Depois de caminhar na chuva, Diana acabou pegando um resfriado. Ela dormiu profundamente, sentindo-se febril, e só acordou no meio da tarde. Ao sair do quarto, ela parou no corredor ao ver Ian secando os cabelos molhados de Maia.
— Não precisa, eu quase não me molhei. — Disse Maia.
— Seja boazinha, é melhor secar tudo. Se você pegar um resfriado, quem vai sofrer é você. — Respondeu Ian, com um tom tão carinhoso que parecia quase natural.
Diana ficou parada, imóvel, enquanto observava a cena. De repente, sua mente foi tomada por uma lembrança distante.
No primeiro ano de namoro, Ian a levou para assistir ao show de uma banda que ele esperava há anos. Mesmo se sentindo mal, Diana não quis estragar o momento e suportou o desconforto em silêncio. Mas Ian percebeu. Antes que o show completasse dez minutos, ele deixou tudo para levá-la ao hospital.
Depois, ele se culpou por não ter notado antes que ela não estava bem. Passou dias pedindo desculpas por tê-la feito aguentar aquela situação por tanto tempo.
Nos anos seguintes, bastava Diana tossir uma única vez para que Ian ficasse preocupado. Mas agora, o mesmo Ian estava colocando todo o cuidado e atenção que um dia foram dela nas mãos de outra pessoa.
— Amor, não pense besteira, nós só... — Ian começou a falar.
Após terminar de secar o cabelo de Maia, Ian finalmente percebeu a presença de Diana.
Maia, percebendo o clima tenso, tentou explicar:
— A casa que eu aluguei está cheia de baratas. Eu fiquei com medo, e o Ian disse que eu poderia ficar aqui por enquanto.
Diana olhou diretamente para Ian e perguntou:
— Essa era a "urgência" que você mencionou?
— A Maia não é como você. Ela sempre foi tratada como uma princesa, não sabe lidar com dificuldades... — Ian tentou justificar, mas suas palavras atingiram Diana como uma lâmina.
Os olhos de Diana começaram a se encher de lágrimas. Só então Ian percebeu o erro que havia cometido. Ele tentou corrigir rapidamente:
— Me desculpa, não foi isso que eu quis dizer.
Ele sabia que tinha tocado no ponto mais sensível de Diana. Desde pequena, ela nunca teve um lar de verdade. Seus pais se divorciaram pouco depois de seu nascimento, e ela foi tratada como um fardo, jogada de um lado para o outro, sem que ninguém quisesse assumir a responsabilidade de cuidar dela.
Ian sabia que o maior sonho de Diana era ter um lar, um lugar onde ela finalmente pudesse se sentir segura e amada. No terceiro ano de namoro, Ian trabalhou duro para comprar aquele apartamento e prometeu que seria o lar deles. Mas agora, ele estava deixando outra mulher morar ali, no espaço que deveria ser só deles. E, pior, ele havia tocado na ferida que Diana mais tentava esconder.
— Não tem problema. — Respondeu Diana, sua voz baixa e controlada.
Era ela quem havia dado a Ian a chance de machucá-la, e ela estava disposta a suportar essa dor. Mas seria a última vez.
Ian suspirou aliviado e segurou a mão de Diana com força.
Maia, no entanto, interrompeu o momento:
— Ian, agora que você me deu o quarto, onde você vai dormir?
A mão de Ian tremeu ligeiramente antes de responder:
— Eu vou dormir no escritório.
Quando Maia entrou no quarto, Ian se apressou em se explicar para Diana:
— Dizem que é melhor os casais ficarem mais afastados antes do casamento. É para o bem da nossa relação, eu só queria fazer o melhor para nós dois.
Diana puxou a mão de volta e respondeu:
— Tudo bem.
Sua voz era tão calma que deixou Ian inquieto.
Mais tarde, uma forte tempestade de trovões começou a cair. Diana já estava deitada quando recebeu uma mensagem de Ian.
[Meu amor, não consigo me acostumar a dormir sem você ao meu lado.]
Enquanto ela lia a mensagem, outra notificação chegou. Era uma foto enviada por Maia. Na imagem, Ian estava sentado na beira da cama, permitindo que Maia segurasse seu pulso enquanto ele sorria de forma gentil e calorosa.
[Eu sou medrosa e não consigo dormir sozinha. Ele decidiu ficar aqui comigo. Você quer que eu peça para ele voltar para você?]
Maia mandou isso com a foto.
O peito de Diana apertava de tanta angústia. Ela se levantou e tomou um comprimido para o resfriado. Pegou um copo de água e engoliu o remédio junto com a sensação de náusea que subia por sua garganta.
Enquanto fazia isso, outra mensagem de Ian chegou:
[Mas eu penso tanto no nosso futuro que consigo aguentar qualquer coisa por você. Eu não me importo com o desconforto, desde que seja para o nosso bem.]
Diana digitou uma resposta curta:
[Obrigada pelo esforço.]
Logo depois, Diana abriu a conversa com Maia e respondeu:
[Não precisa. Fique à vontade.]
De volta à cama, Diana olhou para o teto enquanto fazia as contas.
Faltavam apenas quatorze dias.