CAMILLE ASHFORDQuem disse que morar em uma mansão com todas as comodidades era divertido? Parece ótimo, mas na verdade, quando não se tem muito o que fazer, é muito chato. Então, praticamente sem pedir permissão, comecei a arrumar as flores que decoravam cada cômodo.— Senhorita Camille... Você não deveria estar aqui. Por que não vai para o seu quarto e...?— Estou entediada — interrompi a governanta enquanto bufava. — Onde vocês conseguem essas rosas? Nunca as vi nas floriculturas da cidade.— O senhor Blackwell as cultiva no viveiro. É o único lugar onde não podemos entrar sem a permissão dele — respondeu ela, observando as rosas com atenção, — e é o único momento em que ele parece humano.Ele as cultivava? O mafioso sanguinário gosta de botânica?

CAMILLE ASHFORDAquela loção tão característica e masculina, couro, amadeirada, fresca e com um toque de tabaco. Levantei os olhos e me deparei com aqueles lindos olhos turquesa que derreteram meu coração. Embora meu corpo doesse, não pude evitar sorrir.— Lucien, você está aqui... — murmurei cética. Não conseguia acreditar. Era como se ele tivesse aparecido por magia. — Você é real mesmo.— Estarei sempre quando você precisar — ele respondeu, dando um beijo suave na minha testa enquanto me carregava nos braços.Não é isso que uma mulher precisa? Um homem que está sempre nos momentos ruins merece estar nos bons, não é?Eu podia ver a preocupação tensionando suas mandíbulas e franzindo sua testa. Com a mão trêmula, acariciei sua bochecha.— Você está zangado comigo? — Talvez não fosse o momento para me preocupar com algo assim, mas, em minha fraqueza, meu cérebro parecia funcionar de maneira muito básica e expus meu medo de desagradá-lo. Deixei minha cabeça cair sobre seu peito e suas

LUCIEN BLACKWELLColoquei a mão no peito, doía, como se meu coração estivesse congelado e cada batida fosse dolorosa por quebrar aquele gelo, encaixando os cacos frios, sangrando por dentro.O silêncio de Damián só me confirmou que ele concordava comigo. Não me surpreendeu. Eu o tinha visto ao lado de Andy. Ele não estaria disposto a fazer o mesmo que eu, se ela lhe faltasse? Talvez fosse difícil para ele por causa dos filhos, mas seria uma ideia que nunca o abandonaria e todos os dias ele ansiaria pela morte para voltar a estar com ela.— Camille deu um sentido diferente a tudo, e eu gosto disso, me sinto bem. — Engoli em seco com dificuldade. — Ela é minha liberdade e aquele último centímetro de bondade que minha irmã sempre me pediu para preservar. Com Camille... é tão bom estar vivo.E sei que você entende muito bem o que quero dizer. Sei disso pela maneira como você olha para Andy.Damián me respondeu com sua calma silenciosa. Ele compreendia o que eu dizia, porque também vivia i

LUCIEN BLACKWELLEu me movi com cuidado, observando a equipe levantar e limpar o interior da sala de cirurgia, enquanto meu lindo anjo permanecia na cama, com aquela máscara de oxigênio no rosto, enquanto o anestesista verificava seu pulso. Assim que o homem, já com idade avançada, me viu se aproximar, sorriu por baixo da máscara, eu soube disso pelo modo como suas bochechas pareciam querer sair por cima dos cordões.— Mas se é o marido assassino... aproxime-se, o pior já passou — disse ele divertido, antes de voltar sua atenção para o relógio. Ele parecia estar comparando o que o monitor marcava com o que seus dedos percebiam no pulso de Camille. — Fale com sua esposa. Embora ela pareça anestesiada, ela pode ouvi-lo e isso a ajudará a encontrar o caminho de volta mais rápido.— Parece que você já fez isso com seu filho lá fora, ou pelo menos é o que dizem. Aqui os rumores voam.Depois das minhas ameaças e gritos, fiquei surpreso que esse homem aceitasse minha presença com tanta calma

DAMIÁN ASHFORDDo corredor, eu podia ver o interior do quarto de Camille. Eu sentia que mal tinha aceitado que ela era minha irmãzinha, quando de repente ela já estava lá, embalando seu bebê nos braços, como uma mãe de primeira viagem cheia de amor e esperança. O tempo passava rápido demais e não me dava chance de pensar.Ao lado da cama, os gêmeos espreitavam a tia como tubarões prontos para devorar o cara da jangada. Eles pulavam, espreitando pela beirada, segurando-se no colchão, ansiosos para ver o primo.Gentilmente, Andy os segurava pelo torso e os sentava com cuidado na beirada, um de cada lado, para que tivessem a melhor visão. Eu podia ver como ele lhes dizia algo em voz baixa, mas pela maneira como movia o dedo indicador, como um maestro, eu sabia que ele os estava condicionando. Eles teriam a oportunidade de ficar perto de Camille e ver seu primo, apenas se se comportassem bem, e assim o fizeram, quietinhos e com as mãozinhas no colo, observando atentamente o novo membro da