Continua Capítulo Um

Parte 3...

Segurando a vontade de chorar ela pensou na diferença entre eles. O tio tinha tanta riqueza e ela era relegada a viver em grande dificuldade junto com a mãe e tudo isso poderia ser diferente se ele tivesse pelo menos um pouco de compaixão.

Desde a entrada suntuosa com um enorme portão de ferro trabalhado até ali, a propriedade era cheia de coisas caras que mostravam riqueza.

Enquanto isso ela morava com a mãe em um local minúsculo em uma área péssima da cidade, porque não tinham condições de se mudar para outro lugar. Por vezes sonhou em sair de lá, mas não tinha condições financeiras para tanto.

Nunca havia saído de Vale Real, o que dirá fazer uma viagem internacional. Esta tinha sido a primeira vez que entrara em um avião.

— Estou bem sendo uma garota e não quero rios de dinheiro, quero apenas o suficiente para ajudar minha mãe - disse com coragem.

— Cale-se! - gritou — Não seja petulante menina, você precisa de mim. Aquela imbecil da sua mãe não a criou da forma certa. Você tem sangue grego e deveria ter sido criada com a nossa cultura - esbravejou e pegou outro cigarro — Tem que ser meiga e obediente, fazer o que seu marido lhe manda. Se for respondona ele não vai gostar de você. Kostas é exigente com suas mulheres e ele só gosta de mulheres obedientes.

“Era só o que faltava, mais um grego nojento.”

— Não pode estar falando sério. Se os odeia tanto, como pode esperar que eu me case com Kostas Megalo?

— Não espero, você irá - apontou — Realmente vingança é um prato que se come frio. Esperei demais, mas graças aos Deuses ainda terei o prazer de ver aquela família acabar como a minha, sem herdeiros para continuar seu império - sorriu com escárnio.

— Não posso fazer isso - insistiu.

— Pode e vai - deu uma risadinha sinistra — Se fizer tudo direito ele nunca irá descobrir que você é podre e seca. Já tenho ideias de como vou fazer um acordo com ele que o fará cair como pato - deu risada, olhando para o teto — Ele não poderá se separar de você enquanto não houver um herdeiro para as duas famílias e como você é seca por dentro isso nunca acontecerá. Será a perfeita vingança. Kostas está passando da idade de ser pai e precisa muito ter um filho para continuar seu trabalho. Ele também é cobrado por isso.

— Ele pode se casar com outra qualquer - se mexeu desconfortável.

— Não fará isso - mexeu a cadeira de um lado para outro sorrindo — Ele antes de tudo é um homem de negócios e sabe que essa briga entre nossas famílias já dura tempo demais. Um acordo financeiro é o melhor para ambos.

Nathaly lembrou que a mãe sempre dizia que o tio não era uma pessoa de confiança e o plano diabólico dele mostrava isso.

— Você é meu instrumento da vingança final.

— Não posso me casar com ele - repetiu prendendo a respiração — Peça-me outra coisa, qualquer coisa...

— Não - se inclinou para a frente — Se quiser meu dinheiro será do meu jeito ou pode ir embora já e não volte nunca mais.

A cabeça dela estava cheia de pensamentos conflitantes. Estava presa entre a cruz e a espada e não conseguia raciocinar para encontrar uma forma de fazer o tio mudar de ideia e ajudá-la sem precisar se casar.

Respirava fundo, tentando manter a calma e o pensamento lógico, sem se levar apenas pela emoção. Nunca esteve em uma situação como essa e não tinha ninguém para lhe dar um conselho.

Já havia pedido, até implorado desde o instante em que sentou frente à ele, mas o homem não mudava de ideia. Não queria se envolver nessa briga antiga das famílias e de modo algum queria se casar com um homem que tinha todo o perfil de ser tão ruim quanto seu tio.

— Por favor, o senhor é meu tio, isso não é certo...

— Não me importo se é certo ou não - disse ríspido — É o que eu quero e se você quer minha ajuda vai ser assim - se recostou de volta — Mesmo sendo só metade grega você deveria saber um pouco mais sobre sua herença genética. Um grego jamais deixa passar o momento da vingança. Eu vou vingar meu irmão e você vai fazer isso pra mim.

Ela ficou calada apesar de querer contestar e dizer em sua cara o quanto detestava seu lado grego. Ela tinha nascido ali, mas apenas isso. Se sentia uma brasileira, assim como sua mãe.

Não teve muito tempo de aprender sobre sua cultura grega com seu pai porque o perdeu ainda muito nova.

— Não disse que faria qualquer coisa? - ele ergueu uma sobrancelha.

Qualquer coisa que não fosse se casar com um completo estranho do qual pouco sabia, além de raras vezes em que lia fofocas sobre celebridades, porque era assim que era conhecido Kostas Megalo.

O bilionário que pulava de uma festa para outra acompanhado de belas mulheres gastando o dinheiro de suas indústrias.

Havia subestimado a capacidade de fazer maldades de seu tio e de usar seu desespero em benefício próprio. Tinha caído em uma cilada por vontade própria também.

— Ele nunca vai querer se casar comigo - argumentou — Não faço seu tipo.

Deu graças a Deus mentalmente por isso. Kostas era visto com vários tipos de mulheres, mas com certeza ela estaria fora de seu campo de visão. Todas as que apareciam nas fotos com ele, eram sempre lindas de corpo e rosto, muitas modelos e outras de seu círculo social.

Ele descartava as mulheres quando se cansava delas, típico de um machista egocêntrico. Em matérias que havia lido dizia que o máximo de tempo que ficava com uma mulher eram três meses.

— Não tem que se preocupar com isso - riu de um modo estranho — Kostas terá muitas vantagens em se casar com minha sobrinha. Já falei com ele rapidamente. E o pai dele vai pensar como eu.

— Como falou se eu ainda não o tinha procurado? E que vantagens são essas?

— Não sou um tonto garota, venho acompanhando vocês de longe e já esperava que uma hora ou outra você fosse bater aqui. Quando me ligou eu dei início ao meu plano e só esperei - a olhou por inteiro de modo crítico — Você é feia, mas pode se arrumar e chamar a atenção dele. Kostas prefere as loiras, por isso pinte o cabelo e compre algo insinuante. Esses jeans desbotados e essa camiseta são horríveis, coisa de pobre sem classe.

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