Fiquei com os meus sogros três dias. Existiam dias que eu não conseguia dormir. Sempre de madrugada tinha pesadelos sobre o acidente. Aquele sonho que eu os via a cair no buraco dentro do autocarro permanecia em mim.

O meu rosto estava pálido, não tinha forças para voltar levantar. Os meus sogros sofriam mais do que eu, mas quando me viam nesta amargura, disfarçavam que estão superando a perda.

Saí do São Paulo, agora me encontro em minha casa na minha sala, tudo desarrumado. As minhas roupas estão bagunceadas em toda sala, tem dias que eu me esqueço em tomar banho. A minha mãe, quer vir ficar dois dias comigo mas eu lhe disse para não aparecer. Eu estou todo em baixo.

Sempre vejo as imagens da minha mulher a preparar a refeição, e do Arthur brincar com o Maxi. Eu sentado em minha poltrona e o Maxi no meu tapete, suplicando por mais carinho, até ele está viver comigo está for. Oiço barulho de um carro. Uma cadeira de rodas a fazer movimentação na minha varanda. Olho para minha janela e vejo o Charles. Abri a porta, mas já o recebo com 4 pedras nas mãos, não estou bem nem quero fingir que estou.

_ O quê que foi?_ Ele entrou em minha casa, mas olhava-me como uma pessoa que queria fazer-me julgamentos.

_ Eu só estou olhar para esta casa e para a sua cara pálida. Eu já perdi três pessoas importantes em minha vida: A minha esposa Juliana, o John meu genro e a minha filha Laura. Agora só tenho a Shirley que está com 14 anos e está vivendo num internato da igreja católica na Inglaterra.

Praticamente durmo sozinho nos meus aposentos. Mas estou aqui recuperado. E você Robert? És tão novo, só são 32 anos. Podes formar outra família. Está onde o teu Deus que você sempre adorou? Você o abandonou? Eu te sugiro fazer uma terapia com a Ana. A Ana é boa psicóloga. Não podes continuar assim… O meu hospital está abandonado clinicamente. Tens que te recompor.

_ Grande veio Charles Davis, só pensa no teu hospital e no dinheiro. Você não tem dó no que eu estou a passar? Eu preciso de mais duas semanas para me recompor. E eu não abandonei o meu Deus. O pastor Marcelo sempre vem me ver. Mas eu não quero falar com Deus assim como eu estou. Eu estou no chão. Eu perdi a minha Mariana e o meu Arthur. Você é sem alma Charles._ Falava soluçando e chorando.

Charles colocou as mãos sobre os ombros de Robert dizendo:

_ Tudo passa meu menino. Eu sei que essa dor é muito forte. Mas lembras- te daquele menino forte que sempre quando caia ao jogar futebol, levantava-se sem chorar. E deste Robert que colocava Deus em todos os seus desafios.

Eu já vou. Mas só te dou dois dias para aparecer no hospital, se não eu te demito filho.

_ Você é….._ Charles riu ao perceber que eu queria falar disparates.

_ Filho um Cristão não disparata.

Todo o dia não saí de casa, fui analisando no que o Charles me disse, apesar da sua ambição. Mas tenho que retornar, eu só tenho esse emprego e a minha mãe. E este emprego me ajuda a manter a vida que tenho e da minha mãe.

Fui para igreja, sentei no banco de trás. O Paulo estava a reger na minha conta. O coral estava com alguns defeitos no canto. Aquele sermão que o pastor Marcelo estava falar era para mim.

Era a palavra do livro de Tiago 1-11;12” Bem aventurado o varão que sofre tentação; Quando for provado recebe a coroa da vida, ao qual o senhor tem prometido aos que lhe amam.

12- Ninguém sendo tentado diz que sou tentado por Deus; Porque Deus não pode ser tentado para o mal, e a ninguém tenta.

Eu percebi que tudo que passei, o culpado não foi Deus porque ele não atenta para o mal. Mas sim foi obra de Satanás.

Fiquei fora da igreja, depois da reunião terminar. Os meus irmãos vieram cumprimentar- me e se sentiram muito regozijado ao ver a minha presença na igreja. Pensaram que eu abandonei Deus. Realmente eu precisava da palavra de Deus. Parabenizei o Paulo. A Joana e a mariquinha as responsáveis pelo coro,deram- me um olá.

O pastor Marcelo saiu, deu um sorriso amarelo ao me ver.

_ Meu filho, que bom vê-lo.

_ Eu estou muito feliz pelo sermão de hoje.Parabéns pastor.

_ Hey! Agora é hora de se recompor. Continua buscar a Deus, ele não abandona ninguém.

_ Está certo, voltarei… Mas amanhã voltarei no trabalho.

_ Que bom! Deus te abençoe e te traga outra família. Você não está só filho, estás com o consolador.

_ Amém.

Saí daí. Fui para casa. Entrei no meu quarto de guerra, pedi perdão a Deus por toda ingratidão e jurei nunca mais o abandonar. Ele é minha vida e meu tudo.

Entrei no meu quarto Tomei um banho no meu banheiro. Amanhã vou chamar uma decoradora de interiores para fazer a decoração desta casa de novo e mudar os imóveis. Todas coisas antigas vou oferecer na igreja. As roupas da Mariana vou enviar para mãe dela. E do Arthur darei no lar das crianças, até os brinquedos e os livros dele.

Já é manhã a decoradora de interiores veio, fizemos orçamentos. Carregaram todas as mobílias pra igreja para caridade, chamei uma empresa de transporte de imóveis.

Fui para o Salão cuidar da minha beleza, os meus cabelos estão todos grisalhos pintei preto, fiz a barba. E finalmente cheguei na casa do meu chefe Charles.

Ele estava na piscina apanhando sol.

_ Eu sabia que virias.

_ Apanhando sol?

_ Pensando na vida. E como estás?

_ Depois da tua insensibilidade. Eu recuperei. Também voltei na igreja.

_ Que bom meu garoto. Aquele hospital precisa de ti. O António já está cansado_ Deu-me um abraço. Ele é como se fosse meu pai. Eu disse para ele_ Muito obrigado charles!

_ Eu gosto de ti. Você é o filho que eu nunca tive.

[…]

5 anos depois

Tudo no hospital era mil maravilha. Eu sempre como director clínico. O António adjunto. O Manuel administrativo. A clínica tem 30 enfermeiros e 10 doutores de especialidade. Neste 5 anos aproveitei fazer especialidade de cirurgia. Agora estou a trabalhar como cirurgião. Mas as vezes fico nas consultas externas, eu ainda sou clínico geral.

Hoje o Charles pediu que eu e o António fôssemos buscar a neta dele no aeroporto. Ele queria alguém que fosse da família pra ir buscar ela.Eu fui amigo de infância dos pais dela.

Fomos para o aeroporto. O Charles enviou me uma foto no whatsaap para saber quem é ela. Já estou anos sem ver ela. Desde que ela tinha 4 anos.

Vi uma jovem morena na sala de espera, com uma saia curta e uma blusa curta.

_ Charles não é ela? _ Disse o António.

Olho para foto, vejo que é ela. Meu Deus esses países internacionais estragam as pessoas nas vestimentas. Ela praticamente não está vestida.

_ Penso que sim, António. Essa será dor de cabeça para o Charles isso sim.

_ Ela é gostosa.

_ Shiiii, não cobiça as coisas alheias.

_ Robert para de se armar em perfeito. Essa é uma deusa. Wau! Charles tem uma genética fora de série.

_ Vamos até ela porque vejo que está a nossa procura.

Ela olhava nos lados, procurando quem poderia vir a busca dela.

_ Oi Shirley! Eu sou o Robert e este é o António.

O António ofereceu as mãos pra cumprimentar ela, mas ela não se movimentou, somente respondeu:

_ Estão atrasados. Eu não gosto empregados que atrasam.

_ Desculpa?

_ Empregados!

- Eu não trabalho para vossa casa. Eu sou Doutor. Praticamente, cresci com a tua mãe. Sou da família, por isso o charles pediu- me para vir te buscar. Eu já te vi bebé mesmo. E o António é ginecologista. Só acompanhou-me.

_ Prontos chega de conversa._ Ela respondeu com aquele português todo arranhado.

_ Vamos?

_ Vamos.

Não gostei da arrogância dela. Já pude ver que é mimada. Mas eu não gosto de julgar os outros.

Levamos ela para casa. Os seguranças ajudaram levar as malas dentro de casa. E voltamos para clínica.

Esses anos tenho ido para casa do Charles para tratar da saúde dele. Ele sofreu um acidente cardiovascular vascular e tenho ido para la medir a pressão dele. E orientar na Maria a governanta os medicamentos a serem dados para ele.