Bela arruma sua mala, colocando um par de roupas na mochila.
— Estou preocupada com você, meu amor — disse com os olhos marejados de lágrimas.
— Eu estou bem, amor. Vai tranquila — respondeu ele, tentando acalmá-la. — Não chore... eu vou sobreviver.
— Eu sei que você é forte. Eu te amo. — Ela se despediu com um beijo molhado e intenso. Will fechou os olhos, sentindo o carinho, e correspondeu com a mesma intensidade.
Ela saiu do quarto olhando para ele pela última vez, com o coração apertado. Estava prestes a embarcar numa missão delicada: encontrar uma mulher desconhecida.
— Vamos, Guto?
— Sim, senhora. Quando quiser.
Guto estaciona o carro em frente à casa de Mariah.
— Venha comigo, Guto. Você vai conhecer Mariah, Rufo e Marcus... minha família.
— Mariah? — Bela chama ainda do lado de fora.
Mariah abre a porta e se surpreende com a presença de Bela.
— Entre, filha! Não fique aí fora.
Bela entra sorrindo largamente e convida Guto a se acomodar na sala de visitas.
— Aceita um café, senhor? — pergunta Mariah, enquanto Guto se senta no sofá.
— Sim, aceito. E, se possível, uma água também, por favor.
— Só um minuto. Já volto com tudo.
Enquanto Mariah se ausenta, Bela comenta:
— Aquele senhor ali em pé, com ar sério, é Rufo. Ele é um amor, mas não fala muito e não gosta de brincadeiras.
— Ele deve trabalhar muito. Esse castelo é enorme. Talvez o cansaço explique o jeito dele — responde Guto, justo quando Mariah retorna com a bandeja.
— Aqui está, senhor: seu café e sua água.
— Muito obrigado — agradece ele com um sorriso cordial.
Bela sobe para o quarto, buscando uma roupa mais leve para enfrentar o calor abafado de Nassau. Observa o quarto com saudade, abre o guarda-roupa e suspira:
— Que saudade da minha janela...
Estava pronta para sair em busca de Hianna, como Will havia pedido com urgência. Apesar de não concordar, o amor por ele falava mais alto.
Marcus não estava em casa, então Bela chamou um táxi e foi até a Santa Casa de Nassau. No caminho, parou em frente à igreja católica, fez o sinal da cruz e caminhou um quarteirão até o hospital. Hesitou ao entrar, e o segurança ficou impaciente:
— A senhora vai entrar ou não?
Respirando fundo, ela avançou, segurando firme sua bolsa. Estava nervosa, prestes a encarar algo que poderia mudar tudo.
Na recepção, uma senhora simpática a atendeu:
— Boa noite, senhora. Em que posso ajudar?
— Estou à procura da senhora Hianna.
— Sente-se. Vou chamá-la.
Minutos depois, uma loira alta, magra e visivelmente cansada se aproximou:
— Boa noite. É você que está me procurando?
— Sim, sou Bela Riley. Vou direto ao ponto para não tomar seu tempo. — Bela ofereceu um lugar para Hianna se sentar. As duas se acomodaram.
— O que você quer, senhorita? — perguntou Hianna com tom seco.
— Sou namorada do Will. Ele me pediu para procurá-la. Está muito mal e disse que não tem muito tempo... quer que você vá comigo para a Inglaterra ainda hoje.
Hianna se levantou rapidamente.
— Não posso ir. Peça desculpas ao William, mas eu não...
— Por que não, senhora? — interrompeu Bela, determinada.
— Porque eu não quero ir. Eu sei que ele ficará bem. Então volte sem mim, senhorita Riley... e seja feliz.
Sem dar mais explicações, Hianna se retirou, deixando Bela perplexa e frustrada.
— Que mulher estranha... por que Will queria a ajuda dela? — pensou enquanto caminhava pela rua escura, tremendo de frio e sem rumo.
Sentada na frente da igreja, esperava por um milagre. Foi quando Marcus apareceu.
— Bela? O que está fazendo aqui sozinha?
— Marcus... ainda bem que você apareceu — disse, se aproximando do carro. — Estava com medo de dormir na rua...
— Entra logo, menina. Vai acabar resfriando.
Ela entrou sem dizer mais nada. Silenciosa, viajou com a cabeça baixa. Marcus tentou puxar conversa, mas respeitou seu silêncio.
A mente de Bela voltava sempre para Will. As lágrimas escorriam sem que ela pudesse controlar. Enxugou o rosto com as mãos e encostou a cabeça no assento.
Ao chegar em casa, encontrou Guto esperando.
— Vamos, Guto. Pegarei minha mala e partiremos.
— Está bem, senhora.
— Mas já vai, minha menina? Mal chegou...
— Preciso ir, Nana. Ainda tenho trabalho no DP. Prometo que voltarei em breve.
Bela subiu as escadas, entrou no quarto e o observou uma última vez. Fechou a janela que sempre deixava aberta e suspirou ao lembrar do cuidado de Mariah com as cortinas perfumadas.
Na despedida, chorou ao abraçar a avó.
— Morro de saudades, minha Nana... mas falta pouco para tudo acabar.
— Vai, minha menina. Voe. Você cresceu, agora é uma mulher.
Guto dirigiu a noite toda. Estava exausto, mas Bela permaneceu em silêncio durante toda a viagem, mergulhada em pensamentos sobre Hianna e a estranheza daquela mulher.
— Talvez ela esteja sobrecarregada. Ou talvez esteja fugindo de algo... — pensou. — Por que Will queria tanto a presença dela?
Fez o sinal da cruz, tentando se acalmar.
As luzes da cidade acendiam memórias em sua mente. Refletia sobre como os humanos podiam ser tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão insensíveis.
— Um dia isso vai mudar... — murmurou. — Will, eu vou ajudá-lo. Com ou sem Hianna.
Perdida em devaneios, nem percebeu que tinham chegado. Guto, cansado, chamou com delicadeza:
— Senhora?
— O que foi, Guto?
— Chegamos. Preciso guardar o carro. O senhor William está à sua espera.
— Então vou correndo. Não posso perder tempo.
Guto sorriu, aliviado, e Bela desceu com pressa. Era mais de meia-noite quando finalmente entrou na casa dos Fox — sem Hianna, mas com um peso enorme no peito e a convicção de que algo muito maior a aguardava.