Daniel entrou na casa dos seus pais cansado, o dia tinha sido difícil na companhia. O seu pai estava, como sempre, a desfrutar de um copo antes do jantar.«Pai...»«Olá, filho...»«E a mamã?»«Está na biblioteca, eu acho... O que é que tu fizeste?»«Nada... O que é que se passa com ela?»«Eu não sei..., mas algo tu fizeste porque ela está insuportável... Vai vê-la, queres?»Incrível que ainda tivesse que correr para a sua casa cada vez que ela o chamava. Ele só queria voltar com a sua família depois de uma jornada esgotadora.«Que bom que tu vieste, entra e senta-te.»«Diz-me o que é que se passa.»«Eu quero que tu te divorcies de uma vez e envies essa mulher para longe.»«Deus! Não comeces de novo, mamã...», lhe disse enfastiado.«Eu já sei por que é que Harry se comporta como ele o faz e também que tu estás a par... Diz-me, Daniel, como é que tu podes escolhê-la por sobre a tua própria família?»Ele se surpreendeu com essa declaração, mas não tinha sentido fingir.«Eu não a escolhi

O ambiente no departamento de Harry era muito diferente. Laura não lhe falava e não deixou que a ajudasse a preparar o saco de Emma para levar ao hospital no dia do parto. Ao final, Harry se deu por vencido.«O que é que tu fazias em casa de Daniel? Tu disseste que não farias loucuras.»«Eu não quero falar disso, Susan... Isto passou porque tu és uma intrometida.»«Claro que eu o sou! E por isso mesmo eu te ligo.»«Tudo o que tu fazes é para que permaneçam juntos.»«Sim, Harry. É o meu irmão e eu não gosto de o ver triste.»«Eu também sou o teu irmão.»«Mas o teu problema eu não posso solucioná-lo ou ajudar-te a fazê-lo... Quando é que tu entenderás que da primeira coisa que tu deves ocupar-te é da tua fam&iacu

Naomi marchou zangada a passo rápido para o seu quarto e deu uma portada.«O que é que ocorreu?», lhe perguntou Daniel.«Eu arruinei o dia... Eu lamento» — Deanna estava a conter as lágrimas. — «Ela está zangada comigo...»Mas de pronto Naomi apareceu de novo e desceu ainda mais indignada a parar-se diante do pai.«Essa mulher lhe disse um monte de coisas horríveis à Deanna, papá! Ela lhe gritou e lhe gritou, como o faz a avó!»«Que mulher, filha?»«A chamou de formas horrendas diante de todos! Eu estou muito zangada! Faz algo para que ela se arrependa de o ter feito! Tu és o meu papá, tu deves fazê-lo!»«Acalma-te, Naomi, acalma-te... Diz-me, de que é que tu estás a falar...?»«Não é necessário, nena...» — Deanna tratava de minimizá-lo.«Como é que tu podes dizer isso, Deanna?! Ela disse que tu estavas a levar o dinheiro do papá e não é verdade!»«Naomi, já deixa de gritar porque eu não compreendo nada... Fala devagar.»«A mamã da Samantha começou a gritar à Deanna no corredor, como

Deanna só soube fazer uma coisa depois que Beverly foi embora: trancar-se na sala de música. Era o seu refúgio quando precisava pensar, quando brigava com Daniel ou quando precisava chorar. E naquele momento, precisava chorar.Seu lugar na casa era lindo, tão cheio de música, tão cheio do carinho do marido em cada detalhe. Tudo fora pensado para ela — desde os sofás para receber os amigos músicos até os instrumentos que não sabia tocar.Cantava para todos ali. Jonathan corria com toda a força quando sabia que Deanna faria uma apresentação particular. Sentava-se no chão, com as pernas cruzadas e o rostinho cheio de expectativa, um sorriso enorme de orelha a orelha. E a olhava maravilhado.Ali, ela o ensinava, ainda que ele não repetisse nada. Só balançava a cabeça no ritmo e se deixava levar. Aquele menino tão bonito, cheio de histórias não contadas, a adorava com loucura. Lembrar-se das bochechas rosadas dele a fez chorar ainda mais forte. Precisou cobrir a boca com a manga do suéter,

Sentiu uma vontade incontrolável de chorar, de gritar e de atirar coisas no chão e quebrá-las como seu coração estava sendo quebrado. Daniel sabia. Por que ele escondeu isso dela? Por que logo ele? Harry manipulando as coisas? Mas se o garoto nem conseguia fazer uma prova sem passar noites em claro por não saber se organizar.Laura continuava pedindo que ela se afastasse de todos, como se fosse ela a causadora de todas as desgraças. O comportamento em queda livre de seu amigo que havia mudado repentinamente, o ciúme de seu marido porque ela conversava demais com ele: «Agora é seu cunhado.» A ira de Camila culpando-a por tudo, Alice acusando-a de oportunista e mulherzinha, e agora Laura. Laura com seu bebê na barriga.De repente, sentiu-se como se fosse a amante de alguém e a esposa traída lhe implorasse para não destruir sua família. Alice Reed por acaso não havia sugerido o mesmo? Ela estava parada no meio do caminho, sem direção, sem nada; nua, exposta, apontada. Por quê?«Por quê?»