MIRELA Os meses passaram voando, como se o tempo soubesse que eu estava contando os dias pra segurar meu filho nos braços. A cada ultrassom, cada chutinho dele dentro de mim, o amor crescia, se espalhava pelo meu peito, pelos olhos, transbordava em lágrimas de emoção. A casa nova já tinha cheiro de lar. O quartinho do Lucas — nosso anjo com nome de herói — estava pronto, azul clarinho nas paredes, móveis de madeira branquinha, ursinhos decorando as prateleiras, roupinhas cuidadosamente dobradas. Toda vez que eu passava pela porta, sentia um aperto no peito.Amor, saudade, medo… tudo junto.Thiago fez de tudo pra me mimar nesses últimos meses. Massagens nos pés, lanchinhos na madrugada, beijos na barriga, juras de amor sussurradas pra mim e pro bebê. Às vezes, ele ficava horas só olhando meu corpo mudar, encantado, como se estivesse vendo um milagre acontecer bem diante dos olhos dele.Eu me sentia bonita, amada, mesmo com o cansaço, as dores nas costas e os inchaços. Ele fazia tudo

THIAGO Nunca pensei que fosse me ver assim: com olheiras fundas, camiseta manchada de leite e segurando um bebê de três quilos e meio que chora como se o mundo estivesse desabando. Mas aqui estou. E por incrível que pareça... eu nunca me senti tão vivo.As noites têm sido longas. O silêncio da casa foi substituído pelos choros do Lucas, pelo som da bombinha de leite e pelos meus próprios suspiros de cansaço. Eu que sempre tive uma rotina regrada, controlada, horários milimetricamente planejados... agora me vejo contando as horas por mamadas e trocas de fralda.E a Mirela...A Mirela é um caso à parte.Nunca vi tamanha força e doçura numa só mulher. Ela se transformou. Ou talvez tenha apenas florescido o que já estava nela, só esperando o momento certo. Ela acorda antes do Lucas chorar. Juro. Como se tivesse uma conexão invisível com ele, como se pressentisse que o filho vai precisar dela. E quando ele chora, ela sabe. Ela sabe exatamente se é fome, se é cólica, se é só manha de quere

THIAGOA vida muda. A gente ouve muito isso, mas só entende de verdade quando ela muda mesmo. E, no nosso caso, mudou pra melhor — mesmo com os desafios.Lucas agora tá muito esperto. E, mano… como pode um bebê ser tão pequeno e ocupar tanto espaço no peito da gente? Eu achava que já tinha entendido o que era amar, mas agora, cada vez que olho pra ele sorrindo desdentado, fazendo careta quando espirra ou soltando um gritinho todo empolgado quando me vê entrar em casa… cara, é tipo tomar um soco de amor no meio do peito. Todo dia.Nossa casa agora é um lar. É o nosso lugar. Tem brinquedinho espalhado pelo chão, fralda que aparece em cima do sofá, cheiro de talquinho no ar e música de ninar no fundo — e sinceramente? Eu não trocaria por nada.Claro que não é tudo perfeito. Eu voltei a trabalhar em meio período pra poder ajudar mais em casa. As noites ainda são puxadas. Acordar, ir trabalhar, voltar e tentar estar presente, mesmo cansado, mesmo com mil coisas pra fazer. Mirela, por outro

THIAGOA gente sobreviveu a muita coisa. A dor, o luto, a perda de referências, a responsabilidade repentina de criar uma vida nova — literalmente. Mas também vivemos amor, descobertas, sorrisos e noites em claro que nos fizeram mais fortes. Mirela e eu nos transformamos juntos. E agora, depois de meses mergulhados nessa nova realidade, eu sentia que era hora de respirar.Não porque faltava amor — pelo contrário. Mas porque até o amor mais sólido precisa de tempo, cuidado e espaço. E a gente merecia isso. Ela merecia isso. Nós dois merecíamos um tempo só nosso.Foi por isso que comecei a planejar.Levei semanas pra organizar tudo sem que ela percebesse. Fingi desinteresse nas datas, desviei assunto sempre que ela falava sobre fazer algo só a dois. Mas por dentro, eu já estava escolhendo a pousada, fechando o pacote com um pôr do sol incluso e aquele café da manhã servido na varanda.Não era luxo. Era intenção. Era sobre estar com ela, longe da louça, da máquina de lavar apitando, das

MIRELA O tempo voa. Parece clichê dizer isso, mas só entende quem vive a experiência de ver um bebê crescer diante dos olhos. Meses se passaram desde aquela viagem mágica que o Thiago planejou. E se eu fechar os olhos agora, ainda consigo ouvir o barulho das ondas e sentir o calor da mão dele entrelaçada na minha. A gente voltou mais leve, mais unidos, mais cúmplices. E isso refletiu no nosso dia a dia, na nossa rotina... principalmente na forma como cuidamos do Lucas.Ah, o Lucas… meu pequeno milagre de olhos curiosos e sorriso fácil. Cada risada dele é como música no meu coração. E é inacreditável como em tão pouco tempo ele mudou tanto. Já tem seus dentinhos da frente aparecendo, aprendeu a balbuciar coisas que só ele entende, mas que a gente aplaude como se fosse discurso. E agora, aos dez meses e meio, ele começou a tentar algo que parecia distante… caminhar.Tudo começou com o clássico: se agarrar nos móveis. Primeiro o sofá, depois a estante, a mesinha de centro. Ele se erguia