— Olá, eu gostaria de solicitar novamente a vaga para o trabalho no exterior.
Do outro lado da linha, a colega do departamento de recursos humanos parecia surpresa e respondeu:
— Você não havia recusado antes por causa do casamento? Dessa vez, a missão é de pelo menos três anos. Seu noivo, que te ama tanto, vai aceitar isso?
— Ele vai concordar.
A resposta de Diana Borges foi firme, mas sua voz carregava uma amargura difícil de disfarçar.
O amor de Ian Pinto por ela era algo que todos conheciam. Ele a mimava como ninguém. Sabendo que ela tinha problemas no estômago, Ian preparava refeições diferentes todos os dias, sempre pensando no que seria melhor para ela.
Não importava se chovia ou fazia sol, ele estava pontualmente na porta da empresa para buscá-la depois do trabalho. Quando ela ficava doente, mesmo que fosse apenas um resfriado, Ian não saía do lado dela por um minuto, cuidando dela dia e noite. Ele também nunca esquecia datas especiais, sempre surpreendendo Diana com presentes e gestos carinhosos.
Por isso, quando Diana ouviu que Maia, a primeira paixão de Ian, estava voltando para o Brasil, ela não se preocupou nem por um segundo.
Mas ela estava errada.
No dia em que Maia retornou, Ian fez um pedido de casamento público para Diana. Ela chorou de emoção, acreditando que aquele era o momento mais feliz da sua vida. Mas naquela mesma noite, recebeu uma mensagem anônima.
Era uma captura de tela de uma conversa:
Ian:
[Diana me acompanhou por cinco anos, eu não posso não me casar com ela.]
[Maia, a única pessoa que eu sempre quis casar é você.]
Quando Diana viu as mensagens, sentiu como se todo o sangue de seu corpo tivesse congelado. Ela quis confrontar Ian com aquelas provas, mas não teve coragem. Ela temia descobrir que os últimos cinco anos não passavam de uma mentira e que, no final, ela era só uma piada.
Nos dias que se seguiram, Ian continuou a tratá-la do mesmo jeito, como se nada tivesse acontecido. Ele ainda era atencioso, amoroso e dedicado. Por um momento, Diana começou a se perguntar se aquela mensagem era apenas uma brincadeira de mau gosto.
Até que, naquela tarde, Diana recebeu mais fotos.
Nas imagens, Ian estava ao lado de Maia, sorrindo enquanto a ajudava a experimentar vestidos de noiva. E o vestido que ele escolheu para Maia era exatamente o mesmo que Maia parecia mais linda usando.
— O que foi, amor? — Perguntou Ian, tirando Diana de seus pensamentos.
Ela olhou para o homem ao volante...
— Seus olhos estão vermelhos. Você não gostou desse vestido? Se não gostou, podemos voltar à loja para você experimentar outros.
— Não precisa.
Ian encostou o carro no acostamento, preocupado com a expressão dela.
— Se eu fiz algo errado, me diga. Eu juro que vou mudar. Você sabe que a última coisa que quero é te ver triste.
Diana sentiu como se uma mão invisível estivesse apertando seu coração. Ela não conseguia dizer uma palavra.
Falso.
Ele era tão falso quanto aquelas declarações de amor. Afinal, a pessoa que ele queria se casar não era ela, mas ele ainda insistia em fingir.
De repente, o celular de Ian tocou. Ele atendeu e, em poucos segundos, sua expressão mudou completamente.
— Não chore, estou indo agora mesmo.
Ian desligou e virou-se para Diana:
— Amor, você consegue voltar para casa sozinha? A Maia está com um problema urgente, preciso ir até lá agora.
Diana abriu a porta do carro em silêncio. Mas, ao sair, percebeu que estava chovendo. Ela pensou em voltar para pegar um guarda-chuva, mas Ian arrancou com o carro tão rápido que a deixou coberta de lama.
Ela ficou parada, olhando para o carro desaparecer na estrada. Naquele momento, percebeu que todas as perguntas que queria fazer não tinham mais sentido. Questioná-lo seria humilhante demais.
Diana caminhou debaixo da chuva até chegar em casa. Assim que entrou, recebeu uma mensagem do departamento de recursos humanos.
[As passagens já estão reservadas, prepare-se para a viagem.]
A data de sua partida estava marcada para dali a duas semanas: o mesmo dia que seria seu aniversário de namoro com Ian e a data do casamento deles.
Diana olhou para o calendário de contagem regressiva para o casamento que estava sobre a mesa. No topo, havia uma frase que ela mesma tinha escrito à mão:
[No meu momento mais feliz, me casarei com quem mais me ama.]
Mentira.
Uma lágrima grossa caiu sobre o calendário, borrando as palavras.
Diana e Ian tinham sido namorados desde a época da faculdade. Depois de se formar, ela escolheu ficar naquela cidade por causa dele, mesmo tendo oportunidades melhores em outros lugares.
Agora, era por causa dele que Diana finalmente decidiu ir embora.
Tudo o que Ian fazia era uma humilhação para ela.
E Ian? Ele era alguém que ela não queria mais em sua vida.