POV AURORA. — E por que está me trazendo aqui agora? — Perguntei erguendo uma das sombrancelhas para ele. — Tem restaurantes no Antigo Centro. — Porque agora você faz parte da Elite, Aurora. Tem que conviver com a Elite, se portar como a Elite. Respirar o ar da Elite. Entendeu? — Ele me encarou por alguns segundos.Revirei os olhos e respondi. — Eu não sou como vocês, e não faço parte disso aqui. Sou apenas a secretária. — Me encolhi discretamente em meu assento. — Se você fosse apenas minha engraxate, faria parte disso aqui. Não importa qual o cargo... mas deveria valorizar mais o seu trabalho. Você não é apenas a secretária, você é a minha secretária pessoal.— Algo em seu tom rouco de voz me causou arrepios, ignorei a corrente elétrica que percorreu meu corpo. Eu estava ficando boa em ignorar. — E se anda comigo, precisa olhar pelos meus olhos. — Ele continuou me fazendo suspirar. Seguimos calados até a faixada de um restaurante incrível. Era lindo de ver. Me senti pequena. Não

POV AURORA.O carro seguiu pela avenida, fiquei olhando pela janela do carro, já era noite, mas via algumas pessoas caminhando.Eu me recostei no banco, tentando controlar a respiração, mas meu peito parecia pequeno demais para caber tudo o que eu sentia.Ainda podia sentir a mão dele sobre a minha, firme, corrigindo a posição dos talheres. Foi um toque rápido, mas meu corpo reagiu como se tivesse sido incendiado.E depois, a forma como ele falou da mãe… não como um executivo arrogante, mas como um filho que carregava um fantasma.Suspirei, fechando os olhos. Era loucura. Absoluta loucura. Ele era frio, distante, parecia odiar a minha presença.Mas havia momentos — fugazes, raros — em que o gelo rachava, e eu conseguia ver o homem por trás da armadura. E nesses instantes… era impossível não me perder.Meus dedos tremeram sobre o tecido do vestido. A lembrança do beijo voltou com força, latejando em mim como uma ferida e um vício ao mesmo tempo. Eu não queria lembrar. Não queria deseja

POV KAEL.O nó da gravata parecia mais apertado do que deveria. Ou talvez fosse o peso da noite que se aproximava.Eu não costumava sentir ansiedade antes de eventos como esse.Festas eram apenas jogos de poder disfarçados em champagne e vestidos caros, mas dessa vez havia algo diferente.Aurora.Passei a semana observando-a se moldar com rapidez assustadora. O jeito como aprendeu a organizar a agenda, a postura firme que agora sustentava, a forma como ouvia cada instrução como se fosse absorvê-la até o último detalhe. Mas era nos pequenos instantes que me desarmava, quando seus olhos se erguiam para os meus, quando o silêncio entre nós queimava mais do que qualquer palavra.Não era para ser assim.Não podia ser assim.Eu queria dizer não. Com todas as forças, para o que estava sentindo, mas era mais complicado do que se imagina. Meu pai entrou no escritório, impecável como sempre, o sorriso frio de quem já esperava a vitória antes da guerra começar.— Espero que esteja pronto. Hoje

POV Aurora.Ele estava próximo demais, os olhos ardiam em uma fúria que eu não compreendia. Não havia explicação, não havia palavras, só aquele silêncio pesado que caía entre nós. Meu coração disparava, e mesmo irritada, sentia meu corpo reagindo à sua proximidade.De repente, ele me puxou de encontro ao peito. O ar ficou ao nosso redor diminuiu, minha respiração se entrelaçou à dele. Seu rosto estava a centímetros do meu, a tensão elétrica nos atravessando como faíscas invisíveis.Por um instante, eu jurei que ele me beijaria. Seus lábios entreabertos próximos aos meus. Meu corpo inteiro se preparou para aquilo. Mas então, como se queimasse ao me tocar, ele me afastou.— Por que está brincando comigo desse jeito? — minha voz saiu falha, mas firme. — Você acha que eu sou algum tipo de brinquedo para usar quando bem entende?— Eu não estou brincando com você, Aurora. — Sua voz saiu falha e rouca. — Então que merda está fazendo, Kael? — Perguntei, aflita por uma resposta.Ele não me r

POV AURORA. As luzes da cidade iam ficando para trás pela janela do carro, borradas como se até elas quisessem se esconder da confusão que tomava conta de mim. Meu peito queimava. O vestido ainda parecia pesar mais que o próprio corpo. As palavras de Vitória ecoavam sem descanso na minha cabeça, cada sílaba como uma lâmina: “A noiva de Kael.” Engoli em seco, mas a fúria veio antes que eu pudesse controlar. Como pude? Como deixei que ele me confundisse, que me olhasse daquele jeito, que me tocasse como se houvesse algo ali… Eu, uma completa idiota, acreditando que ele podia olhar para mim, que não tinha nem onde cair morta, é claro que ele estava jogando comigo. Claro que ele estava brincando, eu era apenas isso, um maldito brinquedo. Quem eu achava que era? Claro! Será que eu estava achando que vestidos caros mudavam a minha realidade? Segurei o choro. Eu sempre seria a órfã, a pobrezinha, a que homens como ele poderia brincar. Ele estava noivo. Fechei os punhos sobre o