o doloroso silêncio

As horas foram se passando, Sara chorou em silêncio por todo o tempo, ele assistiu aquilo com preocupação, mas não sabia o que dizer ou fazer, suspirou de alívio quando acabou adormecendo, seu corpo estava sem forças, estava sem se alimentar a dois dias, nada, nada além de água.

– Tyler, podemos falar um instante? – disse Lorence, Tyler assentiu com a cabeça e acompanhou ela até o corredor, ela segurava uns papéis em suas mãos, seu rosto era de preocupação.

– Algum problema? – ele perguntou.

– os testes para hiv e outras doenças sexualmente transmissíveis deram negativos.

– que bom, então está tudo bem.

– não está Tyler, Sara está com deficiência de vitaminas no corpo.

– quais? – ele perguntou.

– todas, essa garota não comia? Isso deve ter sido anos de alimentação muito restritiva. – disse ela entregando os exames a Tyler, que tratou de olhar cada uma das páginas.

– ah Deus, a b12 está muito baixa, a ferritina mais ainda, sem falar na vitamina c, ela precisa repor o mais rápido possível. — disse ele com preocupação.

– sim, já pedi que a enfermeira preparasse a medicação, Noripurum na veia, primeira aplicação hoje e mais duas nas semanas seguintes, o restante irei receitar para que tome em casa via ora. – Tyler soltou um longo suspiro, ficava cada vez mais irritado com a situação.

– o maldito do pai dela me disse que ela era saudável.

– quer saber o que acho disso?

– sim, pode falar.

– se nem mesmo se deram conta que a filha estava sendo estuprada dentro de casa, iriam perceber que estava doente? Quando a enfermeira foi colher o sangue dela, ela disse que nunca havia feito um exame de sangue, um ano mais em casa e ela morreria, pelo pouco que vi dessa história, já sei que a família não está nem ai pra ela, apenas lucraram a vendendo como se vende um porco, a vendendo por que tinha uma pessoa sádica o suficiente para comprá-la, vai me proferir alguma ameaça pelo desaforo? – ele sorriu sem ânimo, conhecia Lorence a anos e sabia bem que ela condenava muitas coisas na máfia e não tinha medo algum de dizer a ele.

– não, apenas está sendo sensata, sabe, ela não sabia sobre o real motivo de tê-la escolhido para casar comigo, o desgraçado do pai nem mesmo contou.

– Tyler, ao menos dê uma vida digna a essa garota, ela não merece mais martírios e o mais importante, de modo algum permita que ela volte para o inferno. – disse ela, então uma enfermeira passou por eles, acenou com a cabeça e entrou no quarto.

– eu vou ficar acompanhando a administração, para caso tenha alguma intercorrência.

– tudo bem, converse com ela e pergunte como era a alimentação dela, é importante saber para que ela seja medicada da melhor forma.

– claro.

– só mais uma coisa.

– que fim levou Patrick? mandei uma mensagem pra ele a dois dias atrás, mas ele não respondeu.

– ele teve que trocar de número, o celular dele estragou, perdeu tudo, mas ele falou que esses dias iria visitar a Julie. – Julie era filha de Lorence e Patrick, uma garotinha de seis anos, fruto de um relacionamento que acabou, não por falta de amor, mas sim por falta de compreensão, Lorence não aceitava o meio perigoso que ele trabalhava, e ele não compreendia bem os motivos dela, apesar disso, seguiam se amando, mesmo que separados a dois anos. – vou te mandar o número dele.

– tudo bem e obrigada.

De volta ao quarto, Tyler encontrou Sara acordada, a enfermeira colocava a medicação, quando terminou, saiu do quarto, ele se aproximou e viu a tensão se formar em seu rosto e corpo, então ele parou, perto, mas longe o suficiente para não deixá-la desconfortável.

– como se sente? – ele perguntou, ela pensou um pouco, estava faminta, seu estômago chegava a doer, mas estava acostumado com aquilo e não disse nada.

– bem.

– o resultado de seus exames saiu.

– eu estou bem? — ela questionou incerta.

– Na verdade não, está com deficiência de vitaminas, Sara, como era sua alimentação? você fazia todas as refeições do dia? comia tudo que era necessário? – ela apenas balançou a cabeça em negação. – por que?

– minha mãe não deixava.

– quando foi sua última refeição? — ele perguntou, afinal desde a noite anterior sabia que não tinha comido nada.

– a pouco mais de dois dias tomei um copo de água de coco.

– que…ah Deus, ontem você desmaiou de fraqueza, por que sua mãe fazia isso? — ele questionou aflito.

– por que eu estava gorda. – ela afirmou, de tanto ouvir, havia passado a acreditar que era verdade.

– e quanto você pesava? – ele perguntou assustado.

– agora estou com quarenta e quatro, eu acho, o maior peso que tive foi cinquenta.

– quanto tem de altura?

– um e cinquenta e cinco.

– isso é absurdo, você nunca esteve gorda, ao contrário, está muito magra, mostrando as costelas na verdade. – disse ele, havia reparado durante a noite quando tirou o vestido, mas não se atentou, até porque não podia imaginar que aquilo se devia a uma dieta extremamente restritiva.

– ela disse que eu precisava emagrecer, que meu corpo não era elegante como o dela. – eram corpos diferentes, Margaret tinha um e setenta de altura, um corpo inteiramente magro e longilíneo naturalmente, já Sara era muito mais baixa, apesar de magra, tinha curvas exuberantes, seios grandes e redondos que se destacavam por ter ombros estreitos, uma cintura que parecia ter sido moldada a mão de tão fina e destacava demais o quadril largo, a bunda e as coxas avantajadas, aos olhos de Margaret as mulheres deveriam exalar pureza, um ar angelical, mas com aquelas curvas, Sara chamaria atenção sexualmente, e não era o que ela queria passar, por isso sacrificava a vitalidade da filha para encaixá-la em um padrão do qual ela não fazia parte.

– toda sua família é doente da cabeça, elegância não está nas formas do corpo.

– eu posso comer então? – ela perguntou temerosa com a resposta.

– sim, claro, mas agora não, só depois da medicação, se comer agora vai passar mal.

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