DianaA água quente escorria pelo meu corpo, mas nada conseguia apagar o turbilhão que tava dentro de mim. Fechei os olhos, encostei a testa na parede fria do box e soltei o ar, tentando entender desde quando eu tinha começado a sentir alguma coisa por ele. Algum sentimento real. Não era só atração, não era só tesão... Era pior. Era mais fundo. Era perigoso.Eu não queria admitir, mas a verdade tava ali, gritando na minha cara: eu tava me envolvendo com o Ethan. E isso me dava raiva. Raiva dele, por ser assim, por fazer tudo parecer fácil. E raiva de mim, por ter deixado isso acontecer.Saí do banho decidida. Eu não ia trabalhar hoje. Não queria ver ele. Não queria nem passar perto da maldita sala dele. Eu precisava de distância, de ar. Precisava voltar pra mim.Abri o armário, joguei algumas roupas na mochila e pedi um carro. Para onde iria? Minha cidadezinha do interior, onde minha mãe morava. Talvez, com sorte, só o cheiro da comida dela já me fizesse lembrar de quem eu era antes d

DianaEu precisava daquilo. Da paz. Da comida da minha mãe. Dos cafunés no sofá enquanto a gente assistia novela velha e reclamava dos mesmos comerciais. Os últimos quatro dias tinham sido um abraço apertado no meu coração cansado. Acordar com cheiro de pão quentinho, andar de chinelo pela casa sem maquiagem, sem pressão, sem ninguém me chamando de "senhorita Muniz" com aquele tom frio e autoritário.Ali, eu não era a secretária impecável do CEO impossível. Eu era só a Diana. A filha que a mãe ama mimar. A vizinha que conversa com o padeiro enquanto compra pão doce.Naquela casa, o tempo passava mais devagar. As noites eram silenciosas, o travesseiro não era molhado com dúvida e tensão. E por mais que eu estivesse fugindo — e eu sabia que estava —, aquela fuga era meu único respiro. Um pedacinho de mundo onde o Ethan não existia. Ou, pelo menos, eu fingia que não existia.Só que, mesmo cercada de tudo que me fazia bem, ele ainda aparecia. Na memória. No cheiro do meu travesseiro. Nos

DianaA colher tremia na minha mão. E não era por causa do calor ou do estrogonofe fumegando no prato. Era por causa do homem sentado do meu lado, comendo calmamente, como se não tivesse invadido minha cidade, minha casa e agora minha janta.Ethan Alencar. Milionário, CEO... e um completo sem noção.Do outro lado da mesa, minha mãe parecia no paraíso. Sorriso largo, olho brilhando. Claramente apaixonada pela ideia de um genro engravatado.Ela deu mais uma garfada e falou com a maior naturalidade do mundo:— Então, minha filha... vocês namoram há muito tempo?Quase engasguei.— O quê?Olhei pra ela com a boca meio aberta, depois pro Ethan, que nem piscou. O danado ainda limpou a boca com o guardanapo, todo educado.— Não, senhora — ele respondeu, calmo, como se não estivesse acabando com a minha vida. — Não tem muito tempo.— E já tão brigando desse jeito? — ela retrucou, franzindo a testa. — Desse jeito vai ser difícil criar os filhos...Silêncio.Ethan parou no meio da mastigação. En

DianaTerminei de fechar a mala com um suspiro. Eu nunca gostei de despedidas, e por mais que minha mãe me deixasse maluca às vezes, o coração apertava com a ideia de ir embora. Encontrei ela na cozinha, enxugando as mãos num pano de prato como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.— Mãe... — chamei, minha voz já embargando.Ela largou o pano na hora e me puxou pra um abraço apertado. Aquele tipo de abraço que cura tudo. — Já vai me deixar de novo? — perguntou, tentando manter a voz firme. — Eu vou sentir tanto a sua falta, minha menina.— Eu também, mãe... muito. — Apertei mais forte. — Mas eu prometo que a gente vai se ver logo. Você vem me visitar, tá? E dessa vez eu quero você ficando mais que só um final de semana.Ela sorriu com os olhos marejados. — Se esse homem aí cuidar direitinho de você, quem sabe eu fico até um mês.— Ele cuida. — Respondi, olhando por cima do ombro, onde Ethan já nos esperava, escorado no carro com os braços cruzados e aquela cara de homem qu

EthanEra quarta-feira, início da tarde, e eu tava preso naquela sala de vidro com ar-condicionado gelado e mil relatórios abertos na tela. Mas o que me distraía não eram os números. Era ela. Diana. Como sempre.Do meu canto, através do vidro fosco da parede, vi ela rindo com algumas colegas. Estavam empolgadas, falando do tal acampamento da empresa. Eu não precisava ouvir pra saber que ela tava reclamando da estrutura. Diana sempre foi exigente com conforto – e com razão.Meu olhar ficou preso nela mais do que devia. Na curva do sorriso, no jeito como ela ajeitava o cabelo. E aí me bateu um pensamento seco, direto, quase desesperado:"Não posso ficar um fim de semana inteiro longe dela."Levantei da cadeira como se tivesse levado um choque. Cruzei a sala em dois passos e disquei direto pro RH:— Alô, sou eu. Quero que mudem o local do acampamento da equipe para o acampamento premium da mesma região. A infraestrutura precisa ser de primeira. Tenda climatizada, chuveiro quente, cama de