POV: Ayra Seguimos pela floresta em um silêncio que não era exatamente confortável, mas também não era hostil. Os galhos rangiam acima de nós, o farfalhar das folhas denunciava pequenos animais se movendo à noite. A cada passo, o som dos tambores na vila se tornava mais distante, substituído pelo canto suave dos grilos. Aruk caminhava à frente, atento, os olhos percorrendo o chão e as árvores como se lesse sinais invisíveis para mim. Eu tentava imitar sua atenção, mas era difícil ignorar o peso da presença dele. Mesmo quando não me olhava, eu sentia como se estivesse sob constante vigilância. De repente, ele ergueu a mão, indicando que eu parasse. — O que foi? perguntei, tentando enxergar. Ele não respondeu de imediato. Aproximou-se de um arbusto baixo e afastou alguns galhos com cuidado. Lá estava: o cervo branco. A pelagem dele refletia a luz da Lua, e os olhos, de um dourado vivo, nos observavam com uma calma quase humana. — Não faça barulho. A voz dele soou mais baixa, qu

POV: Ayra A música continuava, mas, aos poucos, a energia da praça começou a diminuir. Crianças adormeciam no colo dos pais, algumas barracas já eram desmontadas, e a fogueira central queimava em chamas mais baixas, lançando sombras que dançavam nas paredes das casas. Kiara tinha desaparecido entre as pessoas, provavelmente atrás de algum flerte que ela se recusava a me contar. Eu me afastei um pouco da multidão, procurando um canto mais silencioso. A beira da praça, onde as tochas eram mais espaçadas, parecia perfeita para respirar um pouco. Foi então que senti a presença dele atrás de mim. — Vai embora sem se despedir? A voz grave de Aruk quebrou o silêncio, tão próxima que quase senti o calor dela na minha nuca. Virei-me devagar. — Não achei que fosse necessário. Ele deu um passo para frente, diminuindo a distância entre nós. A luz da fogueira refletia em seus olhos, deixando-os ainda mais intensos. — Achei que, depois desta noite, teria algo a dizer. Cruzei os

POV: Ayra Passamos quase a manhã inteira no parque, quando o Sol começou a desaparecer no horizonte, comecei a juntar às coisas. Lucian adormeceu nos braços do Alfa. — Eu tenho a sensação que você está escondendo alguma coisa, Ay. Os olhos cinzentos de Aruk me encararam como se pudesse ler meus pensamentos mais profundos. — E o que eu teria para esconder? Perguntei, sem encará-lo diretamente. O homem deu de ombros, me ajudando a carregar a cesta de piquenique com a mão livre enquanto a outra segurava o corpo adormecido do meu filho. — Eu não sei, me diga você. — Eu só estou um pouco pensativa, só isso. Suspirei, caminhando ao seu lado em direção a minha casa. — Pensando em quê? os olhos do Alfa miravam o caminho à nossa frente, como se estivesse tentando entender algo. Mordi meu lábio inferior, antes de falar: — Kael, ele está no vilarejo. O homem parou de andar e me encarou sério, seu cheiro ficou mais forte e eu tive que me forçar a me manter de pé. — A

POV: KaelA imagem de Lucian, o filho de Ayra, não saía da minha cabeça. Um filho. E eu, o seu companheiro destinado, não sabia de nada. A raiva borbulhava em mim, misturada com uma pontada de algo que eu não ousava nomear ainda. Se Aruk não era o pai biológico, quem era? Aquela pergunta ecoava em minha mente, me consumindo.Precisava saber. Precisava ter certeza.Dirigi de volta para a cidade, o coração pesado com as novas informações. O vilarejo onde Ayra vivia era pequeno e isolado, mas a informação se espalhava rápido. Minha rede de contatos era eficiente, e eu sabia que logo teria respostas sobre a paternidade de Lucian.Enquanto dirigia, lembrei-me do dia em que conheci Ayra. A conexão instantânea, a força do meu lobo ao reconhecê-lá, às noites de amor. E depois, a rejeição. Um erro que eu lamentava todos os dias. Eu fui um tolo, um alfa arrogante que não soube valorizar o que a Lua me deu. Agora, Ayra estava aqui, com um filho, ao lado de outro alfa que não era eu, e eu estava

POV: Kael Duas semanas. Cada dia era um lembrete amargo da minha tolice. Rejeitar Ayra, a mãe do meu filho, que eu nem sabia que tinha, foi o maior erro da minha existência. A imagem dela, com os olhos marejados e o corpo tenso de dor, me assombrava em cada amanhecer e em cada pôr do sol. Eu estava longe do meu vilarejo, vivendo como um exilado autoimposto, e a alcatéia das sombras, com seus próprios desafios, não era meu campo de ação. Aruk, com sua força tranquila e seu posto de Alfa, era quem guiava essa matilha. Minha vida se resumia a uma rotina solitária de caça e reflexão. Eu não podia simplesmente aparecer e esperar que Ayra me recebesse de braços abertos. A confiança que eu quebrei era um muro intransponível, e eu precisava encontrar uma forma de começar a derrubá-lo, tijolo por tijolo. Decidi que, mesmo à distância, eu poderia demonstrar meu arrependimento. Comecei a enviar suprimentos para Ayra e Lucian. Não diretamente, claro. Encontrava maneiras de deixar na porta da