Ponto de vista de Mia
— Para onde? — Jeo ligou seu Audi R8, o motor ronronando suavemente.
— Não acredito naquela vadia! — Scarlett interrompeu. — Você viu como ela estava toda em cima dele? "Kyle foi tão atencioso" — ela imitou a voz de Taylor. — Meu Deus, eu deveria ter...
— Scar, por favor — apoiei minha cabeça contra a janela. — Podemos... podemos simplesmente não falar sobre eles?
— Tudo bem — Scarlett bufou. — Mas só porque você parece que vai vomitar. Está bem?
— Só cansada — sussurrei.
Scarlett se inclinou para frente.
— Jeo, encontre algum lugar tranquilo. E de preferência com comida decente. Ela está comendo por três agora.
— Conheço o lugar perfeito — Jeo disse suavemente, encontrando meu olhar no retrovisor. — Aquele café novo perto do Museu de Arte Moderna. O que tem o terraço jardim. Na verdade, o Museu de Arte Moderna acabou de abrir sua nova ala.
Pela primeira vez em dias, senti uma centelha de interesse.
— A que foi projetada pela Foster + Partners?
— Olha quem lembra de arquitetura — Scarlett sorriu.
— Acorda, dorminhoca! — Scarlett abriu as cortinas do quarto de hóspedes dela. A luz do sol inundou o ambiente. — Vamos à inauguração da Galeria Hamilton hoje.
Pisquei, desorientada por um momento.
— Que horas são? — murmurei.
— Hora de parar de ser a sombra de Kyle Branson e começar a ser Mia Williams novamente — ela jogou algumas roupas na cama. — Jeo vai nos buscar em uma hora.
Era estranho, mas o jeito de Scarlett funcionava. Café da manhã na varanda de Scarlett. Exibições de arte onde eu podia me perder em cores e formas. Tardes vagando por novos edifícios, meus dedos formigando para desenhar novamente. Parei de pensar em Kyle o tempo todo.
— Você está diferente aqui — Jeo observou uma tarde enquanto explorávamos o novo desenvolvimento do centro. — Mais... viva.
— Lembra disso? — Scarlett segurou um caderno de desenhos que encontrou no armário dela. Meus antigos projetos da faculdade.
Estávamos sentadas na sala de estar dela, embalagens de comida espalhadas ao nosso redor. Jeo se inclinou para olhar.
— Isso é incrível — ele disse. — Seu uso do espaço negativo...
Toquei as páginas gentilmente.
— Eu tinha esquecido sobre isso.
— Você esqueceu muitas coisas — Scarlett disse calmamente.
Ela estava certa. Eu tinha esquecido a emoção de entrar em um novo edifício, analisando sua estrutura. Esquecido a alegria de esboçar ideias até tarde da noite. Esquecido como era ser... eu.
— O projeto Havers precisa de alguém com exatamente essa sensibilidade — Jeo disse casualmente, apontando para um dos meus esboços.
— O hotel boutique de luxo?
— Hum-hum. Eles querem algo moderno, mas orgânico. Linhas fluidas, luz natural...
Minha mente já estava acelerada.
— Você poderia integrar a arquitetura existente com elementos de design biomimético. Usar a fachada de tijolos antiga como contraste com painéis de vidro curvos...
— Viu? — Scarlett sorriu. — Essa é a Mia que eu me lembro.
As palavras saíram de mim.
— O átrio central poderia ter uma escada escultural, com elementos aquáticos que refletem padrões de luz natural ao longo do dia...
— Aceite o emprego — Scarlett disse de repente. — Você tem que aceitar.
Hesitei.
— Kyle...
— Não está aqui — ela completou. — Não esteve aqui a semana toda. Enquanto você estava se redescobrindo.
— Ok — sussurrei. Então mais alto: — Sim. Vou aceitar.
O rosto de Jeo se iluminou.
— Sério?
— Sério.
Scarlett trouxe mais café — descafeinado para mim agora.
— Essa é minha garota.
Eu ia responder quando meu telefone vibrou. Uma mensagem de Linda: "O conselho está fazendo perguntas sobre sua ausência."
A realidade voltou com tudo. Preciso falar com Kyle novamente. Forcei-me a aceitar o fato de que ele nunca me amou. Talvez terminar o contrato mais cedo fosse a melhor opção.
— Eu deveria ir para casa — continuei, tentando manter minha voz firme. — Verificar as coisas.
A casa estava escura quando destranquei a porta. Escura demais.
Uma única luz se espalhava do escritório de Kyle. Encontrei-o sentado atrás de sua mesa, perfeitamente imóvel, sua expressão ilegível nas sombras. Ele não levantou o olhar quando entrei, não reconheceu minha presença de forma alguma. Mas eu podia sentir — a raiva irradiando dele em ondas.
— Kyle? — minha voz soou pequena no silêncio denso.
Seus dedos bateram lentamente contra a madeira polida. Uma vez. Duas vezes. O som me fez estremecer.
— Uma coisa interessante aconteceu hoje — ele disse finalmente.
Meu sangue congelou.
Sem olhar para mim, ele deslizou uma pasta pela mesa.
Minhas mãos tremeram enquanto eu pegava a pasta. O relatório médico nadava diante dos meus olhos. Tudo parecia normal até...
— Você está grávida. Três meses. Minha esposa está grávida — a voz de Kyle cortou o ar como um chicote. Agora ele levantou o olhar, e a fúria em seus olhos me fez recuar. — Porque me lembro claramente de estar em Dubai há três meses. O mês inteiro. Gostaria de explicar isso, Mia?
— Isso está errado — sussurrei, o papel tremendo no meu aperto. — Estou apenas com dois meses...
— NÃO! — ele se levantou tão de repente que sua cadeira bateu contra a parede. — Não ouse mentir para mim!
Cambaleei para trás enquanto ele contornou a mesa.
— Kyle, por favor, deixe-me explicar...
— Explicar o quê? — ele avançou sobre mim. — Explicar como você tem dormido com ele? É por isso que você tem estado no estúdio dele todos os dias?
— Não! Não tenho. O relatório está errado — implorei. — Kyle, esses são seus bebês...
— Meus bebês? — ele riu, um som áspero e quebrado que me fez estremecer. — Quão estúpido você acha que sou?
Sua mão bateu na parede ao lado da minha cabeça. Pulei, um pequeno grito escapando dos meus lábios.
— Kyle...
— Você não vai ficar com eles — as palavras eram como gelo.
— O quê?
— Aborte-os!! — ele rugiu, me fazendo estremecer violentamente. — Ou vou destruir você, Mia. Você e seu amante artista.