Capitulo 7

- Por favor, não faça isso. – Suplico. Antes que possa responder ou qualquer outra coisa, sinto seu corpo ser puxado de cima do meu, vejo um vulto e no segundo seguinte, ele está no chão ao meu lado com Sebastian desferindo socos em seu rosto. Depois de incontáveis socos, vejo o desconhecido desmaiado e com o rosto manchado de sangue. – Sebastian já chega, por favor.

Só aí ele me olha e vem ate mim, me levantando e me abraçando. Choro em seus braços, um choro de alivio, ele me abraça forte e me sinto protegida. Quando consigo controlar meu choro me afasto apenas o suficiente para olhar em seu rosto. – Obrigada Sebastian, eu não sei o que poderia ter acontecido se não tivesse chegado. – Eu sabia o que podia acontecer, nos dois sabíamos, volto a chorar e meu corpo treme a cada soluço de choro. Me agarro a Sebastian ainda mais e sinto seus braços me protegerem. – Como sabia que eu estava aqui?

- Eu não sabia, vi quando saiu e veio para essa direção. Como não voltava logo resolvi vir atrás, e quando cheguei perto ouvi seus gritos e vim correndo.

- Obrigado Sebastian, nunca vou cansar de te agradecer.

- Não sei o que faria se qualquer coisa tivesse acontecido com você. – Diz acariciando meu rosto. – Precisamos chamar alguém e levar esse...essa coisa para a delegacia, e nem tente dizer que não. O que ele fez foi serio Selena, quero o ver preso e farei de tudo para que isso aconteça.

- Concordo com isso, ele pode não ter conseguido fazer comigo, mas pode ter feito com varias outras.

- Faremos o seguinte, você vai chamar alguém e eu fico aqui. Ele pode acordar e fugir. Fale com meu pai, não precisa entrar em detalhes, apenas o traga aqui.

- Tudo bem. – Corro até o local que esta acontecendo a festa e discretamente chamo tio Paulo, prendo meu choro o máximo possível, ainda sinto suas mãos em mim e aquilo me causa enjoo, sinto vontade de arrancar minha roupa e me lavar.

Tudo acontece rápido, quando voltamos ao local, talvez por impulso ou onde me sinto mais segura no momento, corro para os braços de Sebastian novamente e fico ali. Enquanto ele conta tudo a tio Paulo e mesmo sem ter culpa, uma vergonha gigantesca me consome. Descobrimos que o desconhecido era um trabalhador da fazenda, filho dos caseiros. Os pais e os donos da casa, os únicos a ficarem sabendo do ocorrido fora nos, ficaram arrasados, fomos todos para a delegacia e a tarde foi grande, tive que contar tudo novamente mais duas vezes, e cada vez que contava sentia mais vergonha. Sebastian não saiu do meu lado um minuto sequer e aquilo foi bom, gostava de sentir o calor de sua mão presa a minha. Já era noite quando fomos para casa e eu ainda chorava, só contamos tudo para tia Clara e Juliana quando chegamos em casa, havíamos inventado uma desculpa mais cedo para não as deixarem preocupadas, pois não ajudaria em nada. Choraram junto comigo e era bom ter uma família. Quando era em torno de onze da noite todos dão sinais de cansaço, depois de perguntarem dezenas de vezes se estava bem e eu mentir todas elas dizendo que sim. Todos me abraçam e beijam minha cabeça antes de subir.

- Está tudo bem Selena? – Sebastian me pergunta quando todos sobem as escadas.

- Vai ficar. Eu espero.

- Selena, precisa entender que você não teve culpa, aquele canalha, aquele... não consigo imaginar o que poderia ter feito com aquele homem se não tivesse me feito parar, teria o matado Selena, sem nenhum remorso. O ver encima de você enquanto chorava me cortou o coração e me deixou cego. Desculpe não ter chegado antes.

- Você está me pedindo desculpas? Sebastian, eu não sei como te agradecer. Você salvou minha vida. Obrigada, vou dizer isso para você o resto de minha vida. – Digo quando passo minha mão por seu rosto.

- Isso é muito bom. – Acabo rindo quando ele fecha os olhos para receber o carinho. Quando abre os olhos novamente, seus olhos estão escuros de desejo. Mas ao contrário dos olhos do desconhecido, que na delegacia descobri que se chamava Juan, só de pensar já sinto um calafrio. Seus olhos são expressivos, vejo ternura, carinho e desejo. Sua boca mais uma vez vem de encontro a minha, seus lábios no meu me fazem esquecer por alguns instantes os acontecimentos do dia. Seus braços rodeiam minha cintura e meu braço livre vai direto para seus cabelos, que descobri serem macios. Ao invés da noite passada, esse beijo é lento, descobrindo as coisas que não foi possível descobrir com os beijos da noite anterior.

O beijo que era lento começa a ficar rápido e o ambiente começa a esquentar, nos separamos pela falta de ar e quando ergo os olhos para olha-lo ele está tão ofegante quanto eu, um sorriso safado nasce em seus lábios. – É melhor pararmos, isso está ficando quente.

- Boa ideia. Isso não era para ter acontecido.

- Porque não? – Pergunta agora confuso.

- Sebastian a duas semanas atrás você me odiava e agora vive me beijando, eu nem sei o que pensar.

- Eu sei, mas não consigo ficar longe dos seus lábios. – Diz antes de me beijar novamente. Ficamos ali trocando beijos ate certo ponto da noite que nos obrigamos a subir para o quarto. Quando fecho a porta do quarto, fico ali pensando o que acabou de acontecer. Ficamos como namorados no sofá e aquilo foi bom. Não deveria ter sido, mas foi. Balanço minha cabeça rindo, isso me ajudou a esquecer um pouco as coisas que aconteceram.

Quando tiro minha roupa para tomar banho e olho no espelho, tenho marcas em minhas pernas onde Juan apertou e aquilo me faz cair em um choro forte, sento no chão do banheiro e choro até escutar a porta do quarto ser aberta e logo Ju esta sentada ao meu lado me abraçando, me agarro a ela e choro ainda mais. Ficamos talvez horas ali, até ela me convencer a levantar e tomar banho. Quando me deito já passa das duas da manhã. Ju se deita comigo e pego no sono abraçada a ela.

Na manhã seguinte quando acordo sinto meu corpo dolorido e como é segunda-feira eu preciso ir para faculdade e depois trabalhar, Ju ainda dorme ao meu lado e agradeço mentalmente por a ter aqui comigo. Ju é como uma irmã. Me levanto para tomar banho, quando saio do banheiro ela já está acordada – Bom dia amiga, está melhor? – me lança um olhar interrogativo. – Bom dia, estou bem melhor. Obrigada por ontem. Agora levanta que temos faculdade e trabalho mais tarde. Bora mulher.

- Aí, tá bom. Já tô indo. – Resmunga saindo do quarto. Não vejo Sebastian, tia Clara diz que ele saiu cedo para o trabalho, tio Paulo nos leva na faculdade e como fazíamos cursos na mesma faculdade era mais fácil. A manhã passa devagar, tento ao menos resolver algumas coisas que ficaram acumuladas com essa semana fora, e como mês que vem temos provas e enfim férias. Eu preciso correr ou vou me atolar, o ano estava passando rápido, já estávamos no fim de outubro.

Resolvo não pegar ônibus para ir para o trabalho, tinha medo de precisar usar os dois braços e me ferrar. Uber era mais seguro, mas também era mais caro e isso era um problema, mas um para variar. Chego no trabalho alguns minutos adiantada. Chego na sala e Sebastian está lendo alguma coisa muito concentrado, pois nem me percebe. – Oi.

- Oi Selena, achei que não voltaria a trabalhar por agora.

- É melhor voltar logo, se não cada vez acumula mais. – O clima era estranho, acho que nenhum dos dois sabia como falar do beijo. Mas de qualquer forma teríamos que falar. Quando penso em abrir minha boca, alguém bate na porta. Tio Paulo entra logo depois. – Boa tarde pessoal.

- Boa tarde. – Dizemos os dois. – Que bom que estão os dois aqui, preciso falar algo com vocês. Teremos que enviar um representante nosso para a França, nós queremos alguém lá. Mas só Selena sabe falar Frances, mas por conta da faculdade não pode ir. Então Sebastian, você terá que ir.

- Como é que é pai?

- Eu sei que não quer ir filho, mas você e Selena são os que mais estão por dentro de tudo, e Selena não pode ir.

- Por quanto tempo pai? Uma semana?

- Um mês e meio meu filho.

- O QUE? Pai, não, nem pensar. Odeio essas viagens de trabalho, o senhor sabe disso. Manda a Ju, a mamãe ou o senhor vai.

- Não Sebastian, você precisa ir. Por favor filho. – Sebastian fica alguns minutos em silencio e meu interior pede para que ele não aceite essa viajem, não gosto de imagina-lo tão longe.

- Tudo bem pai, eu vou.

- Isso meu filho. Ate o final da semana você viaja. – diz e sai da sala. Quando olho para Sebastian ele está me olhando e eu não consigo sustentar seu olhar. Mesmo sem saber o porquê, a notícia me deixa triste de uma forma que eu não esperava, um mês e meio passava rápido, mas era um mês e meio poxa. Não queria que fosse.

- Bom, vou trabalhar então. – Ele apenas acena com a cabeça.

O restante da tarde passa rápido, assim como o restante da semana. Ajudei Sebastian com tudo relevante a viagem, quando chega na sexta ele não vai ao trabalho pois tinha que arrumar algumas malas, viajava anoite. Pela primeira vez trabalhei sozinha naquela sala e não gostei, era silenciosa depois, Sebastian tinha algumas manias que descobri gostar de todas elas. Ele batia a ponta da caneta na mesa sempre que estava pensando em algo, e logo em seguida me perguntava algo. Agora ficaria quase dois meses sem isso. Eu não estava me reconhecendo, que isso? Balanço minha cabeça para me livrar desses pensamentos e resolvo ir embora. Quando chego em casa, vejo que ninguém chegou ainda, vou para o quarto e fico por lá até alguém bater na porta. Quando abro Sebastian está encostado no batente da porta.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele passa o braço por minha cintura e me puxa de encontro a ele e me beija. Seu beijo amolece minhas pernas como todas as outras vezes, eu não queria admitir, mas iria sentir muita falta dos seus lábios. – Eu não podia ir sem me despedir. – Diz quando nos separamos. Passo a mão por seu rosto em um carinho silencioso e o vejo fechar os olhos como da outra vez. – Que bom que veio. – Ele encosta sua testa na minha e ficamos alguns minutos assim, apenas nossas respirações sendo ouvidas. Quando nossos olhares se encontram nós nos beijamos novamente. – Eu preciso ir agora, ou eu não vou conseguir ir. – Eu gostei de ouvir aquilo, passo minha mão por seus cabelos e lhe dou um selinho. – Vá com Deus, até daqui um mês e meio. Ele assente e desce as escadas.

Um nó gigantesco se forma em minha garganta e tenho vontade de chorar. Eu tentava me convencer que seria apenas um mês e meio e que não tínhamos nada, apenas havíamos trocado alguns beijos. Quem eu queria enganar? Nos queimávamos juntos, nosso desejo era palpável quando estávamos juntos e eu iria sentir sua falta. Eu tinha a sensação que seria os quase dois meses mais longos da minha vida.  

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