A Escolhida do Príncipe Imperial
A Escolhida do Príncipe Imperial
Por: Ava Martínez
capítulo 01

— Senhor, está na hora de irmos  —  Disse Henry Carlisle para Christopher, abrindo a porta para que o rapaz entrasse no carro. — Caso não esteja, vamos chegar atrasados na sua defesa.

— Meus pais já estão lá? —  Perguntou o rapaz de quase vinte e três anos, não se dando o trabalho de pedir mais uma vez que o novo chefe da segurança o chamasse pelo seu primeiro nome, entrando no carro com o símbolo real de sua família, os Hannover de Audelix, um pequeno país europeu que lutava para manter a monarquia atuante tanto na sede quanto nas ilhas no entorno, que foram conquistas há séculos e agregadas ao território dos Hannover.  Esse era um sobrenome conhecido em toda a Europa, não poderia ser diferente, já que se tratava da família imperial. E era esse sobrenome que Christopher carregava.

Ele era o príncipe imperial. Único herdeiro do trono. E em poucas horas, um universitário formado.

— Sim, eles foram um pouco mais cedo. O Reitor da universidade queria recebê-los. - Respondeu Henry, após também entrar no carro e sentar-se ao lado do príncipe, que notou a tensão no homem. O rapaz sabia que ter a família real num evento de aparição pública era complicado para a equipe de segurança orquestrar que todos ficassem bem. Nunca houve nenhum tipo de atentado, mas o seguro morreu de velho e nada como ter um bom padrão de segurança para os monarcas.

— Sei. - Suspirou o rapaz, que passou as mãos nos cabelos. Era o dia da defesa de sua monografia em Ciências Econômicas e claro que o Reitor da Universidade faria uma cena para receber o Imperador e a Imperatriz de Audelix. Estava ansioso para, depois de tantos meses preparando seu trabalho de conclusão de curso, apresentá-lo. Sentiu seu celular vibrar no bolso interno do blazer. Ignorou a mensagem, provavelmente era sua mãe ou seu melhor amigo Thomas, e honestamente, Christopher não queria falar com nenhum deles naquele momento, não tinha dormido muito bem e sabia que estava um pouco ranzinza, não tinha comido nada por causa do nervosismo. Desde pequeno era submetido a esse tipo de situação, onde todos os olhos estavam nele, mas nunca gostou e duvidava que criasse gosto por esses momentos. Deus saberia o que ele iria fazer quando virasse Imperador, porque ele, não.

Só ficaria bem depois da defesa. Tinha que ser impecável. Tanto por ele quando por sua família, bem que Christopher  não tinha dúvidas, pensava ele enquanto olhava pela janela do carro real, que seus professores não se importavam de fazer as correções ou questionamentos com seus pais ali. Gostava que, quando estava em sala ou no refeitório com alguns colegas, ele não era o príncipe herdeiro, ele era apenas o Christopher, que gostava de andar de moto e jogar videogame. Que conseguiu  sua vaga na instituição porque passou no vestibular por sua dedicação aos estudos, não pelo título de sua família.

Ultimamente, foi uma boa válvula de escape nesses meses, que estava tão focado nos estudos, estava estressado e sabia disso. Chegaram logo na Universidade de Carmelius, situada na cidade de mesmo nome,  sede do governo, onde a família real morava. O carro foi direto para o departamento de ciências econômicas aplicadas e diferente do que Christopher  fazia quando pilotava sua moto, não foi para o estacionamento, mas estacionaram próximo ao auditório do departamento.

Auditório. Não sala.

Assim que o carro parou, o jovem desceu, sendo imediatamente recebido pelo Vice-Reitor, Ulisses Montain, um homem alto e de cabelos pretos, vestido impecavelmente em um terno, fez uma reverência para ele. Christopher curvou-se também. Ele foi seu orientador e também um bom companheiro durante o período de graduação.

— Está ansioso? - Perguntou ele, caminhando ao lado de Christopher , colocando o braço pelos ombros do rapaz. Ulisses era um homem gentil e mesmo sendo 25 anos mais velho que Christopher, tinha o espírito muito jovial. Henry vinha mais atrás com o outro segurança, Percy, que vinha dirigindo o carro.

— Estou —  Christopher  sorriu torto, sentindo seu celular vibrar mais uma vez. Ignorou de novo. Esfregou as mãos.

— Você vai se sair bem. É um dos melhores alunos desta universidade. Sei que está preparado.

— Obrigado pelo apoio, mas só vou relaxar depois que eu sair daqui —  Disse o loiro, dessa vez passando as mãos pelos fios do cabelo curto, rindo um pouco.

Orientador e aluno pararam em frente a porta que dava acesso ao auditório. A mão do mais velho parou na porta.

— Preparado? —  Perguntou antes de abrir.

— Sim! —  Disse Christopher e o próprio empurrou a grande porta. Aquele lugar nunca pareceu tão grande. Tinha capacidade para 700 pessoas, o palco era mais baixo e as paredes eram em um tom de marrom suave. Viu o grande auditório quase cheio. Sabia que as defesas eram abertas ao público, mas aquilo era ridículo. Viu até mesmo calouros de outros cursos lá, todos bem vestidos em roupas sérias. Parece que aquilo seria um simpósio na universidade e não a defesa de uma monografia. Seus olhos azuis percorreram o grande local, rapidamente distinguindo seus pais na parte mais próxima do palco, onde a aparelhagem e o primeiro slide de sua apresentação já estava projetada na parede. A cabeleira vermelha de sua mãe, a Imperatriz Elizabeth e a pequena rodinha perto da realeza fazia o jovem ter certeza de que eram eles. Seu pai, o Imperador Marcus, estava sentado ao lado de sua mãe, conversando e sorrindo. Parece que tinha nascido para ser ‘’real’’.

Enquanto ia caminhando em direção ao palanque, viu seu melhor amigo, Thomas e a namorada dele,  Sarah, sentados mais afastados. Eles acenaram e Christopher  sorriu para eles, abrindo seu sorriso ainda mais quando Thomas fez um sinal de força e uma expressão de apoio.

— Sua garota está vindo aí.- Disse Ulisses e diferente das outras vezes, Christopher  não o  corrigia quando falou que Madelaine era sua namorada. Seu orientador sabia que eles não tinham esse envolvimento. Ela era sua melhor amiga desde quando eram crianças, quando se conheceram. O pai de Madelaine  fazia parte do conselho de seu pai e eles se aproximaram quando Christopher  tinha derrubado a garota enquanto brincavam, a partir dali prometendo, por causa de todas as lágrimas que Madelaine tinha derramado por causa de um arranhão no joelho, cuidar dela dali em diante.

Madelaine Carter tinha vinte e um anos e estudava letras na mesma universidade. Ela vestia um vestido até os joelhos em tom creme e estava com os cabelos soltos, de um tom de cobre bonito, escuro, que ficava mais ruivo na luz do sol. Caminhava com calma em direção de Christopher  e quando se aproximou, fez uma pequena reverência para ele, por causa que estavam em público e depois para o professor.

Christopher revirou os olhos e a abraçou, sentindo Madelaine  rir um pouco ao mesmo tempo que beliscava o braço dele. Ela mal batia no ombro do rapaz, mas de salto, conseguia alcançar sua orelha.

— Por que você não respondeu às minhas mensagens? - Disse ela,afastando-se um pouco dele e o olhando com um franzir de lábios. - Enviei várias desde ontem. Tá me dando um gelo por ter perdido na nossa última partida de videogame?

— Espero você ali na frente, rapaz. - Disse o professor dele, saindo para dar privacidade aos jovens.

— Desculpe Mady, eu estou meio fora de mim hoje — ele comentou e a garota reparou em suas olheiras escuras. Ele vinha deixando seu celular de lado desde o começo da semana, mas não parecia ser o suficiente para se manter focado no que precisava ser feito. E nem tinha mais nada a se fazer , porque o trabalho já estava entregue e ele só precisava ensaiar uma ou  duas vezes a apresentação.

Ela sabia da pressão que ele colocava em si mesmo, como se todos já não colocassem.

— Tudo bem. Hoje é seu dia, de qualquer forma. —  Olhos azuis dela, tão claros que pareciam pérolas,  rodearam o local. —  Não ligue pra todas essas pessoas, você sabe que vai dá tudo certo —  Disse a moça que apertou a mão de Christopher, num gesto reconfortante.

— Espero que todos gostem do espetáculo. - Falou com um pouco de ironia, fazendo a moça rir, o que o fez sorrir também. Não ligava para os boatos de que eles eram namorados, por andarem muito juntos ou coisa do tipo, já estavam acostumados.

— Eu não perderia por nada. Você vai arrasar. Deixe eu ir sentar, estou atrapalhando você.  Boa sorte, mas você não precisa dessa merda! —  Disse ela , dando um beijo no rosto dele. —  Qualquer coisa, olhe pra algum de nós, respire e se acalme!

Christopher  não tinha problemas para falar em público, mas era um pouco ansioso e tinha esperado por aquele dia fazia algum tempo.

— Obrigado. Espero não precisar.

Madelaine  saiu de sua frente e ele caminhou até o palanque, onde seu orientador estava. Christopher  passou diretamente para o lado esquerdo da projeção, em referência onde seus pais estavam sentados com o reitor, em sinal de respeito. Seu orientador testou o microfone com o dedo, chamando a atenção de todos os presentes.

— Bom dia para todos e todas. É com grande satisfação que hoje apreciamos a defesa da Monografia para o ganho da titulação de graduado em ciências econômicas do príncipe imperial Christopher Aurelius Hannover pela Universidade de Carmelius.

Os presentes aplaudiram e Christopher  se curvou duas vezes, uma vez para o público e outra para seus pais, que estavam na primeira fila com expressões de orgulho, sentados juntos com outras autoridades do governo. Christopher sorriu para para o casal.

— Com a palavra, o estudante Christopher — apresentou Ulisses, fazendo um gesto em direção ao príncipe e piscando para o jovem, enquanto saía do púlpito, dando espaço para o loiro.

É hora do show, pensou o príncipe.

***

A defesa da monografia de Christopher tinha sido para dizer o mínimo, brilhante. O rapaz conseguiu passar pela banca com maestria e viu o brilho de orgulho no olhar de seus pais, sentados nos melhores assentos na plateia.

Não era porque ele teria tudo nas mãos que seria um babaquinha mimado. Trabalho duro sempre fez parte da filosofia que vinha passando entre gerações de sua família e que havia perpetuado os Hannover até ali. Fazia mais do que sentido, era questão de sobrevivência. O jovem príncipe ralou muito para sempre se destacar e aprender mais e mais, porque sabia que além da benção de Deus, para ser um bom monarca, ele precisaria ter conhecimentos em muitas áreas. Chris sempre foi dedicado nas atividades extra curriculares que nas quais os pais o colocavam, chegando nos horários nas aulas particulares com seus tutores e retendo todo o tipo de informação útil para quando sentasse no ponto mais imponente do trono.

A casa real quase nunca estava cheia. Um ambiente misto de tradição e modernidade. Tons de dourado, laranja e vermelho enfeitava o lugar, que continha algumas mesas em um dos jardins privativos; Entretanto, a parte que cabia a família Imperial (que não era aberta ao público para visitação) naquele dia recebia, além de amigos, aliados políticos do Imperador, aos olhos de Christopher , não era nada muito grandioso e ele gostaria que as pessoas fossem embora dali. Já havia recebido os cumprimentos de todos e estava cansado da exposição de possíveis pretendentes para ele. Naquela tarde, em meio aos cumprimentos pela sua defesa, as filhas e esposas dos aliados políticos do Imperador tentavam lhe passar números de telefones em guardanapos, cartões... Era simpático, mas estava cansado daquela situação constrangedora.  Faziam alguns meses que constantemente passava por situações como essa, pois todos tinham conhecimento da regra real: o herdeiro do trono precisava estar casado até os vinte e três anos, ou ao menos noivo. Christopher estava com vinte e dois anos e a família real ainda não tinha reportado nenhuma pretendente à sociedade.

Ou seja, estava acabando a temporada de caça ao Príncipe herdeiro do Império de Audelix, um dos últimos da Europa e com mais tradição em todo o mundo.

Tinha usado a desculpa de sua ocupação com os estudos para poder não ter que pensar nisso. Desde pequeno sabia de suas obrigações, mas quando ouvia seus pais falando de casamento, achava que esse dia não ia chegar. Até aquele momento. Quando fez 22 anos, não pode mais protelar aquilo. Era a porcaria da lei arcaica de seus antepassados, não tinha como fugir. Teve alguns encontros arranjados, mas cada garota era mais entediante do que outra e ele estava cansado de fingir que estava interessado.

Aproximou-se de sua mãe, a Imperatriz Elizabeth, que conversava com outras mulheres em uma mesa. Sua mãe era oriunda da família real irlandesa. Ela e seu pai, na época um príncipe, como seu filho, haviam se conhecido quando Marcus tinha ido fazer uma visita oficial. O avô de Elizabeth era hungaro e as famílias reais tinham um bom relacionamento. Em pouco tempo de contato acabaram se apaixonando e ela veio com Marcus, assumindo seu lugar ao lado dele.

Gostaria de sair dali para curtir com seus amigos. Ao menos pela última vez. Não era o mais festeiro de todos, mas gostava de sair. Como um jovem após um grande período de tensão, tinha aceitado de bom grado a ideia de Thomas, para que eles fossem se divertir em algum lugar. Tinha falado de um bar ou algo do tipo.

***

— Christopher ! —  Disse sua mãe, levantando-se e vindo em sua direção. As roupas elegantes da Imperatriz sempre faziam um contraste com seu cabelo vermelho, que vinha passando de geração em geração na família deles. —  Desculpe por toda essa gente, querido! —  Sussurrou mais baixo quando o alcançou., enlaçando seu braço no de seu filho. —  Sabe que são conhecidos dos conhecidos de seu pai. —  A mulher revirou um pouco os olhos , o que fez erguer o canto direito de sua boca num suave sorriso. A monarca conhecia muito bem Christopher para entender que ele preferiria uma comemoração mais íntima e mesmo que dentre sua pequena família, ela fosse a mais espalhafatosa, até Elizabeth gostaria de ficar com seus meninos às vezes.

— Tudo bem! —  Sussurrou ele de volta, sentia-se conspirando contra os presentes.  —   Estou indo já. Ver aquele desenho…

Os olhos de sua mãe se arregalaram um pouco. Ela tinha esquecido desse compromisso dele e como o tempo estava correndo contra.

— Tudo bem, filho. Faça uma boa escolha. —  Pediu ela e a feição preocupada de sua mãe o fez morder um pedacinho da pele da bochecha. Não tinha como não fazer, porque todos eram desenhos maneiros demais para qualquer uma das opções serem ruins.

— Vou dar meu melhor — Prometeu ele, dando uma piscadela pra sua mãe, porque era o que ele sempre fazia, conseguindo o resultado que vinha a esperar ou não.

Já tinha tomado alguns drinks e feito seu papel social, era hora de ir embora daquela reunião de chata e fazer o precisava ser feito.

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