Hanna— Vossa alteza. — Minha mãe curvou-se, mas eu não.— O que faz aqui?— Hanna! — Ela repreendeu-me.— Deixe-a, seria estranho se ela tivesse algum respeito.— Hm — resmunguei.Afinal, o que ele estava fazendo aqui?— Nos deixe à sós, por favor — pediu a minha mãe e quase enxerguei outra pessoa, ele estava sendo educado.Não se iluda, Hanna!— Sim, vossa alteza. — Recebi seu abraço em seguida. — Não diga coisas impensadas, filha. Te vejo mais tarde.Acompanhei ela até que sumisse de vista, o que foi quase no mesmo momento, afinal, a lua não era suficiente. Oryan sentou no mesmo lugar onde ela estava.— Sente-se — pediu.— Estou bem em pé.— Não seja teimosa, serva e sente-se!Droga, aquilo não tinha um fim. Sentei no banco, mas bem na beirada, mantendo uma boa distância.— Faz muito tempo que não venho aqui. É um bom lugar para pensar. Por que ele estava falando isso? Não queria saber da vida dele.— Sobre o que aconteceu hoje. Evite criar problemas.— O que? — Encarei-o incrédul

OryanA solidão não era estranha, mesmo que sempre estivesse dentro de um castelo cheio ou no meio de um exército, havia sempre uma parte de mim vazia. E já fazia bastante tempo que era assim.Lucyan costumava dizer que eu precisava de alguém ao meu lado, alguém para dividir não só a cama, mas também meus planos, incertezas ou qualquer outro sentimento. Éramos jovens e teríamos muitos séculos de vida, era muito tempo para estar sozinho.Pela janela era possível ver os tons de rosa e lilás, estava prestes a amanhecer. Foi uma noite cheia e tinha sede, acho que me perdi nas horas dentro desse gabinete.Peguei meu cálice, mas já estava vazio. Se aquela serva estivesse aqui, estaria cheio. Ela o enchia com satisfação na esperança que eu ficasse bêbado, o que realmente era impossível. Os vampiros não ficam bêbados.— Tola.Sorri ao lembrar. Já não estranhava meus pequenos sorrisos, tinha se tornado comum. Olhei novamente para fora, mas não demorei, alguém bateu na porta.— Com licença, vo

HannaMinha pele ardia e minhas mãos estavam machucadas. O sol forte castigou minha pele que há muitos dias era exposta apenas à noite. Até os calos das minhas mãos já tinham suavizado. Apesar disso, passar esses dias no campo estava me fazendo bem.Depois daquele dia, o príncipe me deu alguns dias de folga, ele não determinou o tempo, mas não importa, se fosse só um dia já ficaria feliz. Achei sua atitude nobre, ele demonstrou alguma preocupação, até mesmo naquela luta sem sentido, onde ele me levou a exaustão de propósito. Apesar de ter ficado com o corpo dolorido, agradeci, pois me senti melhor depois daquilo.— Hanna, essa será a última remessa de hoje.— Tá bom, pai. — Apressei-me em puxar ramas de batatas da terra.Ainda tinha mais da metade do cesto para encher e o sol estava perto de se pôr. Essa hora eu costumava estar acordando para mais uma noite naquele castelo. Pensando nisso… Como será que o príncipe está? Não que eu me preocupasse, claro, mas havia coisas que só eu

HannaOryan puxou as rédeas do cavalo. O animal se agitou e levantou as patas dianteiras antes de correr. Não tive tempo de protestar, precisei segurar em sua cintura com firmeza.Foi de propósito, só podia ter sido. Esse bastardo! Ele estava se divertindo mais uma vez às minhas custas.Aumentei o aperto em sua cintura pois a velocidade daquele cavalo apenas aumentou. Aquilo não podia ser real, um cavalo não podia correr tanto assim. Oryan era louco.Mal pude ver o caminho que ele estava percorrendo, mas ainda identifiquei o castelo no alto, o sol se escondia atrás dele. A muralha parecia maior e agradeci por estar chegando. Pelo menos ele iria parar esse cavalo.Apoiei a testa em suas costas e respirei fundo tentando me acalmar, no entanto, me arrependi de tal ato. A capa grossa tinha o seu cheiro.Não havia cheiro de terra ou suor como nas minhas roupas, era agradável, marcante e aquilo me fez perceber que senti falta. Eu sabia que teria que voltar, mas durante esse tempo que esti

HannaJá tinha esquecido da minha função. Que era ficar em pé. Parecia que eu não tinha utilidade nenhuma além dessa. Passei quase um mês fora e quando voltei, a única coisa que me restava era ficar em pé como uma árvore. Pelo menos não era apenas eu, havia outros servos, mas eles estavam do outro lado do salão e eu, sozinha.Oryan, o rei e a rainha estavam no centro, junto a uma grande mesa redonda. Em cima, havia papéis e peças pequenas, parecia um jogo, mas eles estavam discutindo sobre algo importante. Não sabia ao certo, mas parecia um problema no reino próximo. O reino Morvain. Infelizmente, não era possível ouvir nada com clareza. E era nessas horas que desejava ter uma audição como a deles.Suspirei, mas me arrependi, pois a rainha Astrid notou, ela deixou os dois e veio até mim. Sua expressão era leve, como na maioria das vezes que a via, nem parecia que estava diante de um problema. Muito diferente do rei Lucyan que parecia tenso, já Oryan, não sabia dizer. Eu nunca sabia