Amo estar com Alice. Simplesmente amo. Sim, já cuidei de crianças antes, mas ela é completamente diferente. Primeiro que Alice tinha muita bondade, apesar de ser irrequieta. E depois ela parecia tão sozinha e carente.Eu me perguntava onde estava a mãe dela. Eu não vi nenhum sinal da mulher. Nenhum porta-retratos ou qualquer resquício de que a mãe de Alice já tinha passado por ali. Eu queria perguntar ao meu patrão sobre ela, mas ainda não tinha coragem de falar com Levi.Porque é difícil lidar com ele.Não que ele seja uma pessoa horrível. Muito pelo contrário. Levi costumava jantar conosco, e sempre me convidava para assistir televisão no final do dia. Ele também me deu roupas e eu sabia que a senhora Ingrid havia me matriculado num curso noturno para o próximo trimestre. Senhor Levi me falou que arrumaria uma van para passar pela propriedade e me levar para a escola.Ele era tão bom... tão bom... Me estendeu a mão quando ninguém mais o fez.Por isso era difícil lidar com ele. Eu n

Minha rotina na casa de Levi é, tecnicamente, a mesma que na comunidade. Eu ajudo a manter a casa limpa – apesar do serviço pesado ser realizado por uma senhora quieta que vem três vezes na semana – cozinho e cuido de Alice. A diferença é a intensidade.Aqui as coisas são mais fáceis. Tudo é mais tranquilo e confortável. A cama que durmo é macia e quente, e eu não preciso acordar antes das sete e meia. Eu também posso dormir cedo, já que Alice sempre se deita entre as oito e as nove da noite. E eu tenho muitos momentos de folga em que simplesmente posso me sentar na frente da televisão e descobrir um mundo que eu nem sabia ser possível.— Você já está há mais de um mês aqui — Levi comentou, no final da noite. Depois do jantar, fomos assistir televisão como sempre fazemos todas as noites. Dessa vez, ele me alcançou um cartão de banco, dizendo que meu dinheiro estava depositado lá. — Ainda não saiu de casa. Então, pensei que ir ao banco seria legal. A moça lá vai te ajudar a usar sua co

Não pude resistir a ela. Mesmo sabendo que estava me aproveitando das suas fraquezas, ainda assim, ela me atraia como um inseto a uma lâmpada. A luz que dela emanava me atingiu em cheio, e eu não conseguia mais desviar.Eu fui sugado por Atalia. Uma atração tão forte que não poderia nunca mais escapar.Quando acordei na manhã seguinte, estávamos deitados na pequena cama de solteiro dela. Atalia estava completamente absorvida pelo sono, as cobertas escondendo os traços delicados de suas curvas. A imagem na minha mente de sua camisola arriada até suas coxas me fez ficar duro de novo, e eu precisei de todo meu autocontrole para me desvencilhar de seus braços e me afastar dela.Uma parte de mim estava feliz demais. Me sentia vivo como há muito não sentia. Mas, havia outra que me deixava apavorado. Ela era uma garota, ainda tão jovem... E quando percebesse que tinha um mundo inteiro a desbravar e não precisava ficar presa a um homem doente e a uma criança sem mãe?Volvo meu olhar novamente

Como todas as noites, ele servia o prato de Alice. Nessa noite, fiz lasanha porque ela amava, e Alice pareceu muito interessada em comer a massa com a mão, mesmo o pai lhe dizendo para usar o garfo.— Tata, eu posso? — Alice o ignorou, me encarando, esperando que eu a autorizasse a usar os dedos.Olhei para Levi, envergonhada porque a filha estava tentando tirar a autoridade dele e passar para mim.— Se seu pai deixar... — murmurei, porque não sabia o que dizer.— Bom, acho que não tem problema — ele deu de ombros, e então deu uma garfada.O gemido que escapou dos seus lábios diante do sabor do alimento me lembrou aos sons que ele exalou na noite passada.— Como você cozinha bem, Atalia...— Obrigada, senhor — disse, no automático, esquecendo-me temporariamente de que não devia usar esse pronome.Ele não me repreendeu, mas o olhar que ele me deu queimou mil fagulhas no meu corpo. Ainda assim, comemos em silêncio, até Alice ficar cheia e resvalar da cadeira com seu copinho plástico e i

Alguma coisa aconteceu com Levi. Eu pude perceber no exato momento que ele segurou minhas mãos e depois as soltou, como se houvesse algum tipo de eletricidade que o machucou. Ele ficou tenso, olhava várias vezes ao redor, e por fim disse que iria sair.Eu pensei em acompanhá-lo, mas fiquei. Por dois motivos: primeiro, sabia que ele queria ficar sozinho e, depois, realmente estava interessada no que o sacerdote estava falando.Padre Jonas contou histórias sobre pessoas da sua Igreja. Bênçãos que receberam, casamentos que aconteceriam, e – para minha surpresa - pessoas que estavam com dificuldades e precisavam de ajuda. Nada nos últimos testemunhos trazia culpa ou punição de Deus. Era apenas “no mundo passareis por aflições” e era como se isso simplesmente justificasse tudo.Estava tão surpresa. Mal conseguia acreditar que havia uma fé que não te massacrava dia após dia. Quando a missa terminou, e as pessoas começaram a se afastar, eu percebi Ingrid perto de mim.— Que bom que você veio