23

       

                                         A DAMA DE VERMELHO

  — Will? — chamou Bela, entrando no quarto.

Will a recebeu com um sorriso largo, mas seu rosto estava pálido. Seus olhos azuis, avermelhados. Seus dentes estavam mais evidentes, o cabelo, antes grisalho, agora negro como a noite. A transformação havia começado... e dessa vez estava incontrolável. Will sabia que só Hianna poderia ajudá-lo a deter aquilo.

— Minha Bela... — disse ele, com a voz embargada. — Trouxe a Hianna com você?

Seu semblante demonstrava esperança.

— Não, Will. Ela se recusou a vir.

— Por que você insiste tanto na companhia dessa mulher? — perguntou Bela, sentando-se ao lado dele. — Eu quero saber qual é a ligação entre vocês dois.

Will respirou fundo, encarando o teto por alguns segundos.

— Está bem. Eu vou te contar.

Em 2006, eu trabalhava em um hospital nos Estados Unidos. Estava em treinamento. Entre os profissionais do grupo, havia uma química chamada Hianna. Ela era responsável pelo laboratório de ciências humanas. Nós nos envolvemos... namoramos por três anos.

Bela o olhava em silêncio, atenta.

— Tudo ia bem... até que, em um momento crítico, Hianna surtou. Ela havia descoberto algo... algo surreal. Se transformou em uma fera diante dos meus olhos. Eu não sabia o que fazer. Ela estava descontrolada e me atacou, ferindo meu antebraço. Depois disso, saiu destruindo tudo e desapareceu. Fui levado ao hospital mais próximo. Uma médica me atendeu... e, ao ver meu ferimento, parecia saber o que havia acontecido. Ela colheu meu sangue. Para minha surpresa, não havia contaminação.

— O que você quer dizer com “contaminação”? — perguntou Bela, assustada.

— Naquela época, o hospital conduzia experimentos secretos em alguns profissionais. Apenas o meu organismo respondeu de forma eficaz. Meu DNA reagiu com células de origem animal. Com o tempo, ganhei força sobre-humana, ouvia vozes a quilômetros... mas não entendia o que estava acontecendo. Quando Hianna me atacou, ela desapareceu. Anos depois, no ano passado, ela reapareceu no meu consultório. Pediu medicamentos e me deu o endereço do hospital onde trabalhava. Disse que, se eu precisasse, ela ajudaria. Mas me enganei.

Will se levantou da cama, mesmo fraco, e olhou para Bela.

— Estou sendo caçado. Querem minhas células para replicar os experimentos. Mudei de identidade. Meu nome real era Dominick Bancker Fox. Hoje sou apenas William Sebastian Fox Bancker. Trouxe meus pais para a Inglaterra para protegê-los.

— E Hianna? — perguntou Bela, em choque.

— Ela deveria me ajudar, mas pelo que entendi... é ela quem precisa de ajuda.

Para desenvolver uma possível cura, preciso do sangue dela. É a única forma de tentar reverter minha condição.

— Will... ela não vai aceitar isso.

— Então terei que procurar outro químico: Eduard Michael. Ele mora aqui perto. Talvez consiga convencer Hianna... ou pelo menos me ajudar. Mas preciso ir a um lugar seguro, mais restrito e afastado.

— Eu mesma irei atrás desse químico. Mas, por favor, tenha paciência. Descanse. É o que você mais precisa agora.

— Bela?

— Sim?

— Obrigado... por tudo.

— Eu vou descansar também. Amanhã cedo irei atrás dele.

Will sorriu. Seus olhos brilharam de gratidão. Aquela mulher ao seu lado... se doava sem pedir nada em troca. Era mais do que ele poderia esperar, especialmente quando até sua própria mãe havia fugido, com medo de conviver com uma fera em casa.


Na manhã seguinte

O vento frio batia nas janelas. A chuva tamborilava no telhado. Will mal havia dormido. A madrugada foi longa. Gemidos abafados ecoaram do quarto. Estava fraco, lutando contra algo que nem ele entendia.

Bela entrou silenciosamente, o observou, e respeitou seu descanso. Desceu para a cozinha. No caminho, foi surpreendida por Sema, mãe de Will, que a esperava com um semblante sombrio.

— Bom dia — disse Sema, tentando disfarçar a tensão.

— Bom dia...

Sema estendeu a mão, indicando o sofá.

— Por favor, sente-se.

Bela achou a atitude estranha, mas sentou-se, cruzando as pernas. O silêncio durou segundos até que ela perguntou:

— O que houve, senhora?

— Eu e meu marido decidimos que não podemos continuar nesta casa... enquanto nosso filho se transforma em um monstro.

Bela se chocou.

— Que tipo de mãe é você? — levantou-se bruscamente. — Como pode abandoná-lo no momento em que ele mais precisa?

— Deixe-me explicar...

— Explicar o quê? Que vai embora porque ele é diferente? Porque tem medo do próprio filho?

— Bela, o que ele está se tornando é perigoso. Essa transformação está demorando... o que pode significar algo muito pior. Não posso arriscar minha vida... vamos para nossa casa de campo. Deixarei o endereço, se você mudar de ideia.

Bela ficou em silêncio. O nojo que sentia daquela atitude tirou até sua fome. Como uma mãe pode virar as costas para o próprio filho? Compreendia o medo, mas não aceitava a covardia.

Saiu, respirando fundo, e chamou Guto:

— Me leve ao departamento de polícia. Agora.


DEPARTAMENTO DE POLÍCIA – LONDRES

— Obrigada por me trazer, Guto. Me busque às 17h30.

— Sim, senhora Bela.

Ao entrar, Bela teve uma surpresa: Alisson Santos e Olívia estavam no departamento.

— Ora, ora... que surpresa boa! O que fazem aqui?

— A trabalho, minha cara Bela — respondeu Alisson. — Estamos com um caso misterioso. Carlos começou a investigação, mas precisou se afastar por motivos pessoais. Agora é comigo e Olívia.

— E o que há de tão urgente?

— Estão ocorrendo mortes estranhas. Vítimas com o mesmo tipo de ferimento. E o mais assustador — disse Olívia —, é que são feridas idênticas, sem testemunhas ou pistas.

— Veja com seus próprios olhos — disse Alisson, mostrando as fotos.

Bela olhou. Seus olhos se arregalaram. A palidez tomou conta de seu rosto. As marcas... eram familiares. Ela disfarçou o pânico e disse:

— Uma marca só não nos leva ao culpado. Vamos estudar os locais dos crimes e analisar os pontos comuns... talvez encontremos pistas.

— Por onde começamos? — perguntou Olívia.

— Vamos aos locais onde os corpos foram encontrados — sugeriu Bela.

Nesse momento, Rose entrou. O clima pesou.

— Não acredito que é você... — disse Olívia.

— Ah, ótimo... não terei paz hoje — respondeu Rose, revirando os olhos.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou Bela.

— Fomos casadas — respondeu Olívia. — Nos conhecemos num evento beneficente em Nassau. Ficamos quatro anos juntas, mas terminamos há um ano. Muitas diferenças...

Bela, surpresa, soltou baixinho:

— Por isso tanta tensão... — e pensou: “Agora tudo faz sentido.”

— Vamos, Bela. Temos muito o que fazer — disse Olívia, tentando manter o foco.

— Espera — respondeu Rose. — Falta algo que eu deveria ter feito há muito tempo... e que essa imbecil merece.

— Como assim? — sussurrou Bela, assustada.

   

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