Harper WardEstava nervosa. Nervosa de um jeito que não fazia sentido, e ainda mais irritada por admitir isso até mesmo para mim. Nunca tinha dormido com Chase antes. Não voluntariamente, pelo menos. Claro, ele já tinha pegado no sono em minha cama algumas vezes, exausto, ou desmaiado por algumas horas de paz em meio ao caos. Mas isso não era nada. Agora… agora eu teria que lidar com ele. O maldito tentador. O homem que parecia ter nascido para destruir cada fronteira que eu tentava levantar.E, como uma tola que acreditava poder me conter, montava minhas barreiras. E foi ao me ver cercada por montanhas de travesseiros, como uma idiota convicta de que penas antialérgicas seriam capazes de impedir um homem como Chase Harrison, que percebi quão patética estava sendo. Não que tivesse uma ideia melhor. Queria acreditar que aquela barreira resolveria, mas porra, no fundo, sabia que não ia. Eu estava prestes a dividir a mesma cama, a mesma noite, com a maior maldição da minha vida.E droga,

Harper WardNão era nenhum pouco justo como o infeliz sabia exatamente o que dizer, no momento perfeito e mais vulnerável para mim. Não bastasse estar ciente de que o tinha a meu lado na cama por toda a infernal noite, por que a tortura precisava ser completa, com sonhos eróticos para ser mais clara. Imagens de como Chase se enfiava em mim, só para acordar e descobrir que eram reais, ou, estavam prestes a acontecer. Droga, eu o senti no momento em que retirou os travesseiros, mas convenci a mim mesma de que seriam só mais dois minutos, e então o pararia, sem me afetar, mas tendo o bastante para matar a saudade.Preciso dizer que foi uma péssima ideia! Estupida! Estava tão fodida. No sentido mais literal da palavra. Nervosa, tremendo por dentro, sem conseguir pensar em nada além do corpo dele colado nas minhas costas, enquanto a pia gelada mal compensava o calor que Chase irradiava atrás de mim.Droga, a experiência pareceu mais erótica quando não podia toca-lo. Não de verdade. Cochi

Chase HarrisonO som seco da porta sendo empurrada para dentro da sala me tirou por um instante do ritmo da caneta deslizando sobre papéis. Tyler entrou sem pedir, como sempre fazia quando algo estava entalado na garganta. Não me incomodei. O homem sempre parecia mais ansioso do que deveria, e nunca era boa ideia quando estava agitado. Mas dessa vez eu não estragaria meu humor. Nada estragaria, porra.Enquanto pudesse ainda podia sentir o gosto da infeliz na ponta da língua.Porra, como aquilo me tirava do prumo e me devolvia, ao mesmo tempo. Cada lembrança fresca, escorrendo como se tivesse acabado de acontecer. Então apenas ergui a caneta, pausando a assinatura, e com um gesto seco apontei para a poltrona diante da mesa.Ele entendeu. Sentou-se, ajeitando-se como quem estava prestes a jogar uma bomba no meu colo.— Você precisa iniciar as campanhas. — Tyler foi direto, sem circundar.Não ergui os olhos, ainda folheando. — Já estamos fazendo isso.— Não assim. — Ele inclinou-se para

Harper WardDecepção.Foi o que senti ao esperar uma, duas, três horas seguidas, tendo nada mais que a possível promessa de um jantar.Thomas Whitmore pareceu bastante constrangido com a demora do meu marido em chegar em casa. Estávamos esperando havia quase uma hora, sentados à mesa como uma família perfeita, e ficou claro para mim que ele não viria. Convenci-me disso ao finalmente desistir de esperar.— Vamos comer — avisei, ciente de que as crianças já pareciam famintas.Thomas parecia perceber meus sentimentos. A decepção. Claro que ele notaria.O jantar começou de maneira quase automática. Eu me forcei a colocar batatas e frango no prato das crianças, como se o gesto mecânico fosse suficiente para sustentar a ilusão de normalidade. Mas não era. A cada garfada, o silêncio pesava mais do que o som dos talheres arrastando-se na porcelana.Grace foi a primeira a destoar. Notei o modo como mexia o garfo, empurrando a comida de um lado a outro, sem de fato comer. Seus olhos, sempre viv

Chase HarrisonAinda estava trancado no maldito escritório, como se a noite inteira tivesse sido feita para me prender ali. A gravata jogada de lado, o paletó esquecido na poltrona, e eu sentado diante da mesa larga, com Marie de Bouvier à minha frente.Sessenta anos de idade, mas carregava uma elegância que poucas mulheres mais jovens conseguiam sustentar. O tom entre nós era leve, quase paquerador, mas não havia desejo. Nunca houve. O que tínhamos era intimidade. Um tipo de cumplicidade que me permitia ser mais humano, menos governador, menos Harrison.— Quero ver as joias — disse, rompendo o silêncio.Ela arqueou a sobrancelha, um sorriso malicioso surgindo nos lábios pintados. — Se eu soubesse que o governador Harrison era tão generoso com a esposa desse jeito, teria casado a minha filha com você.Sorri. Não aquele sorriso frio que costumo dar em público. Foi terno. Foi apaixonado. E por um instante, senti o peso do que estava fazendo — Harper ia ter tudo o que eu pudesse comprar.