Um outro grupo de quatro, estava um pouco distante do acampamento, mas também procurava os caçadores que estão matando variados animais, indiscriminadamente, em suas terras. Se engana quem pensa que aquele lugar longínquo e inóspito, não tem dono. Pelo contrário, ali é uma reserva de animais muito diferentes e exóticos. Shifters.
O grupo seguiu o cheiro diferente, de quatro humanos fedidos e uma fêmea, que tudo indicava ser da sua própria espécie: uma shifter de lobo. Eles seguiram preocupados, pois nevou sobre os rastros das pegadas na neve e só podiam se guiar, agora, pelos odores. Não sabiam se a fêmea estava com eles ou foi caçada por eles, e está aprisionada. Prosseguiram seu caminho, pois o Alfa ordenou que não voltassem sem respostas, pois o povo está quase a passar fome. Seguiram devagar, farejando o ar, até que um cheiro forte inundou suas narinas lupinas. Em sua forma lupina, eles correm em direção ao cheiro forte de sangue humano e quanto mais se aproximavam, mais sentiam o odor pútrido do sangue de animais mortos a dias, e o de humanos, ainda fresco. Chegaram ao acampamento e a cena era horrível. Uma pilha de peles de vários tipos de animais, que embora congeladas, exalava o odor pesado que tinham sentido. Um corpo jazia sobre a fogueira ainda queimando e o cheiro da carne queimada, também estava no ar, olharam as barracas e encontraram mais dois corpos, mas pela quantidade de barracas, devia haver mais um corpo pelas redondezas ou conseguiu fugir. Voltaram à forma humana para pegar as roupas quentes dos humanos, apesar de fedidas, serviriam para aquecê-los e um deles saiu a procura do quarto corpo. Depois de olharem o acampamento, juntaram os corpos nus em uma pilha e junto com vários materiais encontrados, incluindo gasolina, atearam fogo, queimando tudo. Não sentiam pena ou remorso, pois eram culpados de vários crimes e se deixassem os corpos ali, fatalmente seriam destruídos pelos animais da floresta. Juntaram todo o material aproveitável e acondicionaram. Tinham um bom estoque de comida não perecível, como leite em pó, café solúvel, latas de sopa e biscoitos. Olharam tudo aquilo, pensando em como levariam, sabiam que eles tinham um carro em algum lugar, pois acharam a chave. Mas devia estar longe. Iniciaram uma busca na área do entorno do acampamento e encontraram dois trenós com cordas para puxar, eles com certeza preferiam fazer força do que barulho, caso utilizassem um Jet Sky. Puxaram os veículos até o acampamento e distribuíram o despojo sobre eles, verificaram as cordas e tirando as roupas, amarraram sobre as coisas nos trenós. Transformaram-se em seus grandes lobos e cada par abocanhou a corda de um dos trenós e puxaram. Demoraram um pouco a ajustarem seus passos com os dos parceiros, mas quando conseguiram, deslizaram rapidamente sobre a neve. Pensavam em quando chegassem na Alcateia com aquela comida, que não era muita, mas supriria a necessidade por um tempo. Todos ficariam contentes e o Alfa mais ainda, ao saber que os caçadores estavam mortos. Ao aproximarem-se da Alcateia, pararam e o líder do grupo uivou alto, avisando da chegada. Logo avistaram lobos correndo para ajudá-los. O Alfa aguardava, parado na entrada da Aldeia e sorriu ao ver toda aquela carga. Claro que parte dela era triste de ver, pois eram peles de animais que foram mortos por ganância. Mas era melhor trazer e dar uma utilidade a elas, para que a morte de seus donos não fosse totalmente vã. O grupo entrou na Alcateia, acompanhado do Alfa e de alguns familiares, antes de falarem com qualquer um, precisavam entrar, tomar um banho e comer algo quente para aquecerem o corpo, depois de tanto tempo na neve. Só então o Alfa poderia satisfazer sua curiosidade sobre tudo o que aconteceu. A fêmea caçadora, após tomar um banho quente, esquentou um guisado de legumes com carne seca de alce e comeu, esfomeada. O bom do inverno rigoroso daquela área, é que as comidas não estragavam. Quando a jovem mulher pensou que iria descansar, bateram à porta. Só uma pessoa ousava ir até ali em pleno inverno e essa pessoa deveria estar hibernando em sua caverna e não ali. — O que foi grandão? — perguntou, abrindo a porta. — Oi, Ava, vim ver como você está. Blanca ficou preocupada quando viu fumaça no meio da floresta — explicou Uchoa, seu amigo urso. — Entre Uchôa, quer uma bebida quente? — convidou ela. — Não, Ava, preciso voltar logo, minha Blanca está perto de ter os filhotes e eu preciso estar por perto — estava explicado porque ele não está hibernando — Ela mandou isso para você, estava quente mas acho que já esfriou — ele passou uma sacola térmica para ela, contendo um pote de sopa. — Agradeça a ela por mim. A fumaça que viram, foi no acampamento dos caçadores, finalmente acabei com eles. Só que lobos chegaram no local, antes que eu pudesse fazer alguma coisa e atearam fogo em tudo. Aliás, trouxe algo para você — entrou e pegou o casaco com as botas e estendeu para ele — é pele sintética, vai precisar lavar, mas quebrará o galho neste inverno. — Puxa, Ava, obrigada, estou precisando mesmo, com esses caçadores por aqui, ficou difícil sair para trabalhar. — não podiam se transformar com o risco de serem pegos — Vou contar para Blanca o que aconteceu, ela ficará mais tranquila sem caçadores rondando por aqui. Vou indo. — Beijou a bochecha de Ava e se foi. — Obrigada, grandão — ela gritou e entrou, fechando a porta, por causa do frio. Deixou o pote que Blanca mandou, com mais sopa, sobre a mesa. Pôs mais lenha no fogo, o dia estava amanhecendo, então ela conseguiu, finalmente, deitar, se cobrir e dormir o sono de quem cumpriu seu dever. *** Na Alcateia, com os rapazes limpos e alimentados, o Alfa escutava a história sobre tudo o que aconteceu. — Quer dizer que vocês chegaram lá e alguém tinha acabado de exterminar os caçadores? Chegaram a sentir o cheiro do matador? — perguntou o Alfa, de nome Zoren. — Durante todo o tempo em que rastreamos o grupo, sentimos o cheiro de uma fêmea. Mas quando chegamos ao acampamento, apesar do cheiro dela estar presente, não vimos rastros — contou Alan, o beta, líder do grupo. — O estranho, Alfa, é que o cheiro me pareceu familiar, mas não lembro de quem possa ser. — falou Demétrio, o melhor farejador da Alcateia. — Então, era uma de nós? — Quis confirmar o Alfa. — Sim, era uma loba, sem dúvidas. — confirmou Demétrio. — Vocês têm certeza de que não havia nenhum rastro dela? E as flechas que mataram os homens, sentiram algum cheiro nelas? — O Alfa continuou o questionamento. Um olhou para o outro e o mais novo deles, confessou: — Desculpe, Alfa Zoren, nós nem pensamos nisso. — passou a mão na cabeça, coçando a palma e fazendo careta. — Tá tudo bem pessoal, vão descansar, com a cabeça fresca, talvez vocês se lembrem de mais alguma coisa. — Liberou-os o Alfa. — Ah, lembrei de algo, Alfa, — aquele que não tinha falado nada até então, pronunciou-se. — notei que não havia nenhuma pegada de lobo no local, nem mesmo da fêmea. — Interessante, então a fêmea não se transformou em nenhum momento e não estava lá quando chegaram — o Alfa coçou a barba rala, pensativo — talvez ela não pudesse se transformar, porque carregasse consigo uma besta. Todos olharam para ele, surpresos. Não havia passado pelos seus pensamentos, que a fêmea pudesse estar atrás dos caçadores, assim como eles. Nesse caso, ela percebeu que eles estavam chegando e saiu rapidamente do local, sem levar nada. No caso, então, os despojos dos caçadores, deveriam ser dela.