Mãe do Chris.No outro dia.Desliguei o chuveiro e deixei a água quente cessar como um suspiro. Enrolei uma toalha felpuda ao corpo, senti o vapor ainda pairando no espelho e, por um instante, o mundo reduzido ao cheiro de sabonete e ao calor da toalha contra a pele. Caminhei até o closet com passos retos e programados — cada gesto era ensaiado como se preparasse um personagem para subir ao palco. Escolhi um conjunto de lingerie de renda roxa; a cor me pareceu apropriada: aos poucos, mais viva do que eu me sentia por dentro. Vesti em seguida um vestido preto de tecido encorpado que obedecia às minhas curvas sem esforço, um couro frio que disfarçava as feridas antigas.Soltei o coque que fizera para não molhar e deixei os fios caírem, arrumei-os com as pontas dos dedos. Diante da penteadeira, soprei uma camada de pó, passei um gloss de cereja — um gesto de vaidade e de defesa — e confirmei no espelho a fisionomia cuidadosamente montada: olhos atentos, lábios firmes, a máscara pronta. S

Mãe do Christopher - continuação. David caminhou até mim como um leão prestes a estrangular a presa, inclinando o rosto até ficar a milímetros do meu.O hálito dele cheirava a madeira e whisky; sua fúria era a geada sobre minha pele.— Quem vai me impedir de fazer algo, você? Uma puta velha que dá para todo tipo de homem que aparece na sua frente. Não me faça rir de sua ingenuidade, Mary, recolha-se à sua insignificância e não torture minha paciência.Empurrou-me; por um instante desequilibrei-me nos saltos. O calor de mortificação subiu-me pela garganta.— Você vai se arrepender de me tratar assim.Tomada por um impulso que veio das profundezas das humilhações acumuladas, bati e gritei. Ele reagiu com violência: as mãos foram ao meu pescoço e a pressão cortou o ar. O pavor se misturou a uma decisão brusca, feita de décadas de desassossego.— Eu estou a um passo de te fazer sumir da minha vida para sempre, Mary. Só me dê mais um motivo para te matar e te fazer calar a porra dessa boc

Âmbar.A vida é uma caixinha de surpresas. Tudo o que você faz, seja bom ou ruim, uma hora volta para você. O destino se encarrega de que isso aconteça.Tem pessoas que amam humilhar e menosprezar os outros, mas, quando chega a hora de pagar a conta de seus erros, tentam se redimir para que o preço a pagar não seja tão alto.É isso o que está acontecendo aqui na minha frente nesse momento. Algo se desenrola diante dos meus olhos, a que custo acreditar que seja real.— Eu preciso de sua ajuda, Âmbar — minha irmã fala pela terceira vez e eu até agora não lhe respondi nada.— Acho que não ouvi direito, Aysha. Provavelmente isso é uma realidade paralela na qual estou vivendo e não está realmente acontecendo.— É a verdade, irmã. Eu não sei mais a quem recorrer. Ela leva a mão até a parte de trás das costas e solta algo. Uma barriga de grávida de poucos meses surge e eu arregalo os olhos sem reação.— Eu estou esperando um filho do Kevin, mas ele fugiu para não ser preso e me deixou para t

Âmbar— Você está feliz — comentou Christopher ao entrarmos no carro.— Estou. Foi bom revê-los. — Olhei para fora da janela, mirando a escola.— Eles gostam muito de você e estão felizes por vê-la bem. Por ver que conseguiu realizar seus sonhos.— Também gosto muito deles e foram pessoas maravilhosas comigo e me protegeram como puderam. Agora vamos ver seu tio e prima.Olhamos para Ruth, que dormia no banco de trás do carro, e me inclinei para beijá-lo. Foi um beijo terno e cheio de amor. Nós nos amávamos para além dessa vida.Seguimos caminho até a casa do tio dele e, assim que paramos, senti Christopher ficar tenso.— Será que ele ainda me ama como antes?— Claro que sim. Ele nunca deixaria de te amar.— Eu o abandonei depois que saí daqui. Nem suas ligações eu atendia — lamentou. Podia sentir a tristeza em sua voz.— Ele vai entender, meu amor. — Tentei ser positiva. — Ele sabe o quanto você sofreu quando eu fui embora sem me explicar.— Ele me apoiou tanto e eu não me ative a iss

Âmbar.Depois do nosso momento de declaração de amor, voltamos para a sala e levamos nossa filha para o jardim da casa de seu tio para vermos o céu estrelado. Forramos um lençol na grama e ficamos lá admirando o céu e toda a beleza do universo sobre nossas cabeças. Ruth estava encantada e falava sem parar, arrancando risadas de James e Hillary.Foram horas perfeitas e só entramos quando não podíamos mais brigar com o sono e o cansaço.Nossa filha dormiu no quarto de Hillary, que dormiu no quarto de Kevin. Eu dormi com Christopher em seu antigo quarto e, no outro dia, depois do café da manhã, fomos para nosso hotel. Seu tio e prima queriam que ficássemos lá e passássemos a noite, mas preferimos ir para nosso hotel. Lá teria mais espaço para Ruth e mais conforto para nós três.Depois de almoçarmos no restaurante do hotel, fomos visitar o parque que fica próximo a ele, ao qual eu fui pela primeira vez com Christopher e demos nosso primeiro beijo. Entrar no hotel onde vivemos por quase do