RiukO jato particular do meu pai aterrissa na pista privada às 22h47. Ninguém fala nada. O ar tá pesado, carregado de magia que nem é minha ainda.Eu queria que fosse outra pessoa que descesse dali, mas não. É o que vai me tornar forte.Eron quis vir, mas eu mandei ficar. Isso é comigo.Então assim que a porta abre, um homem sai da aeronave. Capa preta com capuz, mesmo com o calor de Denver no verão. Alto, magro, mãos tatuadas com símbolos que brilham azul escuro quando a luz bate.Ele puxa o capuz pra trás.Rosto marcado por cicatrizes antigas, olhos de um violeta tão claro que parece branco. Cabelo grisalho preso num coque baixo. Idade? Impossível dizer. Pode ter 40 ou 400.“Riuk Peyton,” ele diz, voz rouca, como se tivesse fumado pedra a vida inteira. “Eu sou Drevan. O último da linhagem Hamotap que não virou lixo como o Atlas.”Eu travo.“Você é parente dele?”“Primo de terceiro grau,” ele responde, sem emoção. “O sangue que corre em mim corre nele. Mas eu escolhi outro caminho e

RubiO jato aterrissa em Denver quando o céu já tá escuro. Eu desço com as pernas tremendo, Libby e meu pai atrás. O ar da noite tá frio, mas o que me corta é o cheiro.Sangue. Sangue seco. Sangue dele.Eu paro no meio da pista. O mundo gira.Meu pai e Libby param do meu lado.“Rubi…” Libby começa.Mas nem espero,  já tô correndo como se minha vida dependesse disso.Corro como se o inferno estivesse nas minhas costas. Porque o cheiro é do Riuk. Eu reconheço esse cheiro melhor do que reconheço a mim mesma.Atravesso o hangar particular, a grama, o caminho de pedra até a mansão. Meu coraç&atild

RiukAcordo antes do sol nascer. O corpo ainda dói, mas é uma dor diferente: profunda, viva, como se cada célula tivesse sido reconstruída. O lobo curou quase tudo durante a noite. As costelas estão inteiras. O corte no braço fechou. Mas as cicatrizes novas brilham azul-escuras, pulsando de leve quando me mexo.Rubi dorme colada em mim, perna entrelaçada na minha, mão no meu peito, exatamente onde a cicatriz pulsa. O cheiro dela tá em tudo. Eu poderia ficar aqui pra sempre.Mas não posso.Levanto devagar pra não acordar ela. Vou pro banheiro, fecho a porta com cuidado, abro o chuveiro quente.A água cai pesada, lava o sangue seco, leva embora a dor da pele. Fico ali, mãos na parede, cabeça baixa, deixando o vapor encher o pulmão.Penso no que vem hoje. Mais dor. Mais sangue

RiukO manto que me envolve me faz levitar, e instantaneamente sinto meus olhos se fecharem. Tento não pensar em tudo que ainda vai acontecer, mas é melhor do que resistir.Quando abro os olhos, meu corpo está inteiro, mas fraco como se tivesse corrido uma maratona sem parar por dias. As costelas não doem mais, o braço tá inteiro, mas cada músculo parece de gelatina, tremendo de leve quando tento me mexer. A cicatriz no peito pulsa azul, como se estivesse viva, respirando sozinha. Eu me levanto devagar, o mundo girando um segundo antes de estabilizar.Drevan tá encostado na árvore podre, olhos violeta me avaliando.“Já acordou?” diz, voz ecoando na cabeça. “Foi mais rápido do que eu esperava.”Eu pego a garrafa de água da mochila, tomo um gole.Amargo. Como fel.

RubiEu tô presa contra a parede, costas ardendo, ar faltando. Eron tá no ar, pés balançando, mãos na garganta, rosto ficando roxo. Luz azul enrolada no pescoço dele como cobra.E Riuk…Riuk tá de pé na cama. Olhos totalmente dourados. Magia explodindo ao redor dele como tempestade. Expressão vazia. Assassina.“RIUK!” grito, tentando me mexer, mas a força invisível me esmaga.Minha loba explode dentro de mim. Rosnado tão alto que sinto a garganta rasgar. Caninos descem. Garras saem.Eu rasgo o ar com as unhas. A magia dele quebra como vidro.Corro pra cama, salto, cravo as garras nos ombros dele.“RIUK, OLHA PRA MIM!”Ele reage no mesmo segundo. Mãos nos meus ombros, pronto pra me jogar longe.Mas pisca. Uma vez. Duas.Os olhos dourados tremem. Volta o verde que eu amo.Ele olha pra mim. Depois pro Eron caindo no chão, tossindo sangue.“Rubi…?”A voz dele sai rasgada, assustada.Eu me jogo no peito dele, abraço forte, chorando.“Você voltou… você voltou…”Ele me aperta, rosto no meu p