera. Sempre foi extremamente focada na carreira, tanto que nos conhecemos em um evento, em uma parceria entre a empresa onde eu trabalhava e a dela. Estava em ascensão, concorrendo a uma vaga em uma filial da empresa em Singapura, e eu podia imaginar que um bebê tinha mesmo estragado seus planos.
— Se você não o quiser, podemos pensar em adoção e…
— NÃO! — exclamei, apavorado com a ideia.
O garoto era meu filho. Meu. Ele não seria jogado fora como algo descartável. Nem pensar.
Talvez fosse a pior hora do mundo para eu recebê-lo na minha vida, mas… porra! Eu era pai.
— Não, Jen. Podemos dar um jeito… tem uns dois meses que eu perdi o emprego, mas vou cuidar dele. Não vou te deixar sozinha…
— Kade — ela me interrompeu —, você ainda não entendeu. Eu não quero um filho. Não é assim que os homens fazem? Decidem que não querem e seguem com a vida. Posso pagar uma pensão para ele, mas estou com viagem marcada. Vou me mudar para a Ásia daqui a três meses.
— E se eu não o quisesse… o que você iria fazer?
Ela simplesmente deu de ombros. Como era possível?
— Daria um jeito. Mas você o quer? Vai ficar com ele?
Pela forma como ela falava, parecia que o menino era uma roupa velha que ela estava repassando. Minha vontade de apertá-lo contra mim e protegê-lo só aumentou.
— Quero. Vou cuidar do meu filho. Vou criá-lo. Pode fazer a sua viagem… e não quero porra de pensão nenhuma. Viva sua vida, Jen. Seja feliz… — podia ser o orgulho falando mais alto, mas eu não queria o dinheiro dela. Mesmo desempregado, daria um jeito.
— Ótimo. O nome é William. Passo aqui mais tarde para trazer as coisinhas dele, tudo bem?
Bem… adeus entrevista, não é?
O resto das coisas que Jennifer falou foram como borrões na minha mente, e quando ela saiu pela minha porta, eu ainda estava com o pequeno William no colo.
Sozinhos, enfim, olhei para ele, que ainda me olhava, muito quieto, analisando com seus olhinhos ainda confusos, e disse:
— Vou cuidar de você, pequeno… Seremos só nós agora… Mas vai dar certo.
Tinha que dar.
Só que as coisas complicaram e muito. Contei com algumas ajudas, mas, no final das contas, só encontrei um caminho para mim…
E… bem… essa é a minha história.
DEANNAUma última olhada no espelho quase me fez chorar. Eu não queria estragar a maquiagem, que estava mais do que perfeita, mas eu me sentia linda. A mulher mais feliz do mundo.Foram longas tempestades até eu chegar àquele ponto da jornada, mas valera a pena.— Aí, amiga! Você parece uma princesa! — Cheryl falou.— Parece mesmo, mamãe — a vozinha de Will estava empolgada, o que me deixava ainda mais contente. Por mais que ele tivesse recuperado a mãe, Jennifer e eu nos dávamos bem o suficiente para que ela não se sentisse chateada por seu filho ter em mim também uma figura materna. O menino chamava as duas de mãe.Ele agora era um jovenzinho de oito anos, lindo, com um enorme potencial para partir coraçõezinhos de garotas por todo lado. Mas não se eu pudesse impedir. Queria que ele fosse justo, honesto, le
KADEJurei que seria discreto. Tentaria uma aproximação devagar, iria conversar civilizadamente, como se fôssemos apenas bons amigos, mas quando a vi, vindo na minha direção, linda como uma fada, não resisti.Porque… porra, eu realmente sentia a sua falta.Ouvi-la dizer que sentia o mesmo era um presente.— Não é o momento certo, nem o local, mas já fazem dois anos, e, sim, eu estou com pressa, porque está é uma oportunidade que não vou perder… Nada mudou em relação aos meus sentimentos por você.Deanna pareceu aliviada ao ouvir isso, mas não retribuiu.— Cheryl armou esse reencontro, não foi? — ela indagou.— Sim, mas desta vez concordei plenamente com ela, principalmente quando me disse que vocês conversaram sobre mim recentemente.— Ela realmente
DEANNAAs cores do crepúsculo explodiam nas minhas lentes, enquanto eu fotografava Cheryl e seu noivo para o ensaio de antes do casamento.Ela estava linda, com um vestido rendado branco, em um estilo praiano, deixando seu corpo escultural perfeitamente delineado. Patrick, seu noivo, brilhava igualmente. Ele mais parecia uma versão de George Clooney em seu auge, na época de Um Dia Especial, com os cabelos começando a ficarem grisalhos, mas com aquele corpo de babar. Era um casal deslumbrante.Patrick era herdeiro de uma empresa de construção, podre de rico, mas apaixonado pela minha amiga. Estavam juntos há um ano e meio, mas já estavam prestes a ir para o altar. Dali a alguns dias, aliás.Era estranho pensar que ela encontrara o amor no dia em que eu perdi o meu. Patrick e Cheryl esbarraram um no outro no hospital, quando Charles me feriu. Ele estava cuidando da mãe idosa
KADE As horas pareceram passar em câmera lenta. Cada segundo durava uma eternidade. Talvez eu não tivesse o menor direito disso, mas não conseguia sair do lado de sua cama no hospital. O corte provocado por Charles não danificara nenhum órgão, mas fora fundo o suficiente para ela perder uma boa quantidade de sangue. Além disso, quebrara duas costelas, e ainda nem sabíamos como, já que ela não despertara para contar. Os médicos diziam que ela ficaria bem, que só não despertara porque estava dopada para não sentir tanta dor. Ainda assim, eu estava desesperado.
DEANNA A bile subia pela minha garganta, em reação ao medo que sentia. Não era possível. Quantas vezes mais eu ainda teria que sofrer nas mãos dos homens por quem decidia me apaixonar? Depois de descobrir que o cara maravilhoso que me libertara de todos os traumas do passado era um mentiroso, ainda tinha que lidar com o maior pesadelo da minha vida. Assim que fui surpreendida por Charles, na saída da casa de Kade, enquanto esperava por um táxi, soube que estava perdida. Tentei gritar, mas ele estava armado, então, só me restou obedecê-lo e entrar no carro como uma cordeirinha.&nb
KADE A reunião com Adam foi melhor do que eu esperava. Ele já estava com tudo pronto para fazer uma apreensão na casa e na empresa de Charles, levando uma equipe do FBI com ele. Seria o fim da linha para aquele filho da puta. Deanna estaria livre para sempre, e eu poderia contar a verdade para ela. Só mais alguns dias… Se me afastasse, ao menos estaria segura. Mas ao menos saberia quem eu era, e eu faria de tudo para que acreditasse nos meus sentimentos. Estacionei o carro na garagem do prédio e subi, sentindo-me animado. Iria contar para ela o que tínhamos, faríamos amor, jantaríamos, e eu queria ainda fazer uma lig
Último capítulo