O casal na suíte ao lado do corredor da Ala 2 estava mais silencioso do que o habitual, como se guardasse segredos sussurrados atrás de portas fechadas. —Lara e Lucy caminharam lado a lado, processando tudo que haviam visto e ouvido na suíte das modelos: — fragmentos de conversas, o glamour decadente e a sujeira oculta por trás das imagens perfeitas consumidas pelo mundo. Quando chegaram ao próximo setor de suítes, Lucy consultou a prancheta. — Eu pego a 912. Você pega a 910 — disse, esforçando-se para manter um tom profissional, mesmo que a expressão em seu rosto revelasse que ainda processava o choque. Lara assentiu e inseriu a chave no sensor da 910.Nesse instante, alguém na suíte 912 abriu a porta com força, como se o ar estivesse pesado demais para ser contido ali dentro. Lucy, prestes a entrar, recuou dois passos quando um casal emergiu no corredor, imerso em uma discussão abafada, mas intensa. — A mulher — elegante, com cabelos loiros impecáveis,

Quando eu e a Lucy saímos daquela suíte carregando o carrinho, eu já sentia o estômago embrulhado. Quanto mais portas se abriam na ala dois, mais claro ficava que aquilo ali não era só luxo e vista para o mar. Era um circo de vaidades, mentiras e segredos muito bem pagos.— Eu te disse — murmurou Lucy, baixinho, enquanto caminhávamos pelo corredor de carpete grosso. — Essa ala é um mundo à parte.Estávamos passando em frente à suíte 710 quando a porta ficou entreaberta. A camareira do turno da manhã provavelmente já tinha passado por ali, mas havia copos na bandeja, um cestinho de lixo lotado, toalhas jogadas no chão do banheiro — dava pra ver da porta.— Vamos adiantar essa — Lucy sugeriu. — Assim a supervisora não enche o saco depois.Bati de leve.— Serviço de limpeza. Posso entrar?Uma voz feminina, irritada, respondeu de dentro:— Pode, mas não faz barulho. E o banheiro tá um caos, vê se resolve aquilo ali. Tenho re

ENTRE RELATÓRIOS E CICATRIZESNathaniel estava sozinho na suíte presidencial quando o tablet apitou.Tinha tomado banho, trocado de roupa, mas a cabeça continuava no mesmo lugar: voltando para o refeitório dos funcionários, para o jeito como os olhos de Lara brilhavam de indignação quando falou da ala dois, para a forma como ela, uma simples camareira recém-contratada, se preocupava mais com a reputação de uma empresa que mal conhecia do que com o próprio emprego.“Se isso cair na mídia, vão transformar esse navio num motel de luxo ambulante…”, ela tinha dito, nervosa, mordendo o lábio, olhando para os lados como se estivesse cometendo um crime só por tocar no assunto.Ele fechou os olhos e apoiou a nuca no encosto do sofá.Ela não sabia quem ele era. Não tinha a menor ideia de que o “funcionário em supervisão” sentado à frente dela assinava os cheques de todos naquele navio — inclusive o dela.E mesmo assim, estava ali, se queim

NATHANIEL NATHANIEL & RAPHAEL, O tablet vibrou sobre a mesa da suíte luxuosa, onde as cortinas pesadas filtram a luz suave do sol da manhã, criando um ambiente propício para negócios. — Nathaniel, que estava revisando notas e relatórios sobre os últimos investidores, pegou o dispositivo instantaneamente, sua mente já girando em torno das possíveis implicações de qualquer mensagem de Raphael. — A mensagem, direta e urgente, era de seu confidente, Raphael L. Stern, um conselheiro notável e o único homem em quem ele confiava completamente: "Investigação concluída — URGENTE." Com um leve toque, Nathaniel iniciou uma videochamada, sua expressão tornando-se seria.— Fale — ordenou, direto ao ponto, sem deixar espaço para rodeios.Raphael, localizado em Los Angeles, surgiu em sua tela, em meio ao caos controlado de seu escritório, cercado por pastas abertas, documentos espalhados e três telas exibindo informações cruciais, monitorando contratos, l

APÓS O JANTAR — A CONFISSÃO DE LARA PARA LUCYLara fechou a porta do camarote com delicadeza, como se quisesse prender o ar junto com o gesto. O corredor ainda exalava o perfume amadeirado de Nathaniel, e isso fez seu coração acelerar mais do que gostaria de admitir. — Ao entrar, Lucy — sempre atenta e cheia de energia — levantou os olhos do lençol que estava dobrando e sorriu de maneira provocativa.— O que aconteceu, gatinha? — indagou Lucy, cruzando os braços e apoiando o quadril no estreito armário. — Você voltou cedo hoje… e sozinha. Isso geralmente não é um bom sinal.Lara soltou o ar devagar, sentindo seu peito apertar.— Estou… cuidando do meu coração — respondeu ela, retirando os sapatos e colocando-os em um canto com um cuidado quase ritualístico. — Hoje eu não vou ficar com ele.Lucy pisou forte no chão, surpresa.— Como é que é? Depois de tudo? Você tá brincando comigo, né? — Aproximou-se, curiosa. — O que rolou?