Capitúlo 2

Talita Narrando. 

Acordei com o despertador apitando, resmunguei frustrada, a noite anterior acabei indo dormir tarde porque fiquei corrigindo alguns trabalhos dos alunos. Confesso que às vezes eles dão respostas tão criativas que nos surpreende.

Metade de mim, desejava totalmente ignorar o alarme e me cobrir novamente, e a outra, sabia qual era minha obrigação como professora. E foi por esse motivo que contra minha vontade, me levantei e fui tomar um banho.

Deixei a água cair sobre meu corpo, enquanto refletia o que eu poderia fazer para resolver alguns problemas aqui em casa, desde que Fanny separou do o ex-marido e veio morar conosco, nossa casa está um pouco fora do controle.

Eu amo minha irmã e oro todos os dias por ela, porém, estava na cara que Gael não era coisa boa, eu dei conselhos e ela quis ouvi-los? Não! Resultado? Agora ele vive a perseguindo feito um doido. Tenho medo do que possa acontecer, já  tem meu pai que não está muito bem de saúde, depois de um acidente no trabalho está suspenso provisoriamente, e convencer o senhor Ramon a ficar parado não é uma tarefa fácil.

Fora isso, está tudo bem, eu amo meu trabalho, e o resto está nas mãos de Deus, não posso me esquecer que ele está no controle de tudo.

 Coloquei uma das músicas que amo para tocar enquanto me troco, sempre gostei de louvores internacionais. Embora, ouça um pouco de tudo. Arrumei o material ainda enrolada na toalha, em seguida peguei meu pente para representar um microfone e comecei a cantar olhando para o espelho. Se alguém entrasse nesse exato momento, com certeza pensaria que estou ficando louca.

__ Bom dia gente linda! - Cheguei sorrindo, deixo a bolsa e os livros na cadeira e me sento a mesa.

___Bom dia filha. Vejo-me que acordou animada. - Meu pai sorrio.

___ E quando a Talita acorda triste? Minha irmã  juntou-se conosco, sua cara não é das melhores pelo jeito chorou a noite inteira de novo.

___Xô tristeza! do que adianta ficarmos tristes? Lembre-se, Deus nunca disse que seria fácil, mas sempre disse que apesar das lutas, temos que ter bom ânimo.

___ Concordo filha. - Mamãe terminou de pôr a mesa.

___Vamos orar?

___Que tal Fanny começar hoje? - Sugiro sorrindo.

__ Eu? eu não faço isso a tanto tempo. - Me olhou de forma neutra.

__ Por isso mesmo. - Afirmei e concorda. Demos as mãos e fechamos os olhos .

___Deus, obrigado por essa refeição, por nos permitir mais um dia de vida. Entrego esse dia nas tuas mãos, na certeza que está no controle de tudo. Amém! 

__ Amém. 

__Agora vamos comer, tenho que trabalhar, já estou ótimo. - Papai afirmou e Fanny e eu trocamos olhares sorrindo.

__ Claro, está ótimo com essa perna enfaixada. Deixa de ser bobo homem. - Minha mãe o repreendeu e ele fica sério.

Por esses momentos, percebo o quanto amo minha família. Mesmo em meio ao caos permanecemos únidos.

___ Dinda! Escutei um ser humaninho gritar. Abri os meus braços para receber meu sobrinho.

___ Coisa fofa, como dormiu?

___Bem. Dinda eu quero bincar no paike. Me leva no paike! 

___ Não filho, a dinda vai trabalhar. - Fanny o pega do meu colo.

__ Então eu quelo trabalhar com a dinda mãe. Fez cara de choro.

__ Gui, onde a dinda trabalha não pode levar crianças, mas prometo que vou te trazer um presente que vai gostar muito. - Bagunço seu cabelo.

___Ebaa pesente!! Bateu palmas animado.

___ Talita. - Minha irmã me repreendeu e ignoro.

___ Me deixa corujar meu afilhado e sobrinho em paz ok? A olhei fingindo seriedade.

____ Se depois ele ficar mal-acostumado a senhorita lide com isso. 

Peguei meu carro na garagem e fui para o colégio. Por sorte, hoje o trânsito ajudou a chegar no horário exato. Estacionei cautelosamente e mesmo assim ele Afogou, definitivamente ele não está em boas condições. Peguei meu material e assim que desci, escutei um barulho de porta batendo. Olhei para o lado e avistei Sara entrando na escola. Notei também que o vidro do carro se abaixou e aquele senhor ficou me olhando estranho como sempre faz, ignoro e segui para dentro do colégio.

Sara é uma ótima aluna, ela sempre tira as melhores notas, só que ultimamente a vejo muito sozinha, antes andava com uma amiga e faz algum tempo que não as vejo mais juntas. A observo no corredor e caminho rapidamente até ela.

___ Que bom que te encontrei! Estou precisando que me ajude a levar esses livros. Parei na sua frente sorrindo e empurrei os livros na sua direção.

___ Oi para você também professora. - Ela retrucou irritada pegando os livros.

___O que aconteceu?  Pergunto enquanto entramos na sala.

__ Vou deixar os livros na mesa. - fala indo em direção a mesa me ignorando.

___ Sara, não pense que vai fugir de mim. Fico na sua frente e cruzei os braços. ___ Pode me responder? Eu sempre te vejo com a Júlia e agora você está sozinha, o que houve? 

__ Ela é uma falsa, julía contou para todo mundo que meu pai pagou um garoto para ficar longe de mim. Agora a escola inteira está me zoando.

__ Espera, seu pai fez o quê? Perguntei confusa.

__ Isso mesmo que ouviu, ele pagou um menino para ficar longe de mim. Isso é quando não manda o Yuri ameaçar os garotos. Sabe professora? eu estou cansada. Ele acha que sou uma criança e quer controlar minha vida.

__ Ele pode estar tentando te proteger, mesmo assim, essa não é a maneira correta.

___ Não mesmo, na realidade meu pai não se importa comigo, ele só quer controlar tudo e todos. E quer saber? Melhor assim. Se ele não faz questão, eu menos. E enquanto a Júlia, quero distância. - Fez menção de sair e a segurei  tocando seu rosto.

__ Querida? olha pra mim, eu não conheço seu pai, mas acredite, ele te ama muito e por favor, não faça nada que possa se arrepender.

__ Me arrepender?  __ Nunca me arrependo de nada professora.

__ Espera! Antes de ir quero que pegue isso. Abri minha bolsa e mostrei o cartão do grupo de jovens da nossa igreja. __ Se um dia resolver, dá uma passadinha lá, vamos adorar te receber. Atrás tem meu número, pode ligar para mim a qualquer hora, saiba que no que puder eu irei ajudar. Deus pode estar chamando você, só que tem que dar ouvidos a sua voz primeiro.

__ Sei professora! Me poupe de discursos religiosos. Já basta minha vó. - Pega o cartão saindo. 

Terminei as aulas, infelizmente hoje não tive aula na sua sala, depois da nossa conversa não conseguia parar de pensar no que ela disse, algo me dizia que precisava de ajuda. Eu só não sabia como poderia ajudá-la nesse momento. Andando pelo corredor encontrei com Bruno meu melhor amigo, que assim como eu, também é professor.

___ Talita vai ao culto hoje? Colocou o braço sobre meus ombros. Encaro o seu braço como uma boba, o que está acontecendo comigo? Não tinha superado essa fase?

__ Acho que não vai dar, tenho que resolver algumas coisas em casa. 

__ Entendo, vou estar te esperando. Sabe que não desisti de nós dois, aguardo sua resposta. - pisca sedutor andando de costa sem tirar os olhos de mim e balanço a cabeça sorrindo.

__ Tudo no tempo certo. Bruno espera! Corro parando na sua frente __ Você sabe quem é o pai da Sara?

__ Sei sim, é o dono de uma empresa aqui perto. Por que quer saber? Me olhou desconfiado.

__ Estou preocupada com ela. Acredita que ele paga os garotos e ameaça eles para ficarem longe dela? Ele me olha surpreso.

__ Então, o que se fala sobre ele é verdade.

___O que dizem sobre Ele?

___ Eu sei por cima, não ligo muito para as fofocas da escola, o que dizem é que é um homem bem metido e vive saindo com várias mulheres. E cá entre nós, para mim ele é bem pior.

___Porque diz isso? Pergunto e coça a nuca disfarçando.

__Essas pessoas sempre tem muito maís a esconder.

__Entendo. Suspiro triste___ Vou orar para que eles se entendam.

Antes de chegar em casa, lembro do que tinha prometido ao Guilherme, então aproveito e passo no canil para adotar um cachorrinho para ele. Assim que entro meus olhos se iluminaram ao ver vários animais fofos.

Uma moça muito bonita veio me receber.

___ Olá, gostaria de adotar algum? Ela pergunta simpática.

__ Sim. Quero adotar um filhote para meu sobrinho.

___ Assim, claro. Venha ver os filhotes, estão aqui. - aponta para eles. É um mais fofo que o outro.

___ São lindos. Quero aquele malhadinho ali. 

__ Boa escolha, ele é uma graça. - Escutei latidos atrás de mim e me viro, vejo uma cachorra grande de cor preta, noto que ela tem uma deficiência, falta uma patinha na frente.

___ E essa cachorra? Apontei a mesma.

__ Essa é a Nega, ela já é velha aqui. Veio quase morta depois de ter sido atropelada, mas por um milagre sobreviveu. Como pode ver, ela perdeu uma pata da frente e por já ser adulta e ainda por cima deficiente não a adotam, as pessoas preferem filhotes e cachorros saudáveis.

__ Eu quero adota-la. - Digo convicta e ela me olha surpresa.

__ Sério? Ela é um pouco brava. - A mulher diz com receio e sorri.

__ Tudo bem, eu sei lidar com isso. Tenho certeza que vamos ser boas amigas não é Nega? Vou até ela e me aproximo devagar, ela começa a latir, mas quando ponho minha mão dentro da grade para acariciá-la, abaixa cabeça aceitando o carinho.

___ Nossa! é a primeira vez que ela faz isso, nunca deixa ninguém tocá-la, nós temos que dar comida a distância. - A observa maravilhada.

__ Sério? Ela parece tão boazinha.

__ Ela realmente gostou da senhorita. - Afirma e concordo.

__ Eu também gostei dela.

Depois de pegar a Nega e o filhote, sigo para casa. A moça insistiu que eu levasse uma focinheira, mas sabia que não seria necessário. Olhei para Nega novamente e ela parece feliz.

__ Vamos nos dar muito bem Nega. - comunico a olhando e a mesma late.

Estacionei o carro em frente a minha casa, assim que desçi e abri a porta para, Nega desce e corre saltitante. Vou ao banco de trás e pego a caixinha com o filhote.

___Guilherme a dinda chegou!!

___Pesente, pesente! 

___Aqui meu amor, seu presente.

___Cachorrinho. 

___Talitaa! Que animal é esse? - Fanny sai correndo e vejo a Nega pulando nela.

___ Uma cachorra! Que pergunta Fanny. Ela gostou de você.

__ Sério Talita? Dois cachorros? pegou a caixinha na mão do filho.

__ Dois nada querida, essa é minha. Esse é do Guilherme, é melhor você tratar bem do meu presente. - Rola os olhos.

__ Você vai cuidar, vou logo avisando. - Minha mãe aponta para cachorra.

__ Claro chefia. - Bato continência Sorrindo.__ Ela vai dormir na varanda do meu quarto relaxa.

A noite chegou rapidamente. Arrumei a casa da Nega na varanda do meu quarto e deixo ela entrar, me troco colocando um moletom e uma blusa branca confortável, me deito e começo assinar algumas provas enquanto a Nega fica deitada no chão me olhando. Estou quase pegando no sono quando meu celular toca, segurei ainda sonolenta e olho o número e não reconheço.

___Alô?! Atendo com receio.

__ Professora me ajuda por favor! Reconheço a voz da Sara do outro lado da linha, e parece estar chorando, meu coração acelera apreensivo.

___Sara o que houve? Por que está chorando?

__ Eu fui assaltada, estou com muito medo, por favor me ajuda. - desabafa um tanto desesperada.

__ Se acalma. Onde você está? Você está bem? Pelo amor de Deus! Me diz que está bem.

__ Estou bem. Eu não sei bem onde estou, é uma rua estranha tem um orelhão, eu não sei.

___ Olha para algo que possa indicar onde está, qualquer coisa. - Explico tentando manter a calma.

__ Deixa eu ver. Tem um mercadinho ou seria loja? Não sei ao certo.

___Que cor é? Ou nome?

__ É azul e vermelho. Não dá para ver o nome direito.

__ Tudo bem, acho que sei onde é, isso fica perto da escola. Espere aí, já estou indo te buscar não saia daí! 

___ Vem logo. - disse e desligo o celular. Me levantei pegando a chave na mesinha. Meu Deus! proteja essa garota, e tomara que não seja nada grave.

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